‘Guerra dos cofrinhos’ chega à conta global em aposta da Wise com Genial

Ricardo Amaral, country manager da fintech britânica no Brasil, diz a jornalistas que Brasil se tornou hub para expansão pela América Latina, o que pode incluir a Argentina: número de funcionários no país vai dobrar de 350 para 700

Por

Bloomberg Línea — O Brasil se tornou um hub para a expansão da fintech global Wise na América Latina, com desenvolvimento de produtos e inovação tecnológica.

“Vamos dobrar o quadro de funcionários até o final do ano, de 350 para 700. O Brasil é rico em talentos em tecnologia para o desenvolvimento das fintechs”, disse Ricardo Amaral, novo Country Manager da Wise no Brasil e líder de banking da plataforma para a América Latina.

Presente no país desde 2016, a fintech britânica (antes conhecida como TransferWise) tem parcerias com grandes instituições, de incumbentes como Itaú Unibanco (ITUB4) a bancos digitais como o Nubank (NU), que contratam a plataforma para a oferta de serviços de transferências cross-border.

Agora, dá um novo passo com uma parceria com a Genial Investimentos, em iniciativa que pretende atrair mais aportes para o trio de moedas fortes (dólar, euro e libra esterlina) com um novo produto, disse o executivo.

O produto em questão tem saldo atrelado à variação cambial (veja mais abaixo), em uma espécie de conta remunerada com moedas estrangeiras.

Trata-se de um novo capítulo da “guerra dos cofrinhos” que acontece no mercado doméstico, em que diferentes players apostam em contas em reais remuneradas para reforçar a atração de clientes e a captação de recursos.

“A possibilidade de obter retorno sobre saldos em moeda estrangeira tem sido a solicitação mais frequente dos clientes da Wise no Brasil”, disse o executivo.

A Wise enfrenta players como Revolut, Nomad, C6 Bank, Inter, Avenue (Itaú), BTG Pactual e XP, entre outros, na disputa por recursos de brasileiros no exterior em contas globais ou para produtos específicos como investimentos.

Há também uma conjuntura favorável para o crescimento da plataforma, segundo o executivo: o novo cenário cambial, com a valorização do real.

Leia mais: Guerra dos cofrinhos: Nubank e Mercado Livre acirram disputa por clientes

É uma realidade que tem sido explorada não só pela Wise como com outros players que operam contas globais ou serviços de câmbio, por meio de “ofertas” e até notificações no celular de clientes com avisos como “aproveite a queda do dólar”.

Nesta semana, a divisa americana caiu ao menor nível (R$ 5,42) desde agosto do ano passado.

O real liderou a valorização (13%) entre as moedas da América Latina no primeiro semestre.

O movimento de queda do dólar comercial, que chegou a alcançar a cotação máxima histórica de R$ 6,32 em dezembro, ocorre também em um dos períodos de alta temporada de viagens internacionais.

A demanda pela moeda dos EUA está aquecida devido ao período de férias escolares no Brasil e ao verão no hemisfério Norte.

“Viagens, gastos internacionais e diversificação de patrimônio são necessidades dos clientes”, afirmou o executivo, que foi anunciado para o cargo em maio e anteriormente foi VP da Western Union para o Brasil.

Com o novo produto de investimento denominado “Rende +”, usuários da plataforma da Wise terão como aplicar seus recursos em até três moedas (dólar, euro e libra), que serão corrigidos pela variação cambial.

“O cliente pode guardar o dinheiro em moeda forte e se proteger da variação cambial. Os rendimentos variam de acordo com a moeda do saldo aplicado em dólar, euros ou libras. Não existe requisito de valor mínimo, e o cliente pode ativar ou desativar quando quiser”, disse Amaral.

Há riscos, no entanto, de perda do patrimônio em caso de desvalorização cambial.

O executivo destacou ainda que o novo produto oferece acesso imediato aos valores investidos, ou seja, permite que o cliente continue a enviar recursos ou a gastar enquanto continua em rendimento.

Leia mais: Wise estuda mudar listagem de Londres para NY em busca de liquidez para acionistas

“O diferencial, a nosso ver, é ser uma solução para o cliente com acesso aos fundos de maneira imediata, com flexibilidade na hora de usar e com total controle”, disse o country manager da Wise.

Segundo ele, pesquisas internas mostraram que 68% dos clientes convertem seu dinheiro apenas quando necessário ou quando a taxa de câmbio está favorável, mantendo os saldos como “economia” no meio tempo.

Outro dado é que 88% dos usuários convertem valores de reais para outra moeda antes de gastarem o dinheiro, o que reforça a demanda por algum rendimento do saldo nesse período de “espera” em divisa estrangeira.

Acordo com Genial e Argentina na mira

Para viabilizar o novo produto, a Wise procurou um parceiro para atender exigências regulatórias. No Brasil, a fintech britânica possui licenças para atuar como corretora de câmbio e IP (instituição de pagamento), sem aval para oferta de produtos de investimento.

“A Genial possui licença para fazer a intermediação e os reportes regulatórios”, afirmou Amaral, sem revelar detalhes do acordo, como a remuneração pela oferta de produtos.

Ele explicou a diferença da parceria com a Genial em relação aos acordos comerciais com o Itaú Unibanco e Nubank, em andamento desde março deste ano e abril de 2024, respectivamente.

“O Nubank contrata a Wise para fazer a sua conta global. Já a parceria com o Itaú é um meio de o banco aproveitar nossa capilaridade em 160 países e a instantaneidade para transferências internacionais”, disse.

A Wise registrou crescimento anual de 50% na emissão de cartões nos 12 meses até junho e alcançou mais de 3 milhões de cartões no Brasil.

“Estamos crescendo muito no Brasil, que está se transformando em novo hub da Wise para a expansão programada na América Latina em termos de tecnologia e produtos”, disse o Country Manager.

Leia mais: Dólar fraco impulsiona moedas latino-americanas no 1º semestre; real lidera ganhos

Em janeiro, a fintech chegou ao México. E já mira o mercado da Argentina, onde o governo Milei suspendeu recentemente controles cambiais que perduravam havia anos.

“Vemos oportunidades na Argentina, onde se abriu a possibilidade de os cidadãos terem contas em outras moedas”, disse Amaral.

Leia também

Ataque hacker à entidade que liga bancos ao BC expõe fragilidade no combate a fraudes