Jato brasileiro de US$ 60 milhões pode ser a vítima mais valiosa das tarifas de Trump

Citi aponta em relatório a Embraer como a companhia brasileira mais impactada pela alíquota de 50%, em particular a sua aeronave de até 90 assentos com mais encomendas feitas por companhias aéreas norte-americanas, o E175-E1

A American Airlines assinou um pedido firme com a Embraer para três novos jatos E175.
10 de Julho, 2025 | 06:28 PM

Bloomberg Línea — Ele custa cerca de US$ 60 milhões, é um dos bens mais valiosos exportados pelo Brasil e pode se tornar uma das principais vítimas da sobretaxa norte-americana de 50% aos embarques do país, prevista para entrar em vigor em agosto.

O jato comercial E175-E1, modelo popular na aviação regional dos Estados Unidos, é o principal produto da Embraer (EMBR3) na mira das tarifa anunciadas pelo presidente Donald Trump na quarta-feira (10), segundo analistas de equity research do Citi em relatório a clientes.

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“A Embraer parece ser a empresa mais diretamente impactada no Brasil. No segmento da aviação comercial, 55% da carteira de pedidos firmes da Embraer é encomendada por companhias aéreas americanas”, apontaram os analistas.

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Segundo o Citi, os jatos E175-E1 representam cerca de 97% dos pedidos firmes da companhia de São José dos Campos (interior paulista) com destino aos EUA.

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O Embraer E175-E1 pode transportar até 88 passageiros em sua configuração padrão, mas algumas versões podem acomodar até 90 passageiros. Ele faz parte da família Embraer E-Jets, uma série bem-sucedida de bimotores de médio alcance, projetado para rotas regionais.

“É importante lembrar que cerca de 50% a 60% dos componentes desses jatos são fabricados nos EUA, permitindo deduções proporcionais de impostos sobre essas entregas, o que poderia mitigar o efeito tarifário sobre as margens”, disseram os analistas do Citi em ressalva sobre o impacto potencial.

A demanda por essa aeronave, que entrou em operação comercial em 2004, é crescente. A Embraer anunciou uma encomenda de 60 jatos E175-E1 para a companhia aérea norte-americana SkyWest por US$ 3,6 bilhões, ou seja, US$ 60 milhões por unidade, no mês passado, no Paris Air Show.

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Em resposta ao pedido da Bloomberg Línea de comentário sobre a anunciada sobretaxa de 50%, a Embraer informou em mensagem por e-mail que avalia os possíveis impactos em seus negócios da perspectiva de aumento de tarifas, caso a decisão se aplique de fato à indústria de aviação no Brasil.

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“Tais impactos serão abordados em nossa próxima conferência de resultado do segundo trimestre, no dia 5 de agosto”, informou a fabricante de aeronaves.

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A companhia informou ainda que está “trabalhando com as autoridades competentes para reestabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico”.

As ações da Embraer tiveram queda de 3,70 nesta quinta-feira na B3, cotadas a R$ 75,32, mas ainda com com valorização de cerca de 30% no ano. Em 12 meses, a alta aproximada é de 90%, com o papel próximo de seus recordes históricos.

Na Bolsa de Nova York, o ADR (recibo da ação brasileira) caiu 4,65% nesta quinta.

Outros empresas expostas

Além da Embraer, a equipe de equity research do Citi apontou outras oito empresas brasileiras que potencialmente podem ser impactadas pela sobretaxa de 50%: Tupy (TUPY3), WEG (WEGE3), Azzas (AZZA3), Alpargatas (ALPA4), CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5), CBA (CBAV3) e Vale (VALE3).

“As discussões em torno das tarifas recém-anunciadas sobre as exportações brasileiras podem estar apenas começando. O presidente Trump demonstrou flexibilidade em negociações comerciais anteriores”, avaliou a equipe do Citi.

Para chegar à lista de empresas, o banco estimou as exposições das receitas de cada uma à medida anunciada na quarta-feira (9) em carta de Trump ao presidente Lula.

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“A Tupy (exposição de 10% a 15% da receita líquida à medida, segundo nossas estimativas) pode ser a empresa mais afetada no setor de bens de capital”, apontaram os analistas no relatório.

A WEG, gigante de equipamentos e motores industriais, tem receita líquida de 7% a 8% em exportações do Brasil para os EUA, segundo o banco.

No varejo de moda, a Azzas 2154 tem exposição de aproximadamente 3%, enquanto a Alpargatas, de calçados, 5%.

“CSN, Usiminas e CBA já viram suas exportações caírem para níveis próximos de zero após tarifas anteriores de 50% sobre o aço”, lembrou o Citi.

Por sua vez, a Vale tem exposição aproximada de 3% da receita em 2024, mas a empresa pode redirecionar volumes para outras regiões, ressaltaram analistas do Citi.

A alíquota de 50% sobre o Brasil pode estar sujeita a alterações caso as negociações diplomáticas avancem, apontou o banco.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.