O plano é ajudar startups que vão consolidar o mercado, diz Paulo Passoni

Investidor que acaba de se juntar ao Valor Capital vai atuar na gestão das empresas do portfólio de growth equity, segundo contou à Bloomberg Línea

Investidor vai atuar na gestão das empresas do portfólio de growth equity do VC americano
22 de Agosto, 2023 | 04:50 AM

Bloomberg Línea — Paulo Passoni, ex-managing partner do fundo do SoftBank para a América Latina, se juntou ao Valor Capital Group na mesma posição há duas semanas.

Depois de deixar o grupo japonês que ajudou a moldar o ambiente de investimento de risco na região no ano passado, Passoni cumpriu uma quarentena - garden leave - que venceu em abril deste ano.

Agora, como sócio do Valor Capital, ele focará na gestão dos fundos de growth equity.

“O mercado está voltando”, disse Passoni em entrevista à Bloomberg Línea. “É natural que algumas empresas adquiram outras. Isso vai acontecer. Nosso papel dentro das empresas do portfólio da Valor é ajudá-las para que sejam as que vão adquirir, além de fornecer capital.”

PUBLICIDADE

O investidor faz referência ao cenário de consolidação em certos segmentos, em que uma empresa do portfólio faz a aquisição de uma concorrente. O Valor ajuda a estruturar a transação e pode fazer um aumento de capital para viabilizar o acordo.

“É esse trabalho de todos de olhar para o portfólio e tentar encontrar soluções de capital. A oportunidade tem que ser muito boa, porque claramente a empresa tem que ser diluída [em um aumento de capital] para fazer uma aquisição”, afirmou.

Nos planos anteriores de Passoni, ele se juntaria como sócio da Bicycle Capital com seus ex-colegas de SoftBank Marcelo Claure e Shu Nyatta, mas o acordo acabou não sendo concretizado.

PUBLICIDADE

Em um período marcado pela limitação de IPOs (ofertas públicas iniciais) de empresas de tecnologia em bolsas e pela queda dos investimentos em venture capital no ambiente de juros mais altos, o Valor Capital Group garantiu liquidez para os seus investidores quando vendeu parte de seu Fundo II para a empresa americana de private equity StepStone em negócio anunciado em agosto de 2022.

Nessa transação, chamada no mercado de general partner led strip sale, o Valor transferiu 25% de suas ações e títulos do Fundo II para a StepStone e devolveu quase US$ 80 milhões a investidores. A empresa recebeu ainda cerca de US$ 15 milhões da StepStone para ser investido em seu novo fundo.

Com os fundos investidos, grande parte do trabalho do Valor “é cuidar do portfólio existente”, conforme disse Michael Nicklas, managing partner do Valor Capital, à Bloomberg Línea em maio no Web Summit Rio.

O Valor está no mercado desde 2013, quando captou seu primeiro fundo - e para o qual já retornou pouco menos de quatro vezes o capital investido, de acordo com Nicklas.

Segundo ele, o Valor ajuda as startups do portfólio a estarem prontas para um evento de liquidez, seja um IPO ou um M&A (fusões e aquisições). No primeiro semestre, a gestora incentivou que fundadores do portfólio fossem a Nova York em eventos de bancos para possíveis negociações.

Hoje são mais de 100 empresas investidas em seis fundos e US$ 1,5 bilhão de ativos sob gestão com escritórios em Nova York, São Paulo, Rio de Janeiro, Cidade do México e Vale do Silício.

O fundo norte-americano tem como foco investimentos na América Latina, mas cerca de 25% dos aportes são direcionados a empresas globais nas quais o Valor investe “levando-as para a América Latina e ajudando a penetrar nesse mercado”, segundo Nicklas.

PUBLICIDADE

“Todo o valuation em relação ao que era há dois anos atrás já não existe mais”, disse Nicklas, explicando que o Valor Capital faz anualmente uma marcação atualizada no valor das empresas. Segundo ele, há empresas do portfólio que crescem para atingir o valuation da última rodada.

O fundo tem capital disponível para investir, mas tem sido mais seletivo, segundo Nickas. Ele disse que empresas que captaram o que descreveu como uma “rodada suicida” há dois anos terão um momento mais difícil para levantar recursos neste ano.

Passoni disse que vê possibilidade para duas empresas do portfólio abrirem capital ainda em 2023, sem mencionar quais seriam. “Mas ainda há questões, como se elas vão querer esperar um pouco mais, com valores um pouco maiores.”

O Valor Capital tem startups como Cloudwalk, Incognia, Solfácil, Gupy, Buser, Loft, Kovi e Frete.com (ex-CargoX) entre suas investidas.

PUBLICIDADE

Passoni disse acreditar que o mercado vai continuar a ter um aumento progressivo de IPOs, mas ressaltou que as empresas precisam estar prontas e ter lucro líquido. “Não vai adiantar só crescimento de mercado.”

Quando estavam no SoftBank, Passoni, Claure e Nyatta foram responsáveis por investir quantias sem precedentes de venture capital na América Latina, o que impulsionou uma série de startups da região ao status de unicórnio - as que atingem avaliação igual ou acima de US$ 1 bilhão.

Agora, Claure e Nyatta são sócios da nova empresa de venture capital Bicycle Capital. E vão seguir uma nova estratégia. Em entrevista recente à Bloomberg Línea, Nyatta disse que o fundo pretende suprir o que apontou como falta de capital para empresas relativamente maduras que precisam de recursos para crescer (o chamado growth capital), mas que não está interessado em “caçar unicórnios”.

Para Passoni, não há concorrência com o SoftBank, que é justamente um dos Limited Partners (investidores) do Valor Capital. “Acho que a filosofia é muito mais de colaboração para todo mundo.”

PUBLICIDADE

O Valor Latitude, assim como o SPAC do SoftBank e o da Kaszek e do Mercado Livre, desistiu da listagem na Nasdaq. “Não faz sentido ter um SPAC neste momento.”

Leia também

PUBLICIDADE

SoftBank vai investir em startups na América Latina que já estão na carteira

Por que o Brasil pode funcionar como base para a Shein, segundo Marcelo Claure

Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups