Fleury dobra investimento em tecnologia e resultados já são visíveis, diz CEO

Grupo de medicina diagnóstica totaliza R$ 86,9 milhões em capex para tecnologia no segundo trimestre e chega a R$ 26 milhões de custo evitado com medidas como agendamento digital, diz Jeane Tsutsui à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — O Grupo Fleury (FLRY3) tem intensificado os investimentos em tecnologia e expandido regionalmente no setor de medicina diagnóstica, que mantém um ritmo de crescimento de 8% ao ano desde 2018.

O movimento ocorre em meio a notícias não confirmadas de que o Fleury, que tem o Bradesco (BBDC4) como maior acionista (24,71%), estaria na mira da Rede D’Or (RDOR3). O grupo segurador do banco negou estar em negociação com a maior rede de hospitais do país.

A estratégia de longo prazo do Fleury aposta na digitalização como diferencial competitivo em um mercado que representa cerca de 20% do custo da saúde suplementar no país.

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A medicina diagnóstica ocupa posição central no sistema de saúde brasileiro, disse a CEO do Fleury, Jeane Tsutsui, em entrevista à Bloomberg Línea. A executiva evitou se manifestar sobre os rumores envolvendo a Rede D’Or.

“Cerca de 70% de todas as decisões médicas, em todas as áreas, passa por exame diagnóstico”, citou a CEO, que reforçou a relevância estratégica do setor e justificou os investimentos crescentes da companhia.

O posicionamento do setor como solução para a sustentabilidade do sistema de saúde reforça as perspectivas de longo prazo.

“Vemos a medicina diagnóstica atuando mais na prevenção, no diagnóstico precoce e contribuindo para a redução do custo total com saúde”, disse.

Diante desse quadro, a transformação digital tornou-se o principal motor de eficiência operacional do Fleury, segundo a CEO.

A empresa dobrou seus investimentos em tecnologia da informação no último trimestre e destinou R$ 86,9 milhões em capex, com 50% direcionado especificamente para soluções digitais.

“Estamos mantendo investimentos em TI digital em torno de 50% do capex. No ano passado, terminamos com 6,4% da receita líquida, e a nossa expectativa é alcançar o mesmo patamar em 2025″, disse a CEO.

Os resultados da digitalização já são mensuráveis.

“Com o agendamento digital tivemos uma captura de R$ 26 milhões de custo evitado [no segundo trimestre]”, contou Tsutsui.

A visão estratégica da companhia vai além dos ganhos imediatos, segundo ela.

“Esses investimentos são, primeiramente, uma alavanca importante de ganho de produtividade atual, mas eles também têm um efeito futuro”, explicou a CEO, que apontou que a digitalização cria vantagens competitivas sustentáveis.

As medidas operacionais implementadas pela empresa geraram economia total de R$ 23 milhões em 2024, com expectativa de manter esse patamar em 2025. Os ganhos vêm de otimizações em processos laboratoriais que reduzem drasticamente tempo de execução e custos operacionais.

Um exemplo citado das melhorias é a reformulação do exame de vitaminas A e E, que teve seu tempo reduzido de 14 horas para apenas 21 minutos. Essa otimização exemplifica como a inovação tecnológica está revolucionando a eficiência operacional do setor, segundo ela.

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A abordagem quantitativa dos resultados diferencia o Fleury no mercado, segundo a executiva.

“É muito importante quantificar isso, porque muito se fala de inteligência artificial e tudo mais, mas quantificamos e seguimos para que isso realmente traga um ganho”, enfatizou o CEO.

A medicina diagnóstica atua na prevenção e no diagnóstico precoce, o que contribui para redução do custo total com saúde.

Expansão geográfica

A estratégia de expansão geográfica complementa os investimentos em tecnologia.

Segundo a CEO, o Fleury foca suas aquisições em “regiões com alto crescimento e desenvolvimento socioeconômico”, com prioridade para a medicina diagnóstica próxima aos centros onde já possui operações consolidadas.

As marcas regionais cresceram 16,5% no segundo trimestre, com aumento orgânico de 10,2%.

Recentemente, o Fleury concluiu a aquisição do Confiance, em Campinas, e do Hemolab, no interior de Minas Gerais, reforçando sua presença em regiões de forte potencial econômico, lembrou a CEO.

Presente na entrevista à Bloomberg Línea, o CFO Jose Antonio Filippo disse que a companhia mantém uma disciplina financeira rigorosa, com alavancagem controlada em 1,1x, dentro da faixa operacional entre 1,0x e 1,2x.

A empresa não pretende aumentar a alavancagem atual.

“Uma vez que tenhamos atendido o nível de alavancagem mais baixo, vamos poder pagar dividendo e fazer aquisições”, disse o CFO.

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A geração de caixa permanece “robusta”, com R$ 487 milhões no segundo trimestre e conversão de caixa de 91%. Esses indicadores financeiros sustentam tanto a estratégia de crescimento inorgânico quanto os investimentos crescentes em digitalização, na avaliação do CFO.

A visão estratégica do Fleury coloca a medicina diagnóstica como peça fundamental na contenção de custos do sistema de saúde.

A combinação de transformação digital, expansão regional seletiva e disciplina financeira consolida o Fleury como protagonista na evolução da medicina diagnóstica brasileira, segundo os dois executivos.

Sazonalidade no segundo trimestre

No segundo trimestre, o Fleury registrou uma queda de 260 pontos base na margem bruta na comparação anual, para 26,1%.

O lucro líquido caiu 12,3%, de R$ 173,6 milhões há um ano para R$ 152,3 milhões entre abril e junho. O resultado ficou abaixo do consenso (R$ 161,4 milhões) das projeções dos analistas, segundo a Bloomberg.

A empresa atribui o resultado principalmente ao efeito calendário, com menor número de dias úteis no período.

O menor número de dias úteis impactou o crescimento total, que ficou em 2,8%. A receita bruta atingiu R$ 2,197 bilhões.

O segmento B2C apresentou desempenho superior, com crescimento de 7,2%, enquanto o lab-to-lab foi mais afetado pela redução dos dias úteis.

O lab-to-lab é o segmento de negócios em que o Fleury presta serviços laboratoriais a outros laboratórios menores, que terceirizam exames mais complexos ou especializados.

A empresa teve menor ganho de eficiência no trimestre devido a dois fatores: menos dias úteis de operação e uma mudança no mix de exames realizados.

“Tivemos mais exames de margem do que de AC [Alta Complexidade, que são exames mais sofisticados, com maior margem de lucro]. Isso acaba aumentando os custos de pessoal e médicos”, disse a executiva.

Tsutsui destacou que o efeito calendário deve ser revertido nos próximos trimestres. “Da mesma forma como agora no segundo trimestre tivemos um menor número de dias úteis, depois há um maior número de dias úteis. Portanto, é apenas um efeito calendário mesmo”, afirmou a CEO.

Segmento B2B em contração

O negócio de B2B do Fleury contraiu 3,1% no período, enquanto a vertical Novos Elos recuou 13,2%. “O efeito do B2B se deu principalmente por uma base de comparação muito forte no ano passado”, explicou a CEO.

Ela se referiu ao volume significativo de exames toxicológicos para motoristas devido à fiscalização intensificada no primeiro semestre de 2024.

No período no último ano também houve alta demanda por exames relacionados à dengue.

“Essa base de comparação tão forte deve desaparecer no segundo semestre”, afirmou o CFO sobre as perspectivas de normalização.

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