Este é o setor em que a Geração Z enfrenta mais dificuldades para conseguir trabalhar

Jovens corretores de imóveis precisam superar mercado imobiliário desaquecido e etarismo para obter sucesso na carreira

Um pedestre passa por prédios de apartamentos luxuosos no bairro Vila Nova Conceição, em São Paulo, na segunda-feira
Por Claire Ballentine - Charlie Wells
20 de Janeiro, 2024 | 02:56 PM

Bloomberg — No que diz respeito a empregos, a corretagem de imóveis parecia algo óbvio para a Geração Z.

Era o auge do boom de ativos da pandemia e os preços de moradia estavam subindo nos Estados Unidos. Os compradores estavam desesperados e às vezes pagavam em dinheiro sem nem ver seus imóveis, e o TikTok estava repleto de dicas sobre como reformar e vender imóveis. O know-how digital da Geração Z os diferenciava.

Porém, no momento em que a mais nova safra de agentes imobiliários chegava ao negócio, o mercado mais amplo – bem como o setor em geral – foi atingido pelo aumento das taxas de hipoteca que congelou o mercado e provocou demissões nas corretoras em 2023. Agora, a nova geração do setor está em um mercado de trabalho enfraquecido e exposta a uma turbulência logo no início da carreira.

Gila Goodman entrou no mercado em um bom momento. Ela já havia tentado ser atriz e servia café nos sets de Hollywood, ganhando “no máximo” US$ 2.500 por mês. Mas em 2021, quando os preços das casas estavam subindo, a jovem de 25 anos conheceu um agente que trabalhava no setor imobiliário.

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“Ele tinha um carro [Mercedes] G-wagon e estava muito bem”, lembra Goodman. “Eu disse: ‘tudo o que você faz é mostrar casas bonitas e conversar com as pessoas’. Isso fez deu ideas”.

Goodman deu uma guinada: tirou licença de corretora de imóveis, reformulou suas contas de mídia social para focar seu conteúdo em imóveis e trocou Los Angeles por Las Vegas, onde os preços das casas estavam em alta. Mesmo com as taxas de hipoteca agora perto de máximas de 20 anos, Las Vegas continua “um tanto competitiva”, de acordo com a empresa imobiliária Redfin. Goodman disse que vendeu 10 imóveis em outubro e ganhou quase US$ 100.000 em comissões.

É um feito invejável e difícil de ser reproduzido por outros jovens agentes. As vendas de imóveis caíram no ano passado, pois os compradores se recusaram a aceitar os custos mais altos dos empréstimos e muitos vendedores em potencial decidiram não colocar suas casas no mercado, alimentando uma escassez de imóveis disponíveis que vem se acumulando há anos. Nas últimas semanas, houve sinais de descongelamento. Por um lado, há muita demanda reprimida de compradores de primeira viagem que ficaram de fora e de proprietários atuais que querem se mudar. E as taxas de hipoteca caíram nas últimas semanas de 2023, ficando abaixo de 7%, já que o Federal Reserve está de olho nos cortes de taxas em 2024.

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Comissões em xeque

Mas os desafios vão além do mercado, com os agentes enfrentando questões existenciais sobre a remuneração baseada em comissões que há muito tempo sustenta o setor imobiliário dos EUA. Em um veredicto bombástico em outubro, um júri no estado do Missouri concluiu que a Associação Nacional de Corretores de Imóveis dos EUA e outros conspiraram para manter artificialmente altas as comissões – geralmente cerca de 5% a 6% do preço de venda dividido entre os agentes do comprador e do vendedor.

Espera-se que uma ação coletiva maior, com foco na mesma questão central, seja ajuizada no tribunal do estado de Illinois no final deste ano, e o Departamento de Justiça dos EUA também avalia essas práticas. O fim do sistema pode significar que os agentes jovens terão dificuldades para obter a renda que essas comissões ofereceram às gerações anteriores em um setor conhecido por seus ciclos de alta e baixa.

Isso tem sido uma preocupação para Sabrina Powell, uma agente de 26 anos de Los Angeles. Depois de estudar administração na faculdade, ela conheceu seu chefe por meio do TikTok, quando ele comentou em um de seus vídeos virais.

“Não me dei conta dos problemas do mercado imobiliário até assinar com uma corretora”, disse ela. “Foi só quando já estava em campo que pensei: ‘não era bem isso que eu queria’.”

Powell contou que os possíveis compradores dizem que querem passar por um agente, sem perceber a quantidade de trabalho que ela faz em uma transação. Apesar de suas preocupações, ela afirma que o mercado é cíclico e está se esforçando para melhorar sua prática.

Os agentes mais velhos já passaram por momentos difíceis antes. E, em parte, a idade é justamente o que tornou a última queda do mercado mais difícil para os agentes mais jovens. De acordo com a Associação Nacional de Corretores de Imóveis dos EUA, o membro típico é “uma mulher branca de 60 anos de idade que cursou faculdade e é proprietária de um imóvel”. Em termos mais gerais, as pessoas tendem a pensar que os corretores são mais velhos. E alguns compradores têm dificuldade em confiar o que geralmente é a maior transação financeira de suas vidas a um profissional relativamente jovem.

“Quando as pessoas me veem, acham que tenho 17 ou 18 anos”, disse Amber Perkins, uma agente de 27 anos de Los Angeles que está prestes a atingir a idade limite da Geração Z. “Já vi pessoas comentarem em minhas redes sociais: ‘ela é jovem e inexperiente, não sabe do que está falando’.”

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Paradoxo

Perkins e seus colegas combatem o paradoxo do início da carreira no setor imobiliário: você precisa de negócios para adquirir experiência, mas só consegue negócios com experiência. Isso é mais difícil ainda em um mercado que sofreu uma queda abrupta em relação às máximas históricas e que agora conta com poucas transações.

Para lidar com isso, Perkins disse que foca em seus pontos fortes como nativa digital e se esforça muito nas redes sociais. Afinal, é lá que ela obtém a maioria de seus contatos.

“Sou jovem”, disse ela. “Mas tenho confiança em minhas habilidades e no que posso fazer para fechar negócios”.

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