Bloomberg — O grupo Iveco concordou em se desmembrar, vendendo sua unidade de defesa para a Leonardo e o restante da fabricante italiana de caminhões para a Tata Motors, em negócios que totalizam cerca de € 5,5 bilhões (US$ 6,3 bilhões).
A Leonardo pagará € 1,7 bilhão, incluindo a dívida, pelo negócio de veículos militares, segundo comunicado na quarta-feira (30).
O restante da Iveco, sediada em Turim, que fabrica uma série de caminhões e ônibus comerciais, será adquirido pela Tata por cerca de € 3,8 bilhões.
A aquisição das operações de caminhões da Iveco daria à Tata um ponto de apoio na indústria de veículos comerciais da Europa, ampliando a presença da empresa indiana em um mercado importante quase duas décadas após a compra da Jaguar Land Rover em 2008.
A Tata também ganha capacidades de design e tecnologia em áreas como transporte sustentável, o que pode ajudar em seu apelo junto aos compradores europeus.
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A holding Exor, da família bilionária Agnelli, que controla a Iveco, concordou em vender sua participação financeira de 27% para a Tata, segundo o comunicado.
A Tata fará uma oferta pelas ações restantes em um acordo que tem como objetivo retirar a empresa italiana da bolsa de valores.
Os acionistas da Iveco devem receber € 14,10 por ação da parte da Tata no desmembramento, além de um dividendo extraordinário estimado entre € 5,50 e € 6 por ação da transação com a Leonardo, conforme as declarações.
Isso traria uma receita líquida para os investidores da Iveco de até € 20,10 por ação, comparado com o preço de fechamento na quarta-feira de € 19,01 em Milão.
As ações da Iveco mais que dobraram este ano em meio ao aumento do valor de mercado dos ativos de defesa. A empresa disse na terça-feira que estava em discussões avançadas sobre um acordo em duas partes para se vender, confirmando reportagem anterior da Bloomberg News.
A empresa emprega cerca de 36.000 pessoas, principalmente na Europa, com pouco menos de 40% de sua força de trabalho na Itália, segundo seu relatório anual. A empresa também tem fábricas na França, na Alemanha, no Reino Unido, na China e na América Latina.
Caminhões e ônibus constituíram a maior parte da receita de € 15,3 bilhões da empresa em 2024, enquanto a defesa foi responsável por menos de 10%. A empresa também tem uma divisão de trem de força significativa.
Para a Leonardo, ganhar os veículos militares da Iveco ajuda a empresa italiana de maior porte a consolidar sua posição no setor de defesa terrestre europeu, disse ela.
A venda para a Leonardo, que enfrentou pressão de pretendentes rivais, mantém as operações de defesa em mãos locais, satisfazendo uma exigência fundamental do governo italiano.
Tata Motos
A mudança da Tata ocorre no momento em que a montadora indiana passa por uma cisão para separar seus negócios de veículos comerciais e de passageiros até março.
A Iveco ajudará a divisão de veículos comerciais, em grande parte focada na Índia, a expandir sua presença no exterior, assim como a aquisição da JLR, no valor de US$ 2,3 bilhões, elevou o status da Tata no segmento global de carros de luxo.
As ações da Tata Motors caíram 3,5% em Mumbai na quarta-feira, antes dos anúncios, destacando as preocupações dos investidores em relação à aquisição e elevando o declínio deste ano para mais de 10%.
A unidade de defesa da Iveco, com sede em Bolzano, opera fábricas na Alemanha, na Romênia e no Brasil, empregando cerca de 2.000 pessoas.
A consolidação está se fortalecendo conforme os orçamentos militares europeus aumentam, devido à invasão da Ucrânia pela Rússia e à pressão dos EUA para que os parceiros da Otan aumentem os gastos com defesa.
Esses acontecimentos aumentaram as perspectivas de empresas-alvo como a Iveco e levaram o governo italiano a pressionar a Leonardo a aumentar sua oferta. O governo está apoiando amplamente o plano de desmembramento, reportou a Bloomberg na quarta-feira.
Em uma conversa com analistas, o CEO da Leonardo, Roberto Cingolani, disse que a empresa e a Rheinmetall planejam discutir como compartilhar as atividades de defesa da Iveco, com o objetivo de chegar a um acordo até o final do ano. As duas empresas já trabalham na colaboração para a fabricação de tanques.
Ao vender a Iveco, a família Agnelli, fundadora da Fiat, se retira de um negócio que lançou em 1903, quando a montadora italiana lançou seu primeiro veículo comercial.
Várias marcas de caminhões da Fiat foram reunidas sob a bandeira Iveco em 1975, e o negócio se tornou uma empresa pública independente em 2022, depois de se separar da fabricante de equipamentos agrícolas CNH Industrial.
Nos últimos anos, a Exor vendeu alguns negócios automotivos, incluindo a especialista em maquinário Comau e a fabricante de autopeças Magneti Marelli. Ao mesmo tempo, investiu na Royal Philips, na fabricante francesa de bolsas e calçados Christian Louboutin e no negócio global de saúde da família Merieux da França.
Depois de vender parte de sua participação na Ferrari este ano, a Exor reservou cerca de €2 bilhões para investir em uma empresa norte-americana ou europeia, informou a Bloomberg News em junho.
-- Com a colaboração de Daniele Lepido.
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