GPS compra GRSA para enfrentar Sodexo e Sapore no mercado de catering

Grupo de terceirização de serviços, que abriu capital em 2021, espera capturar sinergias e avançar no segmento de serviços de alimentação, mas diz que integração de ativos será gradual

Catering workers prepare canapes for the welcome reception
28 de Março, 2024 | 01:57 PM

Bloomberg Línea — O Grupo GPS (GGPS3), que atua no setor de prestação de serviços (segurança, limpeza e alimentação), tem aproveitado a saída de empresas globais do Brasil para realizar uma série de aquisições, com o objetivo de ganhar escala, reduzir custos e mudar de patamar de receita.

A última ofensiva foi anunciada ontem (27) depois do fechamento do mercado, quando acertou a compra da GRSA, uma empresa de grande porte de soluções de alimentação, controlada pelo grupo britânico Compass. A aquisição permitirá avançar no segmento de catering em todo o território nacional.

O negócio está sujeito à aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão antitruste. Só após a esperada aprovação, o valor da transação, que não envolverá troca de ações, deverá ser divulgado, disseram executivos da GPS em conversa com analistas na manhã desta quinta-feira (28).

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Com a aquisição da GRSA, a GPS vai competir em melhores condições com as gigantes Sodexo e Sapore no mercado de catering, pois vai ganhar abrangência geográfica e acesso a sistemas mais avançados de gestão de insumos alimentícios e cardápio.

Esses sistemas são considerados fundamentais para elevar as margens operacionais, depois que a inflação desafiou o segmento nos últimos anos e ampliou a necessidade de monitoramento e adaptação constantes na planilha de custos, disse Marcelo Hampshire, COO do Grupo GPS e dono de 3,70% da companhia.

Marita Berhnoeft, diretora de governança e relações com investidores (RI), não forneceu previsão sobre quando o deal deve passar pela análise do Cade. Esse foi um dos pontos questionados por analistas para tentar antever um cronograma do processo de integração de equipes e sistemas, bem como o timing do impacto da incorporação de receitas nos futuros resultados financeiros do grupo.

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Entre os desafios da integração, os executivos apontaram o porte da GRSA, que possui cerca de 450 clientes privados na carteira, tem mais de 25.000 funcionários e atua em todo o território brasileiro, principalmente na região Sudeste.

Hampshire disse que a intenção é manter as equipes de gerentes que atuam junto aos clientes. Ele estimou que a integração demore mais tempo do que as aquisições anteriores, que eram de ativos menores.

O negócio também representará uma pausa na sequência de 22 aquisições realizadas pela companhia nos últimos anos. Atualmente, o grupo conduz sete processos de integração de ativos adquiridos no ano passado.

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“Será uma integração mais complexa, mas que resultará em uma grande captura de sinergias no final, quando retornaremos ao patamar histórico de nossas margens”, afirmou o COO, explicando que haverá despesas da integração que vão deprimir as margens ao longo do processo.

Após a esperada conclusão da transação, a GPS vai absorver a operação da concorrente em catering de hotelaria marítima e obter melhores condições de preços de insumos com fornecedores, aumentando sua vantagem competitiva, segundo Hampshire.

“A GPS vai mudar de patamar e bater de frente com Sodexo e Sapore. Vamos competir em condições de igualdade, ganhando escala de compra de insumos”, resumiu o executivo.

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Saída de empresas globais

A saída de algumas companhias globais do mercado nacional de serviços de alimentação se deve principalmente às dificuldades de adaptar seus sistemas de gestão ao ambiente de negócios, segundo o COO da GPS. Ele disse ainda que o grupo britânico tem feito desinvestimentos em outros países.

“O sistema de gestão das multinacionais funciona na Europa. O Brasil tem um ambiente peculiar. Os sistemas dessas companhias estrangeiras não funcionam aqui. Por isso, não pensamos em entrar em outros países, apesar de a tentação ser grande. Lá fora, as gestões de folha de pagamentos e benefícios são diferentes. Não faria sentido para nós, pois perderíamos nosso diferencial competitivo, tendo que começar do zero”, justificou Hampshire.

Na conversa com analistas, ele foi questionado sobre o peso das provisões de processos trabalhistas da companhia adquirida. O COO respondeu que o tema não representa uma preocupação para a GPS.

Ele também disse que, após a esperada conclusão da integração nos próximos anos, a companhia planeja fazer uma incorporação do “ágio relevante” decorrente da aquisição.

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Receita anual de R$ 3,3 bi

Segundo o fato relevante divulgado nesta quinta, a transação será concretizada com a GPS Participações S.A. adquirindo 100% das cotas das sociedades GR Serviços e Alimentação Ltda., Foodbuy Alimentos Sociedade Unipessoal Ltda., GR Manutenção e Facilities Sociedade Unipessoal Ltda., Clean Mall Serviços Ltda. e GRSA Serviços Ltda — ativos que conjuntamente compõem o Grupo GRSA no país.

A receita bruta do Grupo GRSA no período de 12 meses, até setembro de 2023, foi de R$ 3,3 bilhões e agregará uma parcela relevante ao segmento de alimentação do Grupo GPS, segundo o fato relevante.

A GPS abriu capital na B3 em abril de 2021. Neste ano, até ontem (27), a ação acumulava alta de 9%, acima do desempenho do Ibovespa (-4,8%), com fechamento a R$ 19,45. No final da manhã desta quinta, o papel era negociado a R$ 20,55, avanço de 5,6%.

A visão de analistas do sell side

Em relatório divulgado após o fato relevante, a equipe de analistas de equity research do Goldman Sachs manteve a recomendação de compra para a ação da GSP, prevendo níveis saudáveis de retorno para a companhia, com preço-alvo de R$ 28,80, o que implica um upside (potencial de alta) de quase 50%.

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“Continuamos vendo o prestador de serviços terceirizados como um consolidador de mercado com uma avaliação atrativa.”

Para o Goldman Sachs, se o negócio for realmente concluído, a aquisição seria mais do que suficiente para o grupo superar sua projeção de fusões e aquisições de aproximadamente R$ 2 bilhões em receitas para 2024.

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“Uma das principais preocupações dos investidores diz respeito à capacidade da empresa de cumprir o seu guidance de crescimento inorgânico”, apontaram no relatório.

Os analistas observaram ainda que a GPS historicamente adquiriu empresas muito menores (receitas brutas principalmente entre R$ 100 milhões e 500 milhões) e que o novo anúncio pode sugerir uma mudança na estratégia de fusões e aquisições (M&A).

“As receitas brutas da GRSA equivalem a aproximadamente 30% das receitas brutas da GPS (em 2023), o que sugere riscos aumentados relacionados à integração da empresa ao portfólio da GPS”, citou o banco.

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Na teleconferência com analistas, os executivos admitiram que o processo de integração envolve esse risco, destacando principalmente a manutenção ou não do atual time de gerentes que cuidam diretamente dos contratos dos 450 clientes. “O principal risco é perder pessoas, mas vamos buscar a preservação dessas equipes”, disse o COO.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.