Bloomberg Línea — Depois de liderar uma onda de M&As de shoppings nos últimos meses, a Iguatemi avisou o mercado que se dedicaria a entregar os resultados decorrentes das transações. Os números do terceiro trimestre, divulgados na noite de terça-feira (4), começaram a mostrar de forma mais clara a execução do plano.
As vendas totais subiram 22,5% no terceiro trimestre na base anual, para R$ 6,0 bilhões, enquanto a taxa de ocupação ficou em 96,1%, ligeiramente acima dos 95,9% registrados no mesmo período de 2024.
A receita líquida ajustada no trimestre cresceu 17,7% na base anual, para R$ 381 milhões, acima do consenso de analistas pela Bloomberg, de R$ 357,1 milhões.
O Ebitda ajustado (métrica de geração de caixa operacional) chegou a R$ 302,4 milhões no trimestre, com crescimento de 20,6% na base anual.
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“Nós falamos que estávamos focados em fazer a consolidação dos shoppings que compramos e no início das expansões”, disse Guido Oliveira, CFO (Chief Financial Officer) da Iguatemi, em entrevista à Bloomberg Línea.
“O terceiro trimestre trouxe um resultado limpo, recorrente, depois de todas as transações”, disse o executivo, com a ressalva de que o período anterior havia sido ainda impactado por eventos não recorrentes dos negócios.
“Apresentamos um crescimento em todas as métricas em um trimestre em que, no mercado de forma geral, varejistas reclamaram das vendas em setembro, o que não foi o nosso caso”, disse o executivo.
Nos últimos 12 meses, o grupo controlado pela família Jereissati adquiriu participações relevantes no Rio Sul, que marcou sua entrada no Rio de Janeiro, e no Pátio Paulista, em São Paulo, além de ter ampliado sua fatia no Pátio Higienópolis.
O movimento foi ancorado pela alienação do Shopping São Carlos, no interior paulista, e de participações minoritárias no Complexo Market Place, em São Paulo, e dos shoppings Alphaville e Galleria, este em Campinas.
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“Tudo isso somado, entre compras e vendas, o nosso portfólio passou por uma melhora importante em termos de crescimento de vendas por metro quadrado, com a entrada de shoppings mais relevantes”, disse o executivo.
A receita de aluguel por metro quadrado cresceu 13,6% na base anual, passando para R$ 612 no terceiro trimestre, versus R$ 538 um ano antes.
Segundo Oliveira, os números reafirmam a confiança no cumprimento do guidance tanto da margem Ebitda de shoppings como total e da superação no caso da receita líquida de shoppings, que cresceu 14,2% em nove meses, muito acima do intervalo projetado entre 7% e 11% para o ano completo. “O quarto trimestre é o que traz melhores resultados. Os números vão melhorar mais.”
As expansões citadas incluem o quarto piso do Iguatemi São Paulo, na avenida Faria Lima, o principal shopping do grupo, o retrofit do Market Place, ambos na cidade de São Paulo e com obras iniciadas, e uma nova área no Iguatemi Brasília.
O grupo passou a administrar o Pátio Paulista exatamente em 1º de julho. No Rio Sul, a gestão completou um ano no começo de outubro.
No caso do Pátio Paulista, o grupo começou com um trabalho de integração de sistemas e de processos da operação, do financeiro e do comercial, que deve ser concluída em menos tempo do que no Rio Sul.
“Há um planejamento estratégico de cinco a dez anos, com marcos anuais, com mudanças que vão de mix [de lojas] a arquitetônicas, de paisagismo, urbanização e vias do entorno - que dependem de orçamento e de aprovações - para adequação dos shoppings ao nosso modelo“, disse.
Oliveira apontou o caso do Pátio Higienópolis como exemplo de transformação. O shopping na zona oeste de São Paulo está sob administração da Iguatemi desde 2013 e hoje é o terceiro do portfólio em resultado.
“Não é um trabalho de um ou dois anos. A abertura da loja na Zara dois anos atrás é um exemplo: há um trabalho de convencimento com co-proprietários, de recompra de pontos, de mudança de corredor, junção de lojas etc.”, afirmou.
Oliveira destacou o fato de que tanto o Pátio Paulista como o Rio Sul estão no top 10 dos shoppings dos portfólio do grupo em resultado, na sexta e na sétima posições, respectivamente.
Os indicadores operacionais da Iguatemi, da taxa de ocupação à inadimplência, passando pelo desconto médio concedido na locação de lojas, estão nos melhores patamares dos últimos dez a quinze anos, segundo o CFO.
O custo de ocupação como percentual da receita líquida ficou em 11,1% no terceiro trimestre, em linha com os 11,0% um ano antes. O SSR (Same Store Rent) teve ganho real de 2,4%, como reflexo do trabalho de gestão que possibilita reajustes do aluguel acima do que está previsto em contrato (o IGP-M).
“Continuamos com a possibilidade de otimizar os nossos aluguéis, que é um trabalho que realizamos a cada trimestre”, disse Oliveira em referência a reajustes que são alcançados em renovações de contratos com lojistas.
Parceria estratégica com H&M
O CFO da Iguatemi destacou também a parceria que descreveu como estratégica com a rede sueca de fast fashion H&M. “Nós já éramos porta de entrada para marcas high end no país e temos sido também de middle end.”
A primeira unidade da H&M no país foi aberta no Shopping Iguatemi no início de setembro e há mais quatro unidades previstas em unidades do grupo, todas com previsão de início de operação em 2026: no Iguatemi Porto Alegre, no Praia de Belas, também na capital do Rio Grande do Sul, no Iguatemi Esplanada, em Sorocaba, no interior de São Paulo, e no Rio Sul, no Rio de Janeiro.
“Serão mais 8.000 metros quadrados somados de ABL [Área Bruta Locável], que reflete a escolha da Iguatemi como parceiro estratégico”, disse.
As units da Iguatemi (IGT11) acumulam alta aproximada de 45% no acumulado de 2025, o que confere um valor de mercado de cerca de R$ 7 bilhões.
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