Bloomberg Línea — Há um novo segmento de academias premium com atendimento superior, que oferecem muito além de atividade física, com cuidados para o corpo em conceitos holísticos de bem-estar e saúde e uso de tecnologia.
Essa segmentação faz parte das tendências do mercado fitness em alguns países desenvolvidos, como os Estados Unidos.
No Brasil, essa proposta de valor também já se faz presente, mas em iniciativas isoladas, que funcionam como uma espécie de academias boutiques. Mas o mercado endereçável pode ser mais amplo e funcionar em uma operação com escala.
Essa é a nova tese que faz parte do plano de negócios do maior grupo de academias do Brasil e da América Latina, o Grupo Smart Fit, de Edgard Corona.
A Bio Ritmo, marca premium de academias do grupo, lança ao mercado em agosto na cidade de São Paulo uma unidade dentro do Shopping Ibirapuera, voltada para o público de alta renda, com um conceito que busca replicar as novas tendências citadas, em informação antecipada pela Bloomberg Línea.
Com área total de 1.200 metros quadrados e investimento acima de R$ 10 milhões, a nova unidade da Bio Ritmo foi inspirada em centros de wellness globais e terá de equipamentos de última geração da marca italiana Technogym a estúdio de pilates e sala de recovery com fisioterapeutas para liberação miofascial.
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No plano mais sofisticado, denominado Infinity, com mensalidade que chega a R$ 1.800, o nível de atendimento personalizado conta com concierge e personal trainer e direito a acompanhamento nutricional quatro vezes por ano com mapeamento genético, além de sessões de fisioterapia, entre outros serviços.
As vagas serão limitadas para que a Bio Ritmo possa avaliar qual o tamanho desse mercado e também diante de uma questão operacional de disponibilizar o número de profissionais necessários para o atendimento a tais clientes.
“Vemos uma oportunidade muito grande e o plano é dominar esse segmento assim como já fazemos com o low-end com a Smart Fit”, disse Diogo Corona, COO (Chief Operating Officer) do Grupo Smart Fit, em entrevista à Bloomberg Línea.
A nova unidade nasce com parcerias com marcas como Nespresso, Under Armour e Phyoervas, que cuida dos produtos de beleza dos vestiários. E foi pensada com arquitetura que remete a espaços residenciais, com lounges, e não ao ambiente tradicional de academias, segundo ele.
“O foco é o cliente que quer um serviço de alta qualidade, com acompanhamento, e que não se importa de pagar mais por isso. Vemos que esse público é cada vez maior no Brasil e em outros mercados, dada a valorização da saúde e do bem-estar.”
Segundo ele, os aprendizados com a primeira unidade com o conceito serão levados em conta para a expansão posterior com novas aberturas ou adaptações em outras já em funcionamento que comportem essa segmentação.
No mercado americano, uma rede que serve como benchmark é a Equinox, com mensalidades que estão na faixa de US$ 200 a US$ 400, além de um plano chamado “Optimize” com anualidades que custam US$ 40.000.
No Brasil, o segmento premium - não necessariamente com o nível mais sofisticado de atendimento - conta hoje com players locais e redes como a BodyTech, que acabam concorrendo com a própria Bio Ritmo, cujos preços nos planos mais básicos partem da faixa de R$ 500, em linha com o mercado.
Há outras segmentações.
Em fenômeno relacionado, o do atleta amador que busca preparação e performance de profissional, o mercado brasileiro tem testemunhado também o crescimento de clínicas com foco em atendimento de fisioterapia e acompanhamento especializado com médicos do esporte para modalidades específicas, como corrida e triatlo - que incluem objetivos como maratonas e Iron Man.
A mais famosa e a maior é a CareClub, mas existem entrantes como a Newon, do mesmo grupo da Prevent Senior, e outras estabelecidas, como a Ultra Sports Sciense, em mercados como São Paulo e Rio de Janeiro.
Estratégia de segmentação
Segundo Corona, o Grupo Smart Fit hoje está presente em posição de liderança ou destaque em outros segmentos do mercado fitness, como em studios de diferentes modalidades (yoga, pilates, bike, corrida etc.) e planos corporativos com o TotalPass.
A abertura da nova academia em São Paulo e a subsequente expansão da Bio Ritmo com o novo conceito fazem parte de um plano que prevê dez novas unidades ao longo de 2025, para levar o total da marca a 40 no fim deste ano.
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Quatro já foram abertas - das quais três novas, uma na Cidade do Panamá, uma em Santiago, no Chile, e uma em Lima, no Peru, e uma adquirida e adaptada em São Paulo; haverá mais cinco unidades além da do Shopping Ibirapuera, entre as quais em Recife, Niterói e uma na zona sul do Rio de Janeiro, em local não revelado.
Segundo Corona, o plano de expansão da Bio Ritmo segue o racional de complementar a atuação de mercado em cidades ou países em que o grupo já está presente, em geral só com a Smart Fit (SMFT3) - “não devemos abrir em locais em que não temos qualquer unidade” -, sempre com localização em bairros de alta renda.
“No ano passado decidimos que era momento de voltar a colocar o foco na Bio Ritmo para buscar a virada de mercado que fizemos com a Smart Fit”, disse.
A Bio Ritmo foi a primeira unidade do grupo, aberta em 1996, e permaneceu como a rede principal até o lançamento do conceito da Smart Fit em 2009.
Ele apontou que “a vantagem de retomar a expansão neste momento é que podemos estar alinhados ao que há de conceitos novos no mercado”.
A retomada acontece em momento de acelerado crescimento do próprio grupo e do mercado fitness, como parte da tendência de aumento da preocupação com a saúde e o bem-estar.
Corona disse que a demanda do mercado como um todo está “muito forte”: “não é só o high-end que cresce, temos muita procura pelo low-end também”.
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Segundo ele, no segmento de entrada, essa valorização cada vez maior da atividade física significa priorizar esse gasto no orçamento do mês e evitar cortá-lo; no segmento high-end, significa uma disposição para gastar mais.
No Grupo Smart Fit, as métricas operacionais e financeiras avançam em ritmo de dois dígitos: o número de academias cresceu 20% no primeiro trimestre na base anual, para um total de 1.759 unidades em 15 países.
O número de alunos chegou a 5,25 milhões em todos os mercados após crescimento de 16% na mesma comparação, dos quais 2,4 milhões no Brasil.
A receita líquida subiu 33%, para R$ 1,678 bilhão, enquanto o Ebitda (métrica de geração de caixa operacional) aumentou 32%, para R$ 520 milhões, com margem Ebitda estável em 31% no período.
Os resultados do segundo trimestre serão divulgados em 7 de agosto.
As ações do grupo negociadas na B3 sobem cerca de 27% no acumulado deste ano.
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