Na Porto, unificação das operações de seguro vai gerar sinergias até 2026, diz CEO

Paulo Kakinoff diz a jornalistas que o grupo deve capturar sinergias com a unificação dos sistemas das marcas Porto, Itaú Seguros e Azul Seguros nos próximos quatro trimestres, o que facilita o trabalho de corretores e reduz custos

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Bloomberg Línea — O Grupo Porto (PSSA3) concluiu no início do terceiro trimestre a integração dos sistemas e das operações de três marcas - Porto, Itaú Seguros e Azul Seguros -, o que deu origem a uma “fábrica unificada” de emissão de apólices.

Essa transformação é importante para a captura de ganhos de sinergias nos próximos quatro trimestres, segundo contou o CEO Paulo Kakinoff em entrevista a jornalistas na noite desta terça-feira (12).

Conforme explicou o executivo, será necessário um ano completo para que toda a base de apólices vigentes seja oriunda da mesma “fábrica”, dado que contratos antigos só serão substituídos quando vencerem e forem renovados.

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“A unificação das apólices facilita demais a vida dos corretores, que tinham antes que trabalhar com plataformas distintas. Com a fábrica unificada, temos um novo momento com produtos bem segmentados para todo o espectro do mercado”, afirmou o CEO.

A integração permitirá um reposicionamento completo da Porto no mercado, com lançamento previsto para setembro (dia 25 a 27) no Conec (Congresso de Corretores de Seguros), no Anhembi.

A estratégia abrange desde produtos de entrada da marca Azul até o segmento auto premium da Porto, além de novidades para inclusão securitária.

O índice de eficiência operacional de 10,9% no segundo trimestre deve continuar em trajetória descendente (quanto menor, melhor), impulsionado pelas sinergias do back office unificado pós-integração das marcas, segundo a empresa. Não foi estimado o total de ganhos esperados de sinergias com a integração.

A simplificação dos processos e a redução da “taxa de contato” - métrica que mede quantos clientes procuram esclarecimentos - devem sustentar a tendência de queda dos custos administrativos, com um círculo virtuoso de eficiência operacional em ambiente de alta rentabilidade financeira, segundo a companhia.

A origem da marca Azul Seguros vem da aquisição da unidade brasileira do grupo francês AXA Seguros pela Porto no final de 2003, cuja razão social foi alterada para Azul Seguros no ano seguinte.

Já a Itaú Seguro Auto, apesar de levar o nome do banco, é operada pela Porto Seguro, responsável pela gestão e operação dos seguros vendidos com a marca Itaú.

O Itaú Unibanco (ITUB4) e a família Garfinkel detêm 70,82% do grupo por meio da PSIUPAR (Porto Seguro Itaú Unibanco Participações), segundo dados da B3.

Resistindo à guerra de preços

Enquanto isso, o mercado brasileiro vive um momento de “agressividade” competitiva que a Porto tem evitado de forma pensada e deliberada.

Kakinoff criticou o que classificou como práticas agressivas de concorrentes, defendendo que a empresa prioriza estabilidade de preços sobre crescimento acelerado.

Essa abordagem resulta em market share estável, mas garante taxas de renovação de seguro 10 pontos percentuais acima da média do mercado, segundo o CEO.

Ele destacou que a Porto busca evitar oscilações bruscas de preços que caracterizam guerras de preços, oferecendo previsibilidade aos clientes mesmo que isso signifique sacrificar crescimento no curto prazo.

A estratégia se reflete nos números do segundo trimestre, divulgados na noite de terça-feira: lucro líquido de R$ 878 milhões (alta de 50% em 12 meses) e receita de R$ 10 bilhões (crescimento anual de 12%), acima do previsto em consenso dos analistas (R$ 8,6 bilhões), segundo a Bloomberg.

A rentabilidade sobre patrimônio (ROAE) chegou a 24,6%, também acima do consenso (21,2%), com todas as verticais superando 21% de rentabilidade.

Juro alto impulsiona performance

Com a taxa Selic em 15% ao ano, a Porto se beneficia significativamente do ambiente de juros elevados devido ao retorno com sua carteira de aplicações financeiras, como títulos indexados à inflação, geridas pela sua tesouraria.

O CFO Celso Damadi explicou que o modelo da empresa incorpora diretamente o resultado financeiro na precificação: quando os juros sobem, a pressão por resultados operacionais diminui, o que cria maior flexibilidade.

Isso funciona porque a receita das reservas técnicas é parte integral dos seguros.

A empresa precifica com o CDI como referência de rentabilidade), o que cria proteção natural contra oscilações macroeconômicas.

Consequentemente, a receita financeira da Porto saltou 121% em 12 meses, para R$ 376 milhões no segundo trimestre.

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Nem todos os segmentos se beneficiam igualmente em razão de suas respectivas particularidades de negócios.

A vertical de serviços (Porto Serviços), por exemplo, teve queda de receita de 6,5% no segundo trimestre devido à menor sinistralidade.

“Na vertical de serviços, toda vez que temos a receita frustrada por uma menor sinistralidade, ou seja, menor demanda de serviços da parceira Porto Seguro, isso tem um efeito positivo no grupo como um todo”, observou o CEO.

Isso ocorre, segundo ele, porque a sinistralidade baixa no segmento auto é um dos principais indutores da lucratividade do grupo devido aos menores custos.

Na vertical auto, tanto os prêmios quanto a frota segurada avançaram 3%, com uma adição de 165 mil veículos no período.

O índice de sinistralidade da vertical melhorou 2,1 pontos percentuais, tendo sido menor em todos os principais segmentos. O auto foi menos afetado por eventos climáticos, que impactaram de maneira importante o mesmo período do ano anterior.

Na B3, as ações da Porto acumulam valorização de 52% no ano e de 75% em 12 meses, com a companhia avaliada em R$ 35,6 bilhões.

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