Bloomberg Línea — A demanda crescente por armazenamento e processamento de dados tem aquecido o mercado de data centers no mundo – e pode ser um gatilho de crescimento para o setor logístico no Brasil.
Com papel central na América Latina, o país lidera o mercado regional e, segundo a Cushman & Wakefield, São Paulo é o único centro consolidado fora dos Estados Unidos nas Américas, com alto potencial de expansão graças à oferta de energia renovável.
“Queremos ser um dos protagonistas em data center no Brasil. Estimamos um crescimento forte”, afirmou Matheus Cardoso à Bloomberg Línea, em sua primeira entrevista como CEO da Cushman & Wakefield para a América do Sul.
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Cardoso assumiu o cargo em fevereiro de 2025, no lugar do argentino Herman Faigenbaum, que deixou a companhia em setembro passado.
O executivo disse ver a ampliação da atuação em data centers como um dos principais vetores de crescimento da empresa na região.
“Muitas áreas que hoje se veem somente com uma função logística podem se transformar em uma operação para data center dependendo da viabilidade dos recursos”, avaliou.
A Cushman não abre números específicos ou projeções da operação brasileira. Mas o executivo disse estimar um incremento de 20% ao ano em termos de faturamento caso o segmento de data centers decole no Brasil como esperado. Em 2024, a consultoria obteve uma receita global de US$ 9,4 bilhões.
Entre os fatores que sustentam o otimismo da consultoria está a matriz energética do Brasil, que tem uma fatia equivalente a 84% do total atrelada à energia renovável.
A consultoria colocou São Paulo entre as 10 cidades com maior potencial entre os 97 mercados analisados no mundo.
“Acho que pode ser um potencial para atrair os investimentos. É uma forma de o país tentar surfar essa onda”, disse.
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A Cushman não tem estimativa do mercado de data centers no Brasil.
Um levantamento de 2024 da consultoria Arizton Advisory & Intelligence estimou que o país tinha naquele momento 73 data centers em operação – 40 deles em São Paulo. E havia 25 projetos para a cidade no pipeline.
A projeção é que o país receba investimentos em data centers de US$ 5,96 bilhões até 2030 – um crescimento de 200% frente ao atual patamar. Na América Latina, o país