Bloomberg Línea — A companhia aérea espanhola Iberia aposta na América Latina para crescer nos próximos anos, com um plano que envolve o aumento da frota de aeronaves não só para ampliar o número de rotas mas também para consolidar o seu market share na região, afirmou o COO (Chief Operating Officer) Global da Iberia, Ramiro Sequeira, em entrevista à Bloomberg Línea.
O “Plano de Voo 2030”, que abrange a estratégia até 2033, prevê o aumento da frota do grupo de 47 para 70 aeronaves para servir a região, um acréscimo de quase 50%.
“Grande parte é também para solidificar a posição em alguns aeroportos em que já atuamos, aumentando a frequência e a capacidade”, disse o executivo.
Segundo Sequeira, a companhia tem investido em particular nos voos de longa distância. “Somos a porta de entrada da Europa e do Caribe para a região. Queremos ser o número 1 na América Latina”, disse.
Globalmente, o grupo opera cerca de 150 destinos e em torno de 400 voos em parcerias (codeshare). A Iberia foi fundada em 1927 e conta atualmente com uma frota total de 163 aeronaves e 10.800 funcionários.
Desde 2011, faz parte do International Airlines Group, que reúne também British Airways, Vueling, Aer Lingus e outras empresas.
Sequeira esteve em São Paulo para inaugurar o “Espaço Iberia”, uma espécie de “pop up store” montada na Rua Oscar Freire, nos Jardins, para promover a marca com experiências que vão de degustação de menus do serviço de bordo até simulação de voo. O espaço aberto ao público funciona até 30 de novembro.
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Segundo a diretora global de Marketing & Brand da Iberia, Gemma Juncá, a concepção do espaço foi criada durante a pandemia, quando as companhias aéreas de todo o mundo não podiam voar por questões de segurança sanitária.
Para continuar a treinar equipes e desenvolver menus, uniformes e serviços, entre outros, a companhia criou o espaço que se tornou uma pop up store.
“Nenhuma companhia tinha nada similar em 2022. Pensamos em colocar dentro da pop up store tudo o que os clientes gostam quando voam, incluindo a nossa cultura e a proposta gastronômica, que é muito forte na Espanha. A ideia é levar toda essa experiência”, disse a executiva à Bloomberg Línea.
O projeto da Iberia passou por Madri, Bogotá, Cidade do México e Buenos Aires, o que, segundo a companhia, reforça a aposta do grupo na região latina.
Sequeira afirmou que os mercados latinos têm sido prioridade para o grupo ao longo da última década.
“Prova disso são os volumes de passageiros na ponte aérea América Latina-Europa, que atualmente estão em 5,5 milhões de passageiros”, disse.
Mercado brasileiro
A Iberia projeta encerrar o ano de 2025 com a oferta de mais de 590 mil assentos no Brasil, volume 27% superior ao registrado em 2024. Segundo a companhia, 80% desse aumento vem das novas rotas para Recife e Fortaleza, com três voos semanais cada, a partir de dezembro e janeiro de 2026.
O Brasil lidera o crescimento da companhia aérea em voos de longa distância, o que levou a Iberia a superar o desempenho de concorrentes que operam na mesma rota, segundo suas informações.
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Para 2026, o ritmo de expansão no país segue acelerado, com um aumento de 72.000 assentos ofertados no primeiro semestre em relação ao mesmo período deste ano, totalizando 365 mil lugares.
O início da estratégia para a região coincide, segundo Sequeira, com o momento que a Iberia passava no começo da década de 2010, o que levou à busca de uma fusão com a British Airways, concluída em 2011.
“A aposta na América Latina ocorre não só pelas questões cultural e histórica mas pelo momento em que a Iberia se transforma em busca de mais eficiência.”
Ele destacou que, não só na região, mas no mundo todo, o cenário está extremamente volátil.
“Diante de guerras, oscilação do combustível, do dólar, investimos em qualidade e também na transformação tecnológica para reduzir custos. Dessa forma, não seremos tão afetados porque nossa estrutura de custos é baixa.”
A frota da Iberia é composta de aeronaves Airbus, e os novos pedidos também estão concentrados na fabricante francesa, que se posicionou nos últimos meses sobre a necessidade de mais motores para sua produção.
Sequeira disse que a Iberia tem “praticamente” garantidas as opções de compra previstas para o Plano de Voo 2030. “Isso nos dá estabilidade e perspectiva de futuro.”
O executivo acrescentou que, se por um lado os preços dos aviões e do leasing estão mais caros, a frota nova da companhia é, em média, 15% mais eficiente do que a antiga. “A conta é positiva porque esses aviões têm um desempenho muito mais eficiente do que alguns antigos que ainda temos.”
Ele citou como exemplo de eficiência a adoção do modelo A321 XLR nas rotas de Recife e Fortaleza para a Europa, cuja oferta de assentos é reduzida em relação ao modelo anterior (A330).
“[O avião atual] tem menos lugares, mas o XLR consome 30% menos do que o A330, que não viajaria cheio e, consequentemente teríamos um yield [valor médio pago por um passageiro por quilômetro] menor. Agora, temos a oportunidade de cruzar o Atlântico com um avião cheio e com 30% menos consumo de combustível.”
Oferta de cabines
Em um mercado em que algumas companhias reduzem a oferta de primeira classe globalmente, o COO da Iberia afirmou que o mix de cabines depende amplamente da origem e do destino dos voos.
Sequeira citou como exemplo a atuação das aéreas do grupo na rota Madri-Londres, com demanda pela classe executiva mais elevada na British Airways.
“A British está em Londres, cuja população, na média, tem um poder aquisitivo mais elevado”, explicou.
Sequeira afirmou que a Iberia tenta, constantemente, se ajustar às necessidades dos clientes.
“Além da business, criamos em 2017 uma categoria intermediária, a premium economy, para atender às demandas de diferentes setores”, disse.
“Mas parece estar claro que na Europa e na América Latina não tem sido tendência criar uma categoria acima da business, porque é o mercado que dita.”
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Por não se tratar de uma companhia aérea low cost, o executivo afirmou que os preços das tarifas da Iberia são influenciados, naturalmente, pela dinâmica de oferta e demanda.
“No que apostamos muito é na qualidade do serviço, o que não significa aumentar preço por isso. Para nós, isso significa pontualidade, comida, manutenção do interior [da aeronave], limpeza e, obviamente, a base disso tudo é a segurança.”
Na rota São Paulo-Madri, a aérea destacou que a oferta em todas as cabines é de dois serviços de alimentação a bordo, em vez de um em geral na concorrência.
Recentemente, a companhia anunciou uma parceria com a Starlink para oferecer conexão via satélite à internet durante todo o voo com a mesma qualidade de navegação que os passageiros teriam em casa, segundo prometeu, sem custo adicional. O serviço estará disponível para voos a partir de 2026.
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