Nearshoring pode gerar US$ 78 bi a mais em exportações na América Latina

Movimento de realocação de cadeias produtivas para perto de mercados consumidores beneficia países da região, mas o Brasil não será o país mais beneficiado

Estratégia permitiu que México superasse a China como o maior exportador para os EUA (Foto: Qilai Shen/Bloomberg)
03 de Setembro, 2023 | 03:47 PM

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Bloomberg Línea — O investimento em nearshoring, uma estratégia industrial que envolve a realocação de fábricas e produção para países vizinhos, está crescendo na América Latina, e o México está liderando o grupo como o principal destino da região.

O país tornou-se a principal escolha para as empresas americanas que buscam reduzir os custos operacionais. Sua proximidade geográfica e a fronteira compartilhada o tornam um destino atraente, reduzindo os custos de produção e logística.

Além disso, os acordos de livre comércio entre o México, os Estados Unidos e o Canadá reduzem as tarifas e simplificam o crescimento das exportações.

Com o México se consolidando como um hub essencial para o nearshoring nos últimos anos, cerca de 80% da produção industrial do país atualmente tem os EUA como destino final.

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De fato, o investimento estrangeiro direto disparou para níveis recordes, de acordo com o Barclays, não apenas protegendo a economia mexicana contra possíveis ventos contrários ao norte da fronteira, mas também alimentando o crescimento sustentado.

Um exemplo é o fato de o México e o Canadá terem ultrapassado a China como os principais fornecedores de mercadorias para os Estados Unidos, graças, em grande parte, à uma diversificação impulsionada pelo nearshoring.

De acordo com a Bloomberg News, os EUA importaram quase US$ 203 bilhões em mercadorias da China nos primeiros seis meses de 2023, uma queda de 25% em comparação com o mesmo período de 2022, com base nos últimos dados não ajustados do Departamento de Comércio.

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A China está em terceiro lugar entre os fornecedores de mercadorias para os EUA, atrás do México e do Canadá.

O México substituiu a China como a principal fonte de importações de mercadorias dos EUA. Fonte: Bloomberg via Departamento de Comércio dos EUA. Nota: dados de 2023 referentes ao período entre janeiro e junhodfd

Para onde vão esses investimentos?

De acordo com um estudo da Deloitte, o mercado de nearshoring deve crescer a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 10,3% de 2021 a 2025.

Além disso, estimativas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sugerem que o nearshoring poderia aumentar as exportações globais da América Latina e do Caribe em US$ 78 bilhões por ano, sendo US$ 35,3 bilhões atribuídos somente ao México.

Um estudo recente da empresa de inteligência de mercado IDC concluiu que a América Latina oferece ao mercado norte-americano uma combinação diferenciada de proximidade geográfica e parceiros com a maturidade necessária para fornecer serviços de qualidade.

Entre os países com potencial, o México se destaca, juntamente com a Guatemala e El Salvador. Ao mesmo tempo, os setores que se beneficiam da demanda por esses serviços são diversos, abrangendo os setores automotivo, têxtil, farmacêutico, de energia renovável e de TI.

Embora a América Central desfrute de uma localização privilegiada, outros países também poderiam ver o crescimento das exportações por meio do nearshoring.

As projeções do BID sugerem que a Argentina poderia exportar mais US$ 3,91 bilhões; o Brasil, US$ 7,84 bilhões; a Colômbia, US$ 2,57 bilhões; e o Chile, a Costa Rica e a República Dominicana, coletivamente, mais de US$ 1,5 bilhão por ano.

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Espera-se que a consolidação do nearshoring produza benefícios significativos em toda a região, incluindo a recuperação econômica e a desaceleração da inflação, realocando investimentos no valor de US$ 30 bilhões a US$ 50 bilhões que antes eram destinados à Ásia.

Um exemplo notável de uma empresa norte-americana que adotou a produção na Argentina é a Whirlpool, que estabeleceu uma fábrica de máquinas de lavar em Pilar, na província de Buenos Aires. Ruben Belluomo, gerente comercial da Infor South Cone, destacou que “a empresa americana viu uma oportunidade na Argentina devido aos desafios associados à produção em países distantes durante a pandemia da covid-19.”

“Inicialmente, eles haviam instalado suas fábricas na China, como parte da tendência de offshoring, apenas para descobrir que a competitividade não depende apenas dos custos, mas também de uma cadeia de suprimentos estável e comprometida com a criação de valor”.

Atração de oportunidades

Para reforçar sua posição global e promover o investimento estrangeiro direto, a região deve tomar medidas substanciais para melhorar seu ambiente de negócios e modernizar sua infraestrutura comercial. Essas medidas são fundamentais para atrair investimentos e aumentar a competitividade da região no cenário internacional.

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De acordo com dados do BID, estima-se que cada dólar investido na promoção de investimentos gera um retorno de até US$ 41,7 em investimentos estrangeiros diretos adicionais. Essa correlação entre investimento e retorno ressalta a eficácia das estratégias implementadas para atrair capital e melhorar as perspectivas de exportação.

O investimento em infraestrutura é outro pilar fundamental para melhorar o ambiente de negócios. Isso inclui a construção de estradas seguras, a expansão de portos de alta capacidade, a simplificação dos processos alfandegários e o aprimoramento da conectividade e do transporte digitalizado.

Esse progresso não apenas reduziria os custos operacionais para as empresas estrangeiras, mas também agilizaria os fluxos comerciais e logísticos.

Além disso, a América Latina deve abordar uma integração regional perfeita para promover o crescimento econômico e a competitividade por meio de acordos comerciais preferenciais.

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Tal integração proporcionaria às empresas uma base operacional mais ampla e acesso a um grupo maior de possíveis clientes, impulsionando ainda mais o investimento estrangeiro e o desenvolvimento econômico regional.

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Lorena  Guarino

Jornalista argentino, especializado em negócios e economia há mais de 20 anos. Foi editora geral da Forbes Argentina e anteriormente desenvolvida em jornais como La Nación, El Cronista Comercial e Buenos Aires Economico e Infobae entre outros.