Localiza vê avanço de carro por assinatura e mantém foco em rentabilidade, diz CEO

Em mercado sob impacto de juros altos e preços ainda elevados dos veículos, a locadora aposta em frentes como a recomposição de tarifas e a gestão de frotas para crescer e melhorar os resultados, diz Bruno Lasansky à Bloomberg Línea

Unidade da Localiza na aeroporto de Congonhas, em São Paulo (Foto: Bloomberg Línea)
24 de Julho, 2025 | 06:19 AM

Bloomberg Línea — Em uma economia que segue marcada por juros altos, a Localiza (RENT3) continua a trabalhar para reduzir custos e ganhar eficiência na operação. Entre as prioridades estão a recomposição de preços e a aceleração da renovação de frota.

Não faltam desafios.

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O segmento enfrenta preços ainda elevados dos veículos novos e a perspectiva de queda nos valores de usados diante da redução do IPI para modelos de entrada, o que evidencia as barreiras para reajustar tarifas e equilibrar a frota.

Na segunda parte da entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Localiza, Bruno Lasansky, colocou as dificuldades sob uma perspectiva mais ampla, ao apontar que o cenário de juros e depreciação elevados dos carros é global.

“A companhia continuará trabalhando na transformação de custos e despesas para levar eficiência em todas as linhas do balanço”, disse.

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Lasansky disse que o aumento de preços impacta não só a Localiza mas qualquer pessoa que queira financiar um veículo.

“O aluguel é uma alternativa competitiva, já que o custo de propriedade do carro aumentou para todo mundo”, afirmou.

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Nesse contexto, a companhia tem acelerado o negócio de carro por assinatura. “Lançamos o serviço em 2020 e já somos líderes do mercado.”

A modalidade cresceu principalmente a partir da pandemia e consiste na oferta de um veículo zero (ou, em alguns casos, seminovo) mediante pagamento de mensalidade fixa, em pacote que, em geral, inclui IPVA, licenciamento, seguro, manutenção e assistência 24h. Há franquia de quilometragem.

Esse modelo tem sido adotado pelo setor automotivo em diferentes mercados. Mas, no Brasil, segundo fontes do setor ouvidas pela Bloomberg Línea, cresce aquém do esperado principalmente devido ao desafio cultural, uma vez que a posse do veículo ainda é altamente valorizada entre os consumidores.

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Lasansky, por outro lado, se mostrou otimista com o desempenho da companhia no segmento. “O fato de já termos 60.000 clientes de carro por assinatura é uma prova contundente da capacidade da Localiza de inovar em mobilidade.”

Em sua avaliação, a expansão do serviço fortaleceu a parceria que a companhia tem com a indústria automotiva.

“Com o avanço dos negócios de carro por assinatura e de terceirização de frotas corporativas, há uma demanda adicional de veículos para as montadoras que de outra forma não existiria.”

A pandemia desencadeou uma crise no fornecimento de peças da indústria automotiva global, ao causar interrupções nas cadeias produtivas, o que levou a um aumento significativo dos preços dos veículos.

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Além do custo mais alto para o setor de locação, as locadoras enfrentaram piora nas condições comerciais, com prazos mais longos de entrega, falta de produtos e descontos mais baixos nas negociações de compra de grandes lotes.

Os resultados do segundo trimestre da Localiza serão divulgados no dia 12 de agosto.

As ações da companhia acumulam alta de cerca de 12% no acumulado de 2025 e queda da ordem de 16% em 12 meses.

Normalização das negociações comerciais

Lasansky afirmou, contudo, que as condições comerciais de negociações com a indústria voltaram aos níveis pré-pandemia.

“Essas questões estão normalizadas. Ao longo do ciclo, as montadoras conseguiram comprovar a solidez e a confiabilidade da Localiza como parceiro de longo prazo. Essa parceria gera vantagens para a indústria automotiva”, disse.

Ele acrescentou que as compras da companhia permitem que as montadoras tenham previsibilidade de demanda, o que é fundamental para manter os níveis de produção.

