Na batalha do delivery, chinesa Meituan chega ao Brasil com plano de R$ 5,6 bi

Gigante chinesa anuncia projeto de cinco anos em evento com o presidente Lula; 99 e Rappi também anunciam planos bilionários para tentar desafiar o domínio do iFood no mercado brasileiro

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Bloomberg Línea — Maior empresa de delivery da China, a Meituan anunciou neste domingo (11) sua entrada oficial no mercado brasileiro.

A chegada da Meituan ao Brasil ocorre em um momento de aumento dos investimentos no setor de delivery de alimentos: isso inclui movimentos estratégicos de players como Rappi, 99 e iFood, controlado pela Prosus - holding que também detém cerca de 4% de participação na própria Meituan.

A companhia disse que pretende investir R$ 5,6 bilhões no país ao longo dos próximos cinco anos, com o objetivo de consolidar sua presença no mercado e “transformar” o setor de entregas de comida - a empresa não detalhou.

O anúncio foi feito durante uma cerimônia em Pequim, que contou com a presença do CEO da Meituan, Wang Xing, e do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

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Na ocasião, Wang disse que o compromisso da empresa é “oferecer uma experiência superior aos consumidores brasileiros, promover o crescimento dos restaurantes parceiros e ampliar as oportunidades para entregadores em todo o território nacional”.

“Estamos felizes em trazer [levar] para o Brasil nossa experiência e tecnologia [...], assim como fizemos na Ásia e no Oriente Médio. O Brasil é um grande mercado, com potencial ainda maior”, afirmou Wang, em nota.

A operação da Meituan no Brasil será conduzida por sua subsidiária KeeTa, que já está presente em mercados como Hong Kong desde 2022 e Arábia Saudita desde 2024.

O lançamento da divisão sob a bandeira KeeTa foi uma estratégia da Meituan para ir além da China Continental. Com uma postura agressiva de expansão, o aplicativo conquistou mais de 40% de participação no mercado de Hong Kong em curto espaço de tempo.

O crescimento acelerado e a competição acirrada foram apontados, inclusive, como algumas das causas que levaram ao fim das operações na região do concorrente Deliveroo, de origem inglesa - que acaba de acertar a venda para a americana DoorDash (veja mais abaixo).

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Na China, a empresa conta com 770 milhões de usuários ativos e chegou a entregar até 98 milhões de pedidos por dia em 2024.

Além de entrega de comida, a empresa atua em medicamentos a reservas de viagens e venda de ingressos. No Brasil, porém, a operação focará inicialmente na entrega de alimentos.

Em 2024, a empresa alcançou uma receita de US$ 46,65 bilhões e é listada na Bolsa de Valores de Hong Kong desde 2018.

Um mercado em consolidação

A entrada da plataforma chinesa no Brasil ocorre em um momento de acirramento do mercado de delivery, hoje dominado pelo iFood. De acordo com dados da consultoria Euromonitor International, a plataforma comandada pela Prosus detém 70% do market share de delivery de refeições no país.

Uma posição que tem procurado ampliar ao explorar outras frentes de relacionamento com os restaurantes. Nos últimos dias, a companhia fez a aquisição de três empresas que trabalham com sistemas de gestão para restaurantes: a Opdv, a Saipos e a 3s Checkout. A notícia foi dada com exclusividade pela Bloomberg Línea.

O contexto de aumento da disputa pelo setor tem contado com outros anúncios de investimentos bilionários.

Neste mês, a Rappi divulgou um plano de investimentos de R$ 1,4 bilhão no Brasil até 2028. O intuito da empresa é o de dobrar o número de parceiros e isentar restaurantes de taxas, como forma de ganhar mercado.

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Recentemente, a 99, controlada pela também chinesa DiDi, anunciou um investimento de R$ 1 bilhão para retomar o 99Food, serviço de entrega de refeições que tinha sido descontinuado em 2023. No Brasil, a empresa tem presença relevante principalmente como app de transporte.

Os números superlativos do mercado brasileiro de food service explicam tamanho interesse e a crescente concorrência.

Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o setor movimentou R$ 455 bilhões no ano passado.

O país é considerado o quarto maior no mundo em receita e o principal da América Latina. O país só fica atrás de Estados Unidos, China e Japão.

As entregas de refeições representam mais 33,5% das receitas dos bares e restaurantes no país, segundo a Euromonitor - enquanto 66,5% são gerados nos estabelecimentos físicos. Isso significa que pelo menos cerca de R$ 150 bilhões passam pelos serviços de delivery.

Para além do Brasil, as movimentações de mercado têm envolvido as principais empresas globais de delivery.

Na semana passada, a americana DoorDash anunciou acordo para a compra da inglesa Deliveroo por £ 2,9 bilhões (cerca de US$ 3,85 bilhões), em negócio que cria uma gigante global no segmento de delivery.

Em fevereiro, a Prosus, controladora do iFood e liderada pelo brasileiro Fabricio Bloisi, adquiriu a Just Eat por € 4,1 bilhões, em um movimento estratégico para fortalecer sua presença na Europa.

A Just Eat opera em 17 países, com concentração em mercados europeus como a Alemanha, a Holanda e o Reino Unido. A plataforma tem uma base de 61 milhões de usuários e tem plugado mais de 356 mil restaurantes parceiros.

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