Muito além do quarto: Airbnb quer aproximar viajantes de nativos, diz cofundador

Nathan Blecharczyk, responsável pela estratégia da plataforma global de hospedagem, diz em entrevista à Bloomberg Línea que países da América Latina, como Brasil, México e Colômbia, se beneficiam de tendência de busca por novas experiências

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Bloomberg Línea — Países da América Latina, sobretudo Brasil, México e Colômbia, devem manter uma trajetória de crescimento de receitas com turismo para o Airbnb (ABNB), pois oferecem destinos diversificados com preços acessíveis.

Essa é a visão do cofundador e CSO (Chief Strategy Officer) da plataforma, Nathan Blecharczyk, em entrevista à Bloomberg Línea.

“Todos os países da América Latina estão prosperando como destino. O Brasil está se saindo melhor. O México também é muito empolgante, assim como a Colômbia”, disse o empreendedor.

O impulso nas receitas da plataforma de compartilhamento de residências deve vir também da nova frente de negócios recém-lançada nos Estados Unidos.

A companhia começou a intermediar a contratação de serviços e experiências em oito países (EUA, México, Canadá, França, Itália, Espanha, Reino Unido e Austrália). O app do Airbnb já começou a exibir os ícones da nova frente de negócios no Brasil.

“Não se trata só de serviços de luxo, pois há opções em todas as faixas de preço. Será um marketplace completo para o turismo", explicou Blecharczyk.

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O CSO do Airbnb avaliou que a companhia é capaz de se adaptar às mudanças em curso no comportamento do consumidor no mundo à luz das políticas nacionalistas e protecionistas de Donald Trump, mas reconheceu que ainda há muitas incertezas sobre como essa postura dos EUA vai afetar o mercado.

“Os canadenses não querem ir para os EUA agora, mas, por outro lado, estão viajando mais internamente e há muitas casas no Airbnb no Canadá”, exemplificou o diretor de Estratégia do Airbnb, que ele fundou em 2007 em São Francisco, ao lado de Brian Chesky, o CEO, e Joe Gebbia.

Confira abaixo trechos da entrevista com Nathan Blecharczyk, editada para fins de clareza.

Como o início da oferta de serviços e experiências pelo Airbnb deve mudar a maneira como as pessoas viajam?

Descobrimos com entrevistas que 70% dos hóspedes consideram a oferta de serviços como um fator relevante na hora de escolher uma hospedagem.

Para atender a essa necessidade, lançamos serviços com mais de 10.000 opções disponíveis em 250 cidades. Esse número aumentará com o tempo.

Esses serviços são focados no que os hóspedes disseram desejar e precisar, como agendar uma massagem, um spa, contratar um fotógrafo, um chef ou uma entrega de refeições. Não se trata só de serviços de luxo, pois há alternativas em todas as faixas de preço. Será um marketplace completo para o turismo.

Como são selecionados os fornecedores desses serviços?

Conseguimos fazer a intermediação entre hóspedes e fornecedores de alta qualidade, que são cuidadosamente selecionados. Muitos deles têm mais de dez anos de experiência.

Analisamos suas recomendações ou seus portfólios de trabalho para que o hóspede saiba que este é um fornecedor confiável e capaz de atender às suas necessidades.

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Quais foram os maiores desafios no lançamento deste novo sistema?

Estamos partindo do nada para algo extraordinário, e é sempre difícil fazer algo novo pela primeira vez.

Esperamos que os fornecedores se saiam bem em nossa plataforma e que eles indiquem aos seus amigos e outras pessoas e tragam mais fornecedores para a plataforma, para que possamos ter ainda mais variedade de ofertas.

Qual sua avaliação sobre o atual momento da operação do Airbnb no Brasil e na América Latina?

O Brasil está crescendo mais rápido que a região. É um ótimo mercado para o Airbnb. Cresceu 27% no primeiro trimestre em relação ao ano anterior.

São brasileiros viajando. Isso é realmente muito empolgante e promissor para nós. Obviamente, o Brasil é um país grande com tantos destinos fabulosos. Esse também é um fator importante.

Fizemos algumas melhorias para ajudar com esse movimento. Estamos oferecendo o Pix como meio de pagamento. Isso também acelerou muito esses números.

A oferta de experiências também será interessante no Brasil porque há muita cultura para vivenciar. Uma experiência é um meio para se pode conhecer outras pessoas, do anfitrião a outros viajantes.

