Bloomberg — A maior companhia aérea da América Latina tem se expandido com um olhar no micro, em busca de crescimento nas cidades de segundo ou terceiro escalão da região que atualmente são mal servidas, disse o CEO da Latam Airlines, Roberto Alvo.
A empresa, que se tornou brevemente a maior da bolsa de valores do Chile em agosto, assinou um acordo para comprar até 74 aeronaves narrowbody da brasileira Embraer (EMBR3) na segunda-feira (22), 24 das quais são entregas firmes e 50 são opções de compra.
O acordo destaca a rapidez com que a Latam se recuperou de sua reestruturação no Chapter 11 (processo equivalente à recuperação judicial) em 2020, enquanto seus pares regionais lutam para recuperar seu equilíbrio financeiro.
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A companhia aérea registrou um lucro ajustado recorde no ano passado e, em seguida, aumentou o guidance duas vezes no primeiro semestre de 2025.
A entrega das aeronaves da Embraer a partir do segundo semestre de 2026 abrirá caminho para 35 novos destinos, disse Alvo em entrevista à Bloomberg News.
“Grande parte de nossa população na região ainda permanece muito isolada do ponto de vista aeronáutico”, disse ele. “Mas como são cidades menores, são fluxos menores e, para atendê-los, também preciso um avião um pouco menor.”
A Latam definirá nos próximos meses quais rotas e quais cidades serão atendidas dentro do Brasil com o primeiro conjunto de novos aviões.
As ações da Latam caíram 1,2% em Santiago na segunda-feira, elevando seu ganho este ano para 68%.
Efeito negativo para a Azul
A compra dos aviões menores pela Latam tende a prejudicar mais a concorrente brasileira Azul (AZUL4), de acordo com os analistas da Bloomberg Intelligence, Francois Duflot e George Ferguson. Atualmente, a Azul enfrenta pouca ou nenhuma concorrência em rotas secundárias no Brasil.
Isso aumentaria a montanha de problemas que seus rivais têm enfrentado. Na semana passada, a Azul apresentou um plano de reestruturação a um tribunal de Nova York, que envolve a eliminação de aproximadamente US$ 2 bilhões em dívidas do balanço patrimonial da empresa, ao mesmo tempo em que capta cerca de US$ 950 milhões por meio de uma oferta de ações.
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A Azul, a Gol (GOLL54) - que obteve aprovação para sair do Chapter 11 em maio - e a Latam dominam as viagens aéreas no Brasil, o maior mercado da América Latina. Fora do Brasil, a Avianca, que também solicitou o Chapter 11 em 2021, está em uma posição um pouco melhor.
“Conseguimos acompanhar o crescimento da demanda, que tem sido saudável após a pandemia, com uma estrutura muito rigorosa e uma estratégia de custos em que mantivemos a eficiência operacional”, disse Alvo.
“A diversificação de nosso portfólio nos permite, no final das contas, decidir como queremos movimentar nossos ativos para obter o melhor retorno.”
Fora do Brasil, a expansão da Latam está em um ritmo mais lento.
Embora o presidente da Argentina, Javier Milei, tenha introduzido uma política de céus abertos no final do ano passado, a Latam não considera a retomada dos voos domésticos no país no momento e se concentra nas rotas internacionais, disse Alvo.
Em outro mercado, um novo aeroporto em Lima, capital do Peru, oferece conectividade internacional extra assim que a construção do local for concluída, acrescentou Alvo.
Apesar da rápida expansão da companhia aérea e do salto no preço de suas ações este ano, a dívida da Latam permanece em território de risco, de acordo com duas das três agências de classificação de crédito.
Alvo disse que recuperar a classificação de grau de investimento não é um objetivo em si no momento, mas que o objetivo é obter uma classificação BB+.
“Estamos satisfeitos com nosso nível atual e, honestamente, a Latam tem atualmente números financeiros mais sólidos do que as companhias aéreas com grau de investimento”, disse Alvo.
“O problema é que estamos na América Latina. Obviamente, temos o impacto de estarmos em mercados emergentes.”
No momento, a empresa não considera emissões adicionais de títulos, apesar da enxurrada de vendas de dívidas corporativas chilenas recentemente, tanto localmente quanto no exterior. A empresa decidirá em outubro se pagará antecipadamente os títulos com vencimento em 2030.
“Veremos como serão as condições do mercado no próximo ano e, eventualmente, poderemos tomar a decisão de refinanciar a dívida”, disse Alvo.
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