De herdeiro imobiliário a banqueiro: a trajetória de Daniel Vorcaro até o Master

Empresário mineiro, cuja família é dona do grupo Multipar, ergueu um ‘império’ em dez anos na Faria Lima com estratégia agressiva de aquisições e captação via CDBs com retorno elevado. Ele foi preso nesta manhã pela Polícia Federal

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Bloomberg Línea — Preso na noite de segunda-feira (17) pela Polícia Federal, o banqueiro mineiro Daniel Vorcaro, de 42 anos, se notabilizou na Faria Lima nos últimos anos pela ascensão meteórica e pela abordagem considerada agressiva de crescimento.

Essa trajetória incluiu uma série de aquisições pelo Banco Master e a oferta de CDBs com promessa de retorno muito acima da média dos seus pares, o que esteve, posteriormente, entre as raízes da crise que levou à sua detenção.

Vorcaro, com uma atuação na sua carreira antes ligada ao ramo imobiliário, começou a se aproximar mais do mercado financeiro em 2016, quando adquiriu uma participação minoritária no Banco Máxima, de Minas Gerais, antes comandado pela família Sabbá e que precisava de capitalização.

Anteriormente, Vorcaro havia sido CEO do grupo Multipar, empresa da família, atuando com empreendimentos imobiliários na região de Belo Horizonte. O grupo foi formado há cerca de 35 anos com as empresas Vorcaro Imóveis e Centro Sul Empreendimentos e cresceu ao longo desse período.

Vorcaro acertou o acordo para assumir o controle do Máxima em 2017 com a promessa de injetar mais de R$ 75 milhões, com aporte inicial de R$ 25 milhões.

Leia mais: Banco Master tem liquidação decretada e Daniel Vorcaro é preso pela Polícia Federal.

Essa mudança de controle só veio a acontecer oficialmente em 12 de outubro de 2019, após autorização do Banco Central: ele passou a dividir o comando com Armando Miguel Gallo Neto, Felipe Wallace Simonsen e Augusto Ferreira Lima.

Com o Máxima como parte de seus negócios, Vorcaro apostou inicialmente na área de crédito imobiliário como principal linha de negócios, com foco no financiamento com garantia do imóvel (home equity). Com o tempo, ampliou a atuação para áreas como serviços de câmbio e gestão e administração de fundos.

Em 2021, o Máxima mudou de nome e passou a se chamar Banco Master, atuando como banco múltiplo com foco nas regiões Norte e Nordeste, principalmente em crédito consignado.

Também arrematou em leilão a seguradora Kovr, que pertencia ao Banco Rural e sofreu intervenção.

No final de 2020, Vorcaro adquiriu o banco de investimentos Vipal, em plano para tornar o Master parte de uma vertical de negócios verticalizada, que incluía a gestora MAM e uma corretora.

Em 2021, o banqueiro declarava que o Master contava com cerca de 500 mil clientes e ambicionava chegar a 3 milhões no prazo de cinco anos, com rentabilidade (ROE) perto de 25% nesse prazo.

Atuação em outros setores

Os planos de Vorcano não se resumiam ao mercado financeiro. Ele demonstrou interesse em investir direta ou indiretamente em outros setores, como turismo, varejo, saúde, energia e futebol. E concretizou esse interesse em diferentes casos.

Vorcaro era citado como dono de uma participação da SAF (Sociedade Anônima de Futebol) do Atlético Mineiro e fatias em diversas empresas, incluindo a farmacêutica Biomm, além da Gafisa, Light, Westwing e Oncoclínicas — as últimas eram vistas como empresas em crise em busca de turnaround.

A companhia de moda Veste (ex-Restoque), dona das marcas Le Lis e Dudalina, recebeu aporte da gestora WNT, cujo maior investidor era o Banco Master.

Vorcaro também investiu no mercado imobiliário, área original de especialização. Os ativos incluíram o Fasano Itaim, em São Paulo, e o hotel boutique Botanique, em Campos do Jordão, no interior paulista na região de serra, além de uma das casas mais luxuosas e caras de Trancoso, na Bahia.

Ele também se tornou uma personalidade presente em eventos da elite paulistana, além da mineira, que já frequentava, em locais de alto padrão como o Fasano Itaim e o Hotel Rosewood.

Também se notabilizou na sociedade paulistana pelos hábitos de luxo.

Vorcaro é dono de um jato executivo modelo Falcon 7X, fabricado pela Dassault Aviation, em nome da Viking Participações, da qual ele é sócio, adquirido em agosto de 2024, segundo o RAB (Registro Aeronáutico Brasileiro), consultado pela Bloomberg Línea.

Leia mais: Banco Master, de Daniel Vorcaro, é vendido para consórcio com Fictor e grupo árabe

Em abril de 2025, o Master anunciava ter encerrado o ano de 2024 com um lucro líquido de R$ 1,068 bilhão, patrimônio líquido de R$ 4,74 bilhões, ativos de crédito de R$ 40,31 bilhões e ROE (Retorno sobre Patrimônio) de 28,5%.

Citava que os resultados haviam sido auditados pela KPMG e refletiam a atuação no varejo, com a ampliação do Credcesta e o crescimento da base de clientes do Will Bank, adquirido em 2024 e unificado com as operações da Kovr e da Credcesta.

O “império” de Vorcaro começou a ruir no final de março, quando anunciou a venda para o BRB (Banco de Brasília), controlado pelo governo do Distrito Federal, em um negócio que acabou rejeitado pelo BC em setembro.

O banco estava em dificuldades financeiras desde que mudanças regulatórias do BC em dezembro de 2023 expuseram fragilidades em seu modelo de negócios baseado na emissão de CDBs com garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) e investimentos em ativos de alto risco como precatórios.

Vorcaro foi preso pela Polícia Federal (PF) no aeroporto de Guarulhos. Ele está detido na Superintendência da PF, em São Paulo.

A prisão ocorreu no âmbito da Operação Compliance Zero, que investiga a emissão de títulos de crédito falsos, gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa. O banqueiro e seus advogados ainda não se pronunciaram.

A PF prendeu Vorcaro no dia seguinte ao anúncio de um acordo de venda do Master para um consórcio formado pelo Grupo Fictor e por um grupo de investidores dos Emirados Árabes Unidos, cuja identidade não foi revelada.

Em paralelo à prisão, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master e empresas associadas com os bens de Vorcaro ficando indisponíveis.

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