Novo limite ao home office? Deutsche Bank proíbe emendar sextas e segundas em casa

Banco alemão diz que pretende ‘espalhar nossa presença no escritório de forma mais equilibrada ao longo da semana’, em vez de concentrar apenas de terças a quintas

Prédio comercial disponível em São Francisco: mercado nos EUA ainda enfrenta desafio de ocupação (Foto: Jason Henry/Bloomberg)
Por Matthew Boyle
16 de Fevereiro, 2024 | 10:07 AM

Bloomberg — A decisão do Deutsche Bank de proibir seus funcionários de trabalharem em casa às sexta-feiras com emenda na segunda-feira - uma prática comum em empresas que adotam o trabalho presencial três dias por semana -, estabelece uma nova referência na disputa em curso sobre os limites do home office.

O gigante bancário alemão afirmou que a medida tem como objetivo “espalhar nossa presença de forma mais equilibrada ao longo da semana”, disseram o CEO do Deutsche Bank, Christian Sewing, e a COO Rebecca Short em um memorando.

A partir de junho, a empresa também exigirá que seus managing directors (MDs) compareçam ao escritório pelo menos quatro dias por semana, enquanto todos os outros funcionários precisam ir três dias. Um porta-voz do banco afirmou que a medida “garantirá consistência em toda a empresa”.

A proibição de trabalho em casa de sexta-feira a segunda-feira é muito rara e ilustra a crescente frustração de empresas que pagam milhões por imóveis comerciais que frequentemente esvaziam perto do fim de semana.

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Muitas empresas com planos de trabalho híbrido permitem que os funcionários ou equipes escolham os dias em que vão trabalhar. Entre aquelas que exigem presença em determinados dias da semana, normalmente são escolhidas as terças, quartas e quintas-feiras pelos trabalhadores.

Segundo um índice que avalia os acordos de trabalho de mais de 5.800 empresas administrado pela Scoop Technologies, apenas 6% das empresas nos Estados Unidos que designam dias específicos para que os funcionários compareçam ao escritório escolhem a sexta-feira como um desses dias.

“Eu realmente nunca ouvi falar de uma empresa estabelecendo essa regra específica”, disse Rob Sadow, co-fundador e CEO da Scoop, sobre a nova prática do Deutsche Bank. “Os executivos querem equilibrar a flexibilidade que os funcionários desejam, reunindo as pessoas presencialmente e gerando economia imobiliária devido à redução do uso do escritório.”

O desejo do Deutsche Bank em encontrar esse equilíbrio ocorre em meio a uma reorganização contínua no mercado imobiliário comercial dos Estados Unidos, avaliado em US$ 20 trilhões, devido em grande parte à resiliência do trabalho remoto no pós-pandemia.

De acordo com a Jones Lang LaSalle, a taxa de vacância de escritórios nos Estados Unidos aumentou para 21,4% no último trimestre e quase um terço de todo o espaço de escritório está vazio em São Francisco.

Em Nova York, os proprietários de imóveis reduziram o valor dos aluguéis de escritórios no último trimestre “na esperança de estimular o aumento de atividades de visita e locação”, disse a JLL.

A crise é mundial: o McKinsey Global Institute estima que as mudanças causadas pela pandemia possam eliminar até US$ 1,3 trilhão do valor imobiliário nas grandes cidades ao redor do mundo até 2030.

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O memorando do Deutsche Bank observou que o uso atual de imóveis da empresa é “ineficiente”, uma preocupação comum entre as empresas com planos de trabalho híbrido.

Dados de acesso da empresa de segurança Kastle Systems mostram que os escritórios em Nova York estavam cerca de um quarto - ou seja, 25% - ocupados às sextas-feiras nas últimas semanas, em comparação com os níveis de presença pré-pandemia, e estavam mais de 60% ocupados no meio da semana.

A presença na segunda-feira normalmente fica em algum lugar entre essa faixa. A empresa fornecedora de software de gerenciamento de ambientes de trabalho Eptura, que rastreia o agendamento de mesas e salas de reuniões, chama esse fenômeno de “montanha do meio da semana.”

Taxas de ocupação de escritórios são mais altas durante os dias do meio da semana útil em dez cidades americanas

Como resultado, às vezes os funcionários nem conseguem encontrar um lugar para se sentar quando vão ao escritório, especialmente se a empresa não tem mais mesas designadas, de acordo com Andy Cohen, co-CEO da empresa de arquitetura e design Gensler.

Em outros dias, o CEO e outros líderes seniores podem ser os únicos presentes.

A situação ficou tão ruim que algumas empresas estão colocando som ambiente de modo artificial para que os escritórios pareçam mais cheios, segundo Alex Birch, co-fundador e CEO da XY Sense, uma empresa australiana especializada em sensores de ambientes de trabalho.

Medida pode ampliar ‘turnover’

“O Deutsche Bank está tentando espalhar o pico um pouco para as sextas e as segundas-feiras”, disse Sadow. “Uma das piores coisas é ir ao escritório e estar sozinho. Os executivos querem que as pessoas estejam presentes.”

No entanto forçar os funcionários a romperem com seus padrões de trabalho e vida pode ter um efeito contraproducente, disseram especialistas em ambientes de trabalho, resultando em menor engajamento e taxas de retenção.

“Resolver um problema de utilização do imóvel com mandatos sobre quando comparecer ao escritório pode dobrar a rotatividade potencial, o chamado turnover”, afirmou Debbie Lovich, diretora executiva do Boston Consulting Group e responsável pela estratégia de pessoas da empresa.

O mercado de trabalho continua apertado, apesar de várias ondas de demissões, e estudos mostram que os trabalhadores insatisfeitos com as políticas (pouco) flexíveis de jornada de seus empregadores têm muito mais probabilidade de procurar uma nova companhia.

Nicholas Bloom, professor de economia da Universidade Stanford que acompanha tendências de trabalho remoto e é amplamente procurado por organizações em busca de insights sobre trabalho flexível, afirmou que trabalhar remotamente às sextas-feiras se tornou a norma: “Não tente fazer com que as pessoas compareçam ao escritório às sextas-feiras.”

- Com a colaboração de Charlotte Hampton.

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