Bloomberg Línea — A startup de aviação executiva Flapper acertou a aquisição da Black Aviação e anunciou simultaneamente o lançamento de um clube de jatos privados baseado no compartilhamento de propriedade de aeronaves.
O negócio foi estruturado como “all cash in”, embora os valores não tenham sido divulgados pelas empresas.
A operação marca a entrada da Flapper no segmento de propriedade compartilhada de aeronaves, por meio do lançamento do programa Jet Society. O programa, que funciona como um clube no qual proprietários podem trocar horas de voo entre si, permite que os clientes se tornem cotistas de aeronaves.
Segundo Paul Malicki, CEO da Flapper, o modelo de compartilhamento visa atender clientes que voam com frequência suficiente para justificar a propriedade de uma aeronave, mas não necessariamente precisam de uso exclusivo.
Leia mais: Flapper compra 25 eVTOLs para voos no Brasil, Chile, Colômbia e México
A plataforma da Flapper atingirá 4.000 aeronaves cadastradas a partir da semana seguinte ao anúncio, sendo 1.500 na América Latina.
As aeronaves da Black Aviação passarão a estar disponíveis no aplicativo principal da Flapper, além do novo aplicativo Jet Society para propriedade compartilhada.
Parceria de três anos
A fusão consolida uma parceria entre as empresas que começou há três anos, quando Rafael Matos, CEO da Black Aviação, se tornou acionista minoritário na Flapper.
“Nós começamos as conversas já há uns três anos atrás. Inicialmente, o Rafael entrou aqui como um pequeno acionista na Flapper”, disse Paul Malicki em entrevista à Bloomberg Línea.
Matos permanecerá na liderança da empresa adquirida e assumirá também o cargo de Head of Aviation e Aircraft Management na Flapper.
A Black Aviação opera atualmente com duas aeronaves Hawker 400A, jatos leves com capacidade para até oito passageiros. A empresa tem planos de expandir a frota para cinco aeronaves até o final do ano, incluindo um Gulfstream G4 para voos intercontinentais e aeronaves menores como Caravan e King Air.
A base de operações da Black Aviação fica em Belo Horizonte, no aeroporto da Pampulha, onde ocupa 6.000 metros quadrados distribuídos entre dois hangares desde 2018.
“Nessa localidade vamos operar uma oficina de manutenção também para poder suportar as nossas necessidades de frota”, disse Matos à Bloomberg Línea.
Além da frota própria, a Black Aviação gerencia cinco aeronaves de terceiros em seus hangares, cuidando dos processos de manutenção. A empresa também oferece serviços de handling (apoio em terra) no aeroporto de Pampulha.
O modelo de negócio da fusão prevê a manutenção das duas marcas. “A gente enxerga um grande valor agregado em Black e não apenas como uma empresa do mesmo grupo”, disse Malicki.
Expansão
A aquisição foi financiada parcialmente com recursos da rodada de captação de R$ 6 milhões anunciada pela Flapper em fevereiro. “Terminamos aquela captação e uma parte de recursos, 50%, igual como prometemos, foi usada na aquisição”, disse o CEO da Flapper.
Os outros 50% dos recursos seguem sendo investidos no marketplace digital da empresa, que, de acordo com os executivos, apresenta crescimento acelerado nos mercados internacionais. Julho foi o primeiro mês em que a Flapper cresceu e faturou mais no exterior do que no Brasil, segundo Malicki.
A empresa projeta atingir receita anual bruta de R$ 100 milhões nos próximos 12 meses, incluindo as operações da Black Aviação.
A estratégia da Flapper varia conforme o mercado. No Brasil, onde a empresa possui massa crítica de clientes, ela adota um modelo operacional com a propriedade compartilhada. Já nos mercados internacionais, mantém o modelo “100% asset light”, funcionando como uma plataforma de tecnologia similar ao Airbnb ou Expedia.
De olho em MG
O mercado mineiro representa um segmento estratégico para a expansão, segundo os executivos, por ser diversificado comparado a outros mercados, como o do Rio de Janeiro, pois inclui desde indústrias tradicionais até empresários do agronegócio.
“Temos em Minas Gerais clientes em setores fortes como mineração e indústria farmacêutica, além do agronegócio”, afirmou Matos, da Black Aviação.
A estratégia prevê expansão do modelo de propriedade compartilhada para outras cidades além de Belo Horizonte entre 2026 e 2027.
Segundo o CEO da Flapper, o modelo do negócio inspira-se no grupo Directional Aviation, dos Estados Unidos, que mantém diferentes marcas para diversos serviços de aviação executiva.
O setor de aviação executiva no Brasil apresenta crescimento consistente, segundo dados apresentados pelos executivos. O número de aeronaves de táxi aéreo aumentou de 500 para 768 desde o início da Flapper (2016), enquanto a frota de jatos cresceu de pouco mais de 600 para 1.030 aeronaves.
O CEO da Flapper divide o mercado de aviação executiva em três faixas de uso. A primeira se refere a clientes que voam até 5 horas por mês. Nesses casos, o fretamento é a melhor opção, segundo Malicki.
Para aqueles que voam de 5 horas a 15 horas por mês, o modelo ideal é a frota compartilhada. E para o uso acima de 15 horas por mês, o executivo indica que o cliente seja o proprietário único da aeronave.
Para ele, o mercado brasileiro de aviação executiva está “10 anos atrás” do setor hoteleiro em termos de digitalização.
“Nosso papel e nosso objetivo continua sendo democratizar acesso à aviação executiva, através de uma combinação de tecnologia e economia compartilhada, e tudo isso com uma camada muito forte de segurança e atendimento de clientes de alto nível”, disse Malicki.
Leia também
Conheça 10 empresas para ficar de olho neste segundo semestre