Frete grátis acelerou crescimento das vendas, diz líder do Mercado Livre no Brasil

Decisão da empresa de reduzir o valor mínimo para o frete sem custo tem se convertido em maior participação de mercado, segundo Fernando Yunes

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Bloomberg Línea — Em junho deste ano, o Mercado Livre anunciou ao mercado uma decisão considerada ousada pela empresa: frete gratuito para todas as compras no Brasil a partir de R$ 19 – uma redução de 76% em relação ao exigido até então.

O menor patamar de frete sem custo da história da companhia veio na esteira da crescente competição com as plataformas asiáticas. Apesar da preocupação dos investidores com os efeitos para rentabilidade, o Mercado Livre prometia que a iniciativa seria um propulsor para o ganho de participação de mercado.

Para o vice-presidente sênior e líder da empresa no Brasil, Fernando Yunes, a decisão se provou acertada.

“[Foi] uma estratégia de impulsionar o tamanho do mercado de e-commerce, e vimos que isso deu certo. O volume vendido de unidades vinha crescendo por volta de 25%, no segundo trimestre e, a partir de junho, acelerou para 34%”, afirmou Yunes a jornalistas durante o MeliExperience, maior evento da companhia para seus vendedores, realizado nesta quarta-feira (24).

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A receita no segundo trimestre aumentou 34% em relação ao ano anterior, para US$ 6,8 bilhões – acima das expectativas da Bloomberg, que apontavam para US$ 6,6 bilhões.

Por outro lado, o lucro líquido no segundo trimestre foi de US$ 523 milhões, abaixo da estimativa média de US$ 612 milhões dos analistas. Além disso, a margem líquida global caiu de 10,5% para 7,7% no período.

Yunes admitiu que há uma pressão do mercado sobre rentabilidade, já que a postura agressiva no frete “tem uma margem muito desafiada”. Reforçou, no entanto, que a decisão é de longo prazo.

“Esses clientes não vão comprar só produtos de R$20,00: em algum momento eles vão trocar o telefone, comprar um produto para casa, um tênis. Eles vão comprar outras categorias, e aí esse cliente vai ser atrativo e rentável [enquanto, simultaneamente,] aumentamos o tamanho do mercado”, disse.

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A política de frete gratuito começou em 2017, para compras a partir de R$ 120,00 e, nas estimativas da companhia, contribuiu de forma relevante para o crescimento da participação no mercado brasileiro, de um patamar de 20% para algo em torno de 40%.

Yunes destacou que houve um ganho expressivo de participação de mercado com a nova redução do frete grátis, mas sem detalhar números antes da divulgação dos resultados do terceiro trimestre, que serão apresentados em 29 de outubro.

“Vimos um impacto na velocidade de crescimento do mercado: ele acelerou depois que reduzimos o frete grátis para R$ 19. E além disso, ganhamos bastante market share”, disse.

O Mercado Livre não fornece guidance de quando deve retomar os níveis de rentabilidade anteriores, mas aposta no crescimento do volume do e-commerce no Brasil – e na escala do grupo dentro desse mercado – para compensar o movimento no curto prazo.

A companhia estima que a participação do e-commerce no varejo global está atualmente na faixa de 21,4% enquanto o Brasil segue em 14,7%. Nas projeções do Mercado Livre, o país só deve superar o patamar dos 21% em 2028.

Para além da expansão do frete grátis, Yunes citou a ampliação da malha logística como uma alavanca importante para consolidar a rentabilidade. Outro ponto é crescer as opções disponíveis para compra.

O Mercado Livre tem apostado na atração de marcas para a plataforma – são 1.500 lojas oficiais atualmente disponíveis.

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