H&M no Brasil: como a chegada da rede sueca afeta o varejo, segundo o Santander

Para analistas do Santander, estratégia de gigante de fast-fashion de concorrer com varejistas locais enfrenta desafio de escala e preço; empresa inaugura sua primeira loja em agosto

A H&M logo outside an Hennez & Mauritz store in Budapest, Hungary, on Friday, June 6, 2025. Hungary’s retail sales surged at the start of the second quarter, making shoppers Prime Minister Viktor Orban’s best bet to avoid another recession less than a year before elections. Photographer: Akos Stiller/Bloomberg
29 de Julho, 2025 | 03:31 PM

Bloomberg Línea — A chegada da gigante sueca de fast-fashion H&M (Hennes & Mauritz) ao mercado brasileiro tem o potencial de remodelar a concorrência no setor de moda no Brasil no longo prazo, mas não deve causar impacto significativo em um primeiro momento sobre os resultados de varejistas locais em 2025.

Essa é a avaliação de analistas do Santander em relatório divulgado após a varejista sueca oficializar a sua entrada no mercado brasileiro.

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A empresa sueca, conhecida por seus preços competitivos nos mercados em que atua, informou na segunda-feira (28) que inaugurará sua primeira loja física no Shopping Iguatemi, em São Paulo, em 23 de agosto e fará simultaneamente o lançamento nacional de seu e-commerce.

A varejista diz que pretende abrir uma segunda loja no Shopping Anália Franco, também na capital paulista, em 4 de setembro.

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Considerando a escala reduzida da operação inicial, os analistas do Santander ressaltam que as duas primeiras lojas representam menos de 0,1% da área de vendas total da Renner (LREN3), por exemplo, e devem contribuir com volume insignificante no primeiro ano de operação.

“O lançamento de duas lojas e as informações iniciais sobre preços indicam risco mínimo de lucro para Renner, C&A [CEAB3] e Guararapes [GUAR3, dona da Riachuelo] em 2025”, escreveram os analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, em relatório.

Em setembro, o Iguatemi São Paulo havia confirmado que a primeira loja da H&M no Brasil seria inaugurada no segundo semestre de 2025, com a operação ocupando 1.300 m².

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A marca, fundada em 1947, abriu a primeira loja na América Latina em 2012, no México. O Grupo H&M opera cerca de 4.400 pontos de venda em 78 mercados em todo o mundo.

Vestidos a partir de R$ 200

A H&M divulgou seu primeiro preço de referência no mercado brasileiro, oferecendo vestidos a partir de R$ 199,99, um valor que se posiciona estrategicamente entre os players nacionais e internacionais já estabelecidos.

Embora mais acessível que a Zara, principal concorrente europeia no segmento premium, o preço ainda representa um desafio para as redes locais como C&A, Renner e Guararapes, que tradicionalmente operam com valores cerca de 40% inferiores a essa faixa.

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“Até agora, não estava claro se a empresa seguiria uma estratégia de preços premium como a Zara (Inditex) ou competiria diretamente com redes locais como C&A, Guararapes e Renner. As notícias de hoje sugerem a última opção”, observou o trio de analistas do Santander.

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Apesar da ameaça, os analistas ressaltam que é cedo para concluir que, de fato, os preços serão tão competitivos quanto esperado pela empresa.

A entrada gradual da H&M oferece às empresas brasileiras tempo para ajustar suas estratégias competitivas sem pressão imediata sobre suas margens de lucro, segundo os analistas.

Um dos aspectos mais intrigantes da entrada da H&M no Brasil é sua intenção declarada de adquirir produtos localmente, uma estratégia que pode conferir vantagens competitivas significativas.

Essa abordagem de terceirização local, combinada com o expertise consolidado da empresa em operações de fast-fashion, pode permitir uma implementação mais rápida e eficiente em comparação com outros concorrentes estrangeiros que tentaram se estabelecer no mercado brasileiro anteriormente.

A chegada da H&M traz para o mercado brasileiro um modelo de negócio testado globalmente, com capacidade comprovada de adaptação a diferentes mercados.

O desafio será traduzir essa experiência internacional para as particularidades do consumidor brasileiro, especialmente em um momento em que o setor enfrenta pressão crescente dos concorrentes asiáticos de e-commerce, como Shein, Temu e Shopee, que têm transformado o panorama competitivo com preços ainda mais agressivos.

Potencial de elevar competição no futuro

Embora os efeitos imediatos sejam limitados, uma eventual expansão bem-sucedida da H&M pode remodelar a competição do setor de moda no Brasil, segundo os analistas do Santander.

A empresa possui o potencial de introduzir novos padrões de operação, velocidade de renovação de coleções e estratégias de marketing que podem forçar os players locais a evoluir seus modelos de negócio para manter competitividade.

O anúncio do início das operações no Brasil marca o fim de uma longa espera do setor varejista nacional, que aguardava a chegada da marca desde o final de 2024.

A estratégia inicial da H&M no Brasil revela uma abordagem cautelosa, com apenas duas lojas programadas para os primeiros meses de operação.

A área da unidade inaugural no Iguatemi abrange aproximadamente metade do espaço de uma loja flagship típica da Renner, sugerindo um sortimento mais selecionado de produtos.

A segunda loja, no Shopping Anália Franco, da Multiplan (MULT3), deverá ter o dobro do tamanho, o que indica que a empresa sueca pretende testar diferentes formatos antes de uma expansão mais agressiva.

Aposta no e-commerce

O lançamento simultâneo da loja física e do e-commerce nacional representa uma abordagem omnichannel desde o primeiro dia de operação, algo que pode conferir vantagem competitiva importante em um mercado onde o comércio eletrônico tem crescimento acelerado.

Esta estratégia integrada pode servir como modelo para outras empresas do setor que ainda têm dificuldades para equilibrar suas operações online e offline.

O lançamento da H&M no Brasil adiciona mais uma variável importante ao complexo cenário competitivo do varejo de moda nacional, na avaliação dos analistas.

Investidores terão que acompanhar de perto não apenas a performance inicial da marca sueca, mas também como sua presença influenciará as estratégias de preços, localização de lojas e investimentos em tecnologia dos concorrentes estabelecidos.

A entrada da H&M simboliza a maturidade e atratividade do mercado brasileiro de fast-fashion, mesmo em um cenário econômico desafiador.

O movimento confirma o potencial de crescimento do setor e pode catalisar a chegada de outras marcas internacionais, intensificando ainda mais a competição e, potencialmente, beneficiando o consumidor final com mais opções e preços competitivos.

O próximo período será crucial para determinar se o mercado brasileiro conseguirá absorver mais um player global sem comprometer significativamente a rentabilidade dos varejistas já estabelecidos.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.