As negociações, por outro lado, ainda são marcadas por “volatilidade expressiva”, segundo outro executivo do setor de locação, que falou sob condição de anonimato com a Bloomberg Línea porque as discussões são privadas. Na avaliação desse executivo, as montadoras ainda têm as “cartas nas mãos”.

Lasansky, por sua vez, destacou que, a cada 100 carros que a Localiza compra, cerca de 30 ficam parados dentro de processos da companhia, seja em ativação, manutenção ou preparação para venda.

“Isso também é uma demanda incremental para o setor automotivo. Graças ao trabalho que fizemos junto com as montadoras parceiras, a indústria no Brasil tem se desenvolvido muito mais do que qualquer outro país na região”, afirmou.

Ele deu outros exemplos de demanda adicional que a Localiza tem criado para as montadoras, como o programa voltado para motoristas de aplicativo.

“Normalmente, esses motoristas trocariam os carros em 7 a 10 anos. Com o serviço da da Localiza, a troca acontece em um a dois anos”, disse.

“Já na terceirização de frotas corporativas, as empresas não trocariam de carro a cada dois ou três anos, mas, sim, a cada cinco ou seis”, comparou.

O executivo disse que um dos pilares da estratégia atual é escalar o segmento de seminovos (de venda de carros).

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“Na pandemia, não tivemos tanto acesso aos veículos porque havia restrições de insumos. À medida que isso se normalizou, aceleramos o processo de renovação da frota, o que vem acontecendo trimestre a trimestre.”

A meta é retornar ao nível de idade média da frota do período pré-covid, de 15 meses. “Devemos voltar a esse patamar ao longo do ano que vem”, disse.

Repasse de tarifa

O CEO da Localiza reforçou a visão estratégica de que, para os próximos 12 meses, a companhia tem como um dos principais focos a rentabilidade, seja no atendimento a pessoas físicas, seja no segmento voltado para pessoa jurídica.

Lasansky salientou o ponto de que o investimento em tecnologia é essencial para trazer produtividade. A experiência do consumidor da empresa na locação de um veículo pode ser realizada 100% online e o carro é desbloqueado automaticamente com uma “selfie” pelo aplicativo da Localiza.

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“O cliente quer agilidade e simplicidade. Com toda essa conveniência, o consumidor retorna e assim podemos ter preços mais competitivos e impulsionar a categoria.”

Carros elétricos

Historicamente, o setor de locação é um dos protagonistas na divulgação de carros novos: após um lançamento, a montadora negocia a venda de grandes lotes para as locadoras, que por sua vez alugam o novo modelo - este “ganha as ruas” e ajuda a consolidar a estratégia de exposição das marcas.

Isso tem acontecido, por exemplo, com a chegada do novo Tera, da Volkswagen.

Na transição energética da frota global, esse modelo também está presente.

Nos últimos anos, as locadoras foram responsáveis pela compra de grandes lotes de veículos elétricos, ainda que os desafios de eletrificação – que envolvem infraestrutura e custos ao consumidor – impactem essa dinâmica.

No início de 2024, a gigante americana Hertz, uma das maiores empresas de locação do mundo, causou um choque ao revelar que planejava vender um terço de sua frota de veículos elétricos nos Estados Unidos e reinvestir em carros movidos a combustão devido à fraca demanda e aos altos custos de reparo.

A decisão foi um sinal de que a transição da frota global de veículos no setor de locação deveria ser mais lenta do que o esperado.

Na visão de Lasansky, essa transição vai ser gradual no Brasil, devido às características do mercado local.

“Teremos o [carro] flex convivendo com o híbrido e o elétrico para que, no longo prazo, tenhamos um processo de eletrificação mais aprofundado”, afirmou.

O executivo ressaltou que o país precisa investir mais em infraestrutura e acessibilidade dos veículos.

Segundo ele, a Localiza já oferece veículos híbridos e elétricos em todos os segmentos de negócios, principalmente em setores que “fazem mais sentido”, como nas entregas de “última milha” (last mile) do e-commerce e para motoristas de aplicativos.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.