De olho em Vaca Muerta, Brasil pressiona por oferta de gás mais barato da Argentina

Com queda da oferta boliviana, governo brasileiro mira produção argentina para abastecer a indústria local, mas custos e infraestrutura ainda são entraves à competitividade

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Bloomberg Línea — O Brasil precisa de mais gás para abastecer a indústria local e vê a reserva argentina de Vaca Muerta como uma oportunidade, acelerada pela queda na produção da Bolívia.

As primeiras exportações da Argentina para o Brasil começaram neste ano, mas, para fortalecer esse mercado, o Brasil exige menos regulamentação para reduzir os preços e torná-los mais competitivos.

Atualmente, o Ministério de Minas e Energia do Brasil estima que o preço médio por milhão de BTU (British Thermal Unit, medida de unidade) comprado da Argentina seja de US$ 10,68.

Ele sai de Vaca Muerta em US$ 3,50 e, a partir daí, diferentes fatores aumentam o seu preço: transporte para a Bolívia, impostos de importação e distribuição no Brasil.

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A meta do Brasil, para que a Argentina seja uma alternativa mais factível para a indústria local, é que o preço fique mais próximo de US$ 7 por milhão de BTU.

O país vê potencial para um mercado de 30 milhões de metros cúbicos por dia. Se isso acontecer, isso poderá gerar US$ 2,8 bilhões em exportações ao ano para a Argentina.

No entanto, para autoridades do governo argentino, que pediram para não serem identificadas ao falarem com a Bloomberg Línea ao tratar de assuntos privados, a meta de 30 milhões de metros cúbicos por dia é superestimada. Eles veem um mercado quase garantido de 10 milhões de metros cúbicos por dia.

O cálculo das autoridades argentinas baseia-se no volume de capacidade ociosa das fábricas de fertilizantes que não estão operando por falta de gás.

Nesse caso, para as indústrias em operação, o preço atual do gás não seria um problema. Mas seria para as novas indústrias, para as quais o Brasil vê mercado para os demais 20 milhões de metros cúbicos por dia.

Para esses casos, que envolvem uma nova queda no custo de capital, preços mais competitivos são necessários.

De acordo com o governo brasileiro, o preço ótimo para novas indústrias deve variar entre US$ 4 e US$ 7 por milhão de BTU.

Pelo lado argentino, para recuperar a demanda - cuja ausência hoje gera uma capacidade ociosa -, um preço em torno de US$ 7 e US$ 10 por milhão de BTU pode viabilizar a operação.

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Como reduzir o preço do gás

O Brasil pressiona por um acordo entre os vários países envolvidos para chegar a uma tarifa regional que permita um preço competitivo. Várias autoridades divulgaram esse objetivo em um seminário em Brasília há alguns dias.

E a Argentina, por sua vez, está reagindo à demanda.

A Secretaria Nacional de Energia (SNE) do país vizinho estuda a eliminação, no curto prazo, dos preços mínimos de exportação, calculados com base no valor do petróleo bruto do tipo Brent (barril de petróleo).

Uma vez eliminados, eles permanecerão atrelados ao preço doméstico até 2028, quando termina o Plano Gás, que regula o mercado local.

A resolução será anunciada nos próximos dias, segundo o site especializado EconoJournal. A empresa também estuda a eliminação dos impostos retidos na fonte, que atualmente estão em 8%.

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Segundo o governo brasileiro, a revisão dos preços é o passo fundamental para o avanço dos projetos de infraestrutura que aumentarão a capacidade de transporte da Argentina para a Bolívia. O gasoduto boliviano está sendo utilizado atualmente.

Existem pelo menos três outras alternativas possíveis.

Duas delas já possuem alguma infraestrutura, mas exigiriam mais obras e investimentos. Uma envolve a rota Uruguaiana, em que já existe um gasoduto que exigiria mais investimentos se essa opção fosse adotada. A partir daí, o gasoduto Uruguaiana para Porto Alegre deve ser concluído.

A segunda alternativa é via Uruguai, com interligação com o Rio Grande do Sul por meio justamente do território do país vizinho. O Paraguai também aderiu à rota, o que exigiria a construção de um gasoduto.

A Argentina aposta no Gás Natural Liquefeito (GNL) para capitalizar o recurso de Vaca Muerta que não seria uma opção para exportação ao Brasil.

No entanto algumas empresas optaram por focar em mercados regionais. É o caso de Total Energies, Pluspetrol e Tecpetrol, entre outras.