Bloomberg Línea — A diretora de Macroeconomia do UBS Global Wealth Management no Brasil, Solange Srour, defendeu que o ajuste fiscal deve ser a agenda central de qualquer candidato à Presidência em 2026.
Durante o Bloomberg Línea Summit Brasil 2025, em conversa com Marcelo Sakate, editor-chefe da Bloomberg Línea, a economista alertou que a ausência de medidas estruturais pode levar o país a uma crise de desaceleração econômica com inflação e alta da Selic.
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Srour apresentou dados que mostram o agravamento da situação fiscal. A dívida pública saltou de 74% do PIB em 2022 para 84% projetados para o fechamento de 2025, aumento de 10 pontos percentuais em quatro anos.
“É necessário, no mínimo, um ajuste de 3,5, 4 pontos do PIB para que a dívida fique aí onde ela está, não suba mais”, afirmou.
A economista reconheceu que o cenário atual da economia não indica crise. O país cresce acima de 3% há três anos, com desemprego em mínimas históricas e inflação que deve fechar 2025 em torno de 4,5%, abaixo das projeções de 6% feitas em maio. O dólar recuou de R$ 6,30 em novembro para aproximadamente R$ 5,40.
O problema, segundo Srour, está na insustentabilidade de longo prazo. Os juros reais dificilmente cairão dos patamares de 7,5% ou 8% enquanto persistir o desequilíbrio fiscal.
“Seria preciso reescrever os livros de economia para dizer que os juros reais de 8% não vão bater na economia em algum momento”, disse.
A economista criticou a criação de novos programas sociais sem fonte de financiamento sustentável. Segundo ela, programas de luz, gás e transporte são difíceis de retirar depois de implementados. “Estamos piorando essa situação fiscal para frente”, disse.
Srour avaliou que o cenário internacional favorável, com dólar fraco e diversificação de portfólios para emergentes, deu tempo ao Brasil. Porém, enquanto ganhava essa janela, o governo piorou a política fiscal. O impulso fiscal esperado até o primeiro semestre de 2026 é considerado muito elevado pela economista.
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A diretora da UBS descartou soluções graduais. “Não vamos ter muito tempo para pensar em estratégia e adotar um ajuste gradual”, afirmou.
Segundo ela, cortes pontuais de subsídios ou atrasos de pagamentos serão vistos como insuficientes pelo mercado.
Sem ajuste estrutural no gasto obrigatório e programas sociais, Srour projeta alta dos juros reais, pressão cambial e risco de dominância fiscal.
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