Bloomberg — A Stellantis (STLA) aposta na volta o Jeep Cherokee como um SUV maior e eletrificado após uma pausa de quase três anos, em um movimento que preenche uma lacuna em sua linha nos Estados Unidos enquanto busca reverter a queda nas vendas e navegar em um mercado abalado pelas tarifas.
A Jeep tenta recuperar participação no mercado de SUVs após seis anos consecutivos de queda nas vendas nos EUA. O ex-CEO da Stellantis, Carlos Tavares, descontinuou temporariamente o Cherokee em 2023 como parte de um plano para transferir a produção de Illinois para o México.
O veículo está fora do mercado desde então, o que deixou a Jeep com uma lacuna no segmento de SUVs compactos de três milhões de unidades por ano, dominado pelo Rav4, da Toyota, e pelo CR-V, da Honda.
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Para o relançamento no ano-modelo 2026, a Jeep ampliou as dimensões do Cherokee, colocando-o em competição com SUVs maiores como o Toyota Highlander e o Honda Pilot. A Stellantis espera atrair compradores de diferentes categorias de SUV, incluindo o estratégico segmento compacto.
“Para qualquer montadora que se preze, é impossível não ter um carro nesse segmento agora, porque é isso que todo mundo está comprando”, disse o analista da Edmunds.com, Joseph Yoon. “Desde que o preço seja competitivo e o veículo atraente, acho que a Jeep tem uma chance.”
A volta do Cherokee é essencial para o plano do novo CEO da Stellantis, Antonio Filosa, de lançar uma série de novos produtos e reverter a queda de 9% nas vendas da Jeep no ano passado.
A marca, conhecida pela robustez, respondeu por 5,9% do mercado de SUVs nos Estados Unidos em 2024, menos da metade do pico de 13% em 2015, segundo a Edmunds.
Versões atualizadas do Grand Cherokee, o modelo mais vendido da marca, e do premium Jeep Grand Wagoneer devem ser lançadas em seguida. A marca também planeja apresentar neste ano um Jeep Recon elétrico totalmente novo.
Estreia híbrida
O Cherokee 2026 começará a ser vendido no fim deste ano com preço inicial de cerca de US$ 37.000 nos Estados Unidos, incluindo taxas de envio. Isso representa cerca de US$ 3.000 a mais que o Rav4 híbrido mais barato e cerca de US$ 4.800 menos que o preço inicial do Highlander.
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O novo Jeep estreia com um trem de força híbrido a gasolina e eletricidade, que atinge consumo estimado de 37 milhas (59,5 quilômetros) por galão em ciclo combinado (cidade e estrada) e mais de 500 milhas (804,7 quilômetros) de autonomia, segundo a Stellantis.
O SUV é fabricado no México, o que significa que enfrentará tarifas sobre conteúdo não fabricado nos EUA, embora seu motor turbo de quatro cilindros seja produzido em Michigan.
A Jeep escolheu lançar o Cherokee redesenhado primeiro como híbrido para aproveitar a forte demanda por veículos que oferecem melhor economia de combustível sem grande aumento de preço ou necessidade de recarregar uma bateria, disse o CEO da Jeep, Bob Broderdorf.
Com as diretrizes do presidente Donald Trump para flexibilizar as regras de eficiência de combustível nos EUA, a empresa agora considera opções adicionais de tecnologia, incluindo motores mais potentes e que consomem mais combustível.
“Vamos ter escolha, vamos ter mais potência. Vocês vão nos ver nos divertir muito com esses carros”, disse Broderdorf em um evento em Detroit no início deste mês. “Isso é algo pelo qual historicamente fomos conhecidos, e vamos trazer isso de volta.”
Complicações tarifárias
A imposição de tarifas por Trump sobre veículos e peças importados atrasou o retorno do Cherokee, à medida que executivos analisavam milhares de componentes para reduzir os custos tarifários.
Uma nova versão do Jeep Compass também está em espera.
A empresa tem vendido uma versão mais antiga do SUV compacto produzida em sua fábrica de Toluca, no México, que também monta o Cherokee, para aproveitar a demanda por modelos mais acessíveis — já que o preço médio dos veículos novos se aproxima dos US$ 50 mil.
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Tavares transferiu a produção do Cherokee antigo para o México em parte para aumentar as margens já estreitas de lucro do veículo, disse Colin Langan, analista do Wells Fargo.
Mas a ausência de acordos comerciais com Canadá ou México para reduzir tarifas sobre veículos e peças acabados está prejudicando o potencial futuro de rentabilidade.
“As tarifas são nebulosas e talvez haja um acordo razoável até o lançamento”, disse Langan. “Ainda assim, isso adiciona um custo que não existia quando o plano original foi feito.”