Bloomberg — Uma série de operações que miram a participação do crime organizado e fraudes tributárias nos combustíveis têm ampliado a participação de mercado dos postos tradicionais em relação aos chamados “bandeira branca” e impulsiona as ações das distribuidoras na bolsa.
Os dados mais recentes da ANP mostram que, desde agosto, a participação de mercado dos postos sem marca na venda de gasolina caiu 1,7 ponto percentual, para 37,31%.
O posto bandeira branca é aquele independente, não ligado a uma distribuidora específica e não especificamente ligado ao crime.
A Vibra (VBBR3) ganhou 1,3pp em participação de mercado, enquanto a Ultrapar (UGPA3), dona dos postos Ipiranga, teve aumento de 1,5pp.
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Desde agosto, a Polícia Federal tem feito investidas para coibir a participação do crime organizado e fraudes tributárias em toda a cadeira de fornecimento de combustíveis do país.
Na primeira operação, chamada de Carbono Oculto, que reverberou pelos prédios da avenida Faria Lima, em São Paulo, as autoridades informaram que as transações ilícitas totalizavam mais de R$ 23 bilhões.
“O cenário concorrencial parece favorável pelo ganho de market share em cima do posto bandeira branca”, diz Bruno Rignel, diretor de investimentos na Alpha Key Capital. “Melhorar o cenário competitivo traz ganho de volume e margem e é muito positivo se durar.”
Desde a primeira operação de agosto, as ações da Vibra e da Ultrapar subiram ao redor de 18% e 22%, respectivamente, enquanto o Ibovespa sobe pouco mais de 16%.
Com isso, no ano, a Vibra avança mais de 50%, enquanto a Ultrapar sobe 42%, ante cerca de 34% do Ibovespa, considerando o fechamento de ontem.
A melhora se deve a uma redução da concorrência desleal e maior previsibilidade, segundo a Ultrapar, em resposta por email.
“Esse cenário tende a impulsionar avanços importantes para toda a cadeia, fortalecer um setor mais organizado, competitivo e seguro, que beneficia empresas que atuam de forma regular.”
Vibra disse que o ambiente de competição mais equilibrado tem permitido à companhia ampliar seus volumes vendidos. “Em outubro, foram registrados avanços consistentes, especialmente nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.”
Na última quinta-feira (27), as investigações tiveram um novo desdobramento com uma nova operação lançada para desarticular esquema de fraude fiscal envolvendo um dos maiores grupos empresariais do setor de combustíveis do país, a Refit, conglomerado que controla uma importante refinaria no Rio de Janeiro, suspensa desde setembro.
A Refit negou sonegação. Os débitos tributários apontados pela Secretaria da Fazenda de São Paulo estão sendo questionados pela companhia judicialmente, disse em comunicado.
Quando considerado apenas o Rio de Janeiro, atendido pela Refit, a participação dos postos sem marca na venda de gasolina caiu 5 pontos percentuais.
“A suspensão da Refit em setembro esteve fortemente correlacionado com os ganhos de participação de mercado das três maiores empresas e com a redução da diferença de preço entre essas empresas e os postos de gasolina sem marca”, apontaram os analistas Vicente Falanga e Gustavo Sadka, do Bradesco BBI, adicionando que esperam que os esforços continuem, desta vez com a aprovação de um projeto que aperta o cerco para os chamados devedores contumazes, empresas que usam sonegação de impostos como modelo de negócios - alvo de um projeto de lei no Congresso.
A Raízen (RAIZ4) joint venture da Shell com a Cosan, também viu a fatia de mercado subir 0,8pp para venda de gasolina.
As ações da empresa sucroalcooleira, contudo, caíram cerca de 20% no período, em meio a problemas com a dívida e alta alavancagem. Na última quinta-feira (27), contudo, as ações da empresa subiram mais de 2% com a operação sobre fraude, mesmo com o rating da empresa rebaixado a grau especulativo pela Moody’s no mesmo dia.
A Raízen não quis comentar.
“Ao eliminar os concorrentes de longa data que não cumpriam as normas, distorcendo a concorrência e comprimindo as margens, surge uma oportunidade mais precoce do que o esperado para as empresas estabelecidas conquistarem participação de mercado e aumentarem a lucratividade, apoiadas por uma maior conformidade com as normas do setor”, aponta o BTG Pactual em nota assinada por analistas liderados por Gustavo Cunha.
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