Bloomberg — O CEO da CrowdStrike, George Kurtz, revelou no mês passado que doou mais de US$ 1 bilhão em ações da empresa para destinatários não divulgados, em decisão que reduziu drasticamente sua influência sobre a companhia em uma atitude incomum para um empresário e fundador do setor de tecnologia.
A operação é a mais recente em uma série de transações que reduziram seu poder de voto na CrowdStrike para 2,5% dos 31% em 2022, de acordo com o último formulário de referência da empresa.
Kurtz, que tem um patrimônio líquido de US$ 3,2 bilhões, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg, que avaliou sua fortuna pela primeira vez, apresenta um exemplo raro no mundo da tecnologia de um fundador que cede propriedade e controle enquanto ainda lidera a empresa.
Um porta-voz da CrowdStrike disse que os registros refletiam planejamento patrimonial e atividades filantrópicas, sem especificar quais eram essas atividades.
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A redução em sua participação votante foi tão drástica que Kurtz, em dezembro, acionou uma cláusula eliminando todas as ações super-votantes da CrowdStrike — uma classe de ações presente em empresas como Alphabet e Meta Platforms para preservar o poder de voto dos fundadores.
Essas ações Classe B anteriormente possuíam 10 votos cada e formavam a maioria do patrimônio de Kurtz.
“É muito normal que fundadores diminuam progressivamente sua participação”, disse Belén Villalonga, professora da Universidade de Nova York que estuda como fundadores e suas famílias mantêm o controle por meio de estruturas de dupla classe.
“O que não vi com muita frequência é que o fundador se diluiria e venderia abaixo do ponto que desencadearia o desaparecimento desses privilégios.”
A perda no poder de voto de Kurtz ocorreu em um momento turbulento para a empresa.
A CrowdStrike ganhou manchetes em julho passado quando uma atualização de software defeituosa resultou em uma das falhas de TI mais catastróficas da história, que afetou 8,5 milhões de dispositivos Windows em todo o mundo.
A falha também causou bilhões de dólares em danos não segurados e forçou a Delta Air Lines a cancelar milhares de voos, entre outros impactos.
Kurtz foi convocado para testemunhar perante o Congresso, mas a CrowdStrike acabou enviando um executivo sênior em seu lugar para se desculpar em setembro.
Embora as ações da CrowdStrike tenham subido quase 90% desde que atingiu uma baixa em agosto, a empresa ainda se recupera do incidente.
A companhia anunciou na quarta-feira passada que cortaria cerca de 500 empregos, ou 5% de sua força de trabalho global.
Separadamente, promotores e reguladores dos EUA investigam o que executivos seniores da empresa podem ter sabido sobre um acordo de US$ 32 milhões entre a CrowdStrike e um distribuidor, e estão examinando outras transações feitas pela empresa, informou a Bloomberg News na sexta-feira.
Doações para Trust
A maioria das operações com ações de Kurtz foram classificadas como doações, o que significa que as ações foram transferidas sem pagamento em troca.
Diferentemente de alguns bilionários, Kurtz não divulgou o destinatário nos registros. Doações podem ir para fundações filantrópicas, indivíduos, trusts ou outras organizações.
Registros subsequentes de quatro trusts mostram que cerca de metade de suas ações doadas foram transferidas para eles.
Esses trusts, por sua vez, venderam a maioria das ações que relataram ter recebido, obtendo pelo menos US$ 1,2 bilhão em receitas até agora.
Além das ações doadas, Kurtz pessoalmente vendeu ações no valor de mais de US$ 200 milhões desde setembro de 2022.
Em uma discrepância incomum, registros na Securities and Exchange Commission (SEC) mostram que Kurtz doou mais de 11 milhões de ações desde 2022, enquanto o formulário de referência da empresa divulgado na semana passada mostra que suas participações diminuíram apenas em cerca de dois terços disso.
Um porta-voz da CrowdStrike recusou-se a comentar sobre a inconsistência entre os registros. O cálculo de patrimônio líquido da Bloomberg usa a contagem de ações relatada no formulário de referência.
Fundador da CrowdStrike
Kurtz cofundou a CrowdStrike em 2011 depois de vender a startup de cibersegurança Foundstone para a McAfee em 2004.
A CrowdStrike desde então cresceu para se tornar um dos principais provedores de segurança em nuvem, contando entre seus clientes 60% das empresas Fortune 500 e gerando quase US$ 4 bilhões em receita total no último ano fiscal.
Kurtz também se destacou como entusiasta de esportes motorizados com uma extensa coleção de carros e, mais recentemente, como incorporador imobiliário.
Em 2023, ele venceu 12 corridas de automóveis, incluindo a corrida de 10 horas Petit Le Mans, como parte de uma equipe de corrida patrocinada pela CrowdStrike. Sua biografia no site da CrowdStrike Racing diz que ele competiu em centenas de corridas ao longo de mais de 15 temporadas.
Ele também tem sido ativo no mercado imobiliário do Arizona, iniciando o fundo de investimento imobiliário FalconEye Ventures em 2020.
A empresa atualmente desenvolve um empreendimento de uso misto de um bilhão de dólares no terreno de um antigo parque de diversões em Scottsdale, informou o The Real Deal em março.
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