Como a oferta de serviços e experiências ajuda o hóspede a ampliar suas interações?

Fizemos melhorias no aplicativo com isso em mente. Quando a experiência termina, o hóspede pode manter contato com todo o grupo mais facilmente. Criamos um tópico de mensagens em grupo após a experiência em que todos podem trocar fotos e mensagens.

E a experiência continua. Por exemplo, em uma aula de culinária de duas horas, depois você pode continuar a trocar receitas, fotos ou detalhes de contato com muita facilidade.

Além do Brasil, que outros países da América Latina impulsionam os resultados do Airbnb?

Todos os mercados vão bem. Eu diria que o Brasil está se saindo melhor. O México também é muito empolgante, assim como a Colômbia. Mas, na verdade, todos os países da América Latina estão prosperando como destino, também em termos de turismo doméstico. A região está crescendo.

A América Latina é um lugar relativamente mais acessível para visitantes internacionais. Acho também que, assim como a cultura, a região é muito interessante e rica em termos de culinária e também de meio ambiente. Há montanhas, praias, cidades grandes e lugares mais remotos.

Como o Airbnb contribui para que mais turistas descubram a América Latina?

Nosso modelo de negócios nos permite democratizar as viagens e fazer com que mais pessoas participem da indústria global do turismo. É algo que historicamente apenas grandes hotéis e grandes empresas podiam fazer.

Agora, pessoas comuns podem fazer isso. Por exemplo, no ano passado, pagamos mais de US$ 60 bilhões aos anfitriões. Isso é muito dinheiro quando pensamos que são pessoas comuns.

Na América Latina, há muitas pessoas com espírito empreendedor que estão animadas para participar de oportunidades, que são orgulhosas de sua cultura e têm algo a compartilhar. Elas entraram na plataforma e oferecem muitas experiências e casas atraentes para os turistas.

De que maneira a guerra comercial entre EUA e China e outros países pode afetar o mercado de viagens?

Isso é muito difícil de prever. A cada semana tudo muda. Não tenho certeza do que esperar do futuro. E, obviamente, há muita conversa sobre mudanças no mercado de viagens como resultado dessa incerteza: pessoas hesitam ou não viajam para certos países.

O que posso dizer é que o Airbnb é, mais do que qualquer outra empresa de viagens, capaz de se adaptar às mudanças no comportamento do consumidor. Foi isso que vimos durante a covid. As pessoas pararam de embarcar em aviões, mas o desejo de sair de casa e viajar ainda era forte.

Elas entraram em seus carros e descobriram que o Airbnb tinhas muitas casas no campo. Ou seja, para onde quer que as pessoas queiram ir, não importa o país em que estejam, talvez elas não queiram pegar um avião, talvez queiram ir para o interior. Temos casas em todos os lugares ao redor do mundo.

Há algum exemplo sobre esse impacto no momento?

Vamos olhar para o Canadá, por exemplo. Os canadenses não querem ir para os EUA agora, mas estão viajando mais internamente e há muitas casas no Airbnb no Canadá.

Estamos bem posicionados para superar essas mudanças, seja quais forem. E, da mesma forma, no lado econômico, o Airbnb tem uma oferta para cada faixa de preço.

Temos lugares muito baratos para ficar. E também temos lugares de luxo. Enquanto desenvolvíamos o novo produto de serviços, pensávamos muito em preço. Metade dos nossos serviços custa US$ 50 ou menos por pessoa - são, portanto, relativamente acessíveis.

E, quando trabalhamos com prestadores de serviços como chefs, dissemos: “Ok, não ofereçam apenas uma refeição caseira na casa de alguém. Isso pode ser mais caro. Por que vocês também não oferecem algo como uma refeição pré-pronta para entrega a um preço mais baixo?” Portanto, tentamos garantir que, ao criarmos novas ofertas de serviços, não sejam apenas um produto de luxo.

Como o Airbnb planeja se manter à frente da concorrência?

Criamos praticamente a categoria de compartilhamento de residências. E agora somos onipresentes em todos os países do mundo. Mas estamos sempre aprimorando nosso serviço. Há muito espaço para melhorar.

Estamos sempre pensando em como melhorar a qualidade e o atendimento ao cliente e as formas de pagamento, como no Brasil. Estamos expandindo nossa oferta não apenas para oferecer mais aos hóspedes atuais mas basicamente para acomodar aqueles que ainda não experimentaram o Airbnb.

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