Goldman Sachs vê eleição de 2026 como potencial gatilho para M&As no Brasil

Valor em dólar de fusões e aquisições subiu 41% no ano, mas o número de negócios caiu 25%, segundo Seneca Evercore; eleição pode atrair mais investidores e capital ao país, diz Ricardo Belissi, co-head de IB do Goldman, à Bloomberg News

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Bloomberg — A eleição presidencial de 2026 será fundamental para trazer mais atividade ao mercado de fusões e aquisições do Brasil, de acordo com alguns dos principais banqueiros de investimento do país.

“A eleição do próximo ano pode ser um gatilho para que um universo muito mais amplo de investidores aumente substancialmente sua convicção e invista mais capital no país”, disse Ricardo Bellissi, co-responsável pelo banco de investimento no Brasil do Goldman Sachs, em entrevista à Bloomberg News.

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Embora o valor em dólares de M&As anunciados envolvendo empresas brasileiras tenha subido 41% neste ano até 23 de junho, o número de negócios caiu 25%, para 309, segundo a Seneca Evercore.

Parte do que mantém as empresas à margem dos negócios tem sido as taxas de juros elevadas e as incertezas sobre a política fiscal do país.

“A eleição será um momento crucial para entender qual poderá ser a trajetória da política macroeconômica de forma mais ampla”, disse Bellissi.

Segundo ele, hoje em dia “investidores estrangeiros com fortes convicções sobre a importância estratégica do mercado brasileiro não se deixam influenciar pelo ruído do mercado local e permanecem focados em negócios estratégicos e relevantes.”

O governo avalia opções para atingir suas metas de superávit fiscal primário após o Congresso ter derrubado um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos empréstimos a empresas ou na compra de dólares de pessoas físicas.

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O alto custo do crédito também prejudica os negócios. O Banco Central elevou sua taxa básica de juros para 15% ao ano no mês passado, o maior nível desde 2006.

“Os investidores internacionais estão muito menos interessados ​​no Brasil e muito mais relutantes do que vimos em outros tempos”, disse Daniel Wainstein, sócio-fundador do Seneca Evercore, uma butique de assessoria financeira que tem o banco de investimento americano Evercore como acionista.

A maioria dos negócios neste ano se deu em setores considerados “defensivos”, nos quais a receita não flutua de acordo com o mercado brasileiro e não é tão influenciada pela inflação.

Algumas transações ocorreram em setores direcionados ao mercado de exportação, com receita em dólar e menor risco cambial, segundo Wainstein.

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“Empresas dos setores de energia elétrica, recursos naturais e petróleo representam mais de 63% dos negócios neste ano”, disse ele.

‘Negócios únicos’

Dada a elevada volatilidade global impulsionada por fatores geopolíticos e os desafios macroeconômicos específicos do Brasil, fusões e aquisições no Brasil têm se concentrado em “vários negócios únicos com ativos não replicáveis”, disse Pedro Muzzi, co-responsável por fusões e aquisições na América Latina do Goldman Sachs.

Aproximadamente 70% do volume de negócios deste ano referem-se a transações de pelo menos US$ 1 bilhão, disse ele.

A fabricante brasileira de celulose e papel Suzano adquiriu por US$ 1,73 bilhão uma participação de 51% em uma joint venture com a Kimberly-Clark para produzir, comercializar e distribuir produtos como papel higiênico e lenços faciais, em transação anunciada no início de junho. O Goldman foi assessor da Kimberly-Clark.

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O Goldman também trabalhou com o Julius Baer na venda de sua unidade no Brasil para o BTG Pactual, um negócio concluído em março.

O banco auxiliou a CMA CGM, empresa francesa de logística e transporte, na aquisição de aproximadamente 48% da maior operadora de portos do Brasil, a Santos Brasil.

A transação, que deu à CMA uma participação de 51%, foi concluída em abril, e a empresa lançará uma oferta pública obrigatória para adquirir todas as ações em circulação da Santos Brasil.

A Seneca trabalhou com a Manchester Investimentos, uma empresa de assessoria de investimentos, na venda de uma participação minoritária para a XP, a maior corretora do Brasil.

Wainstein disse que os investidores internacionais têm “esperança” de que um “governo mais alinhado com os mercados financeiros” vencerá no próximo ano, mas ainda não agem de acordo porque “é difícil atribuir uma probabilidade a isso”.

“O nível de juros que você tem não é sustentável para as empresas brasileiras”, disse ele. “Gostaríamos de ver um governo fazendo reformas estruturais, cortando despesas. A máquina administrativa precisa ser enxugada de forma mais eficiente, não sufocando o empresário brasileiro.”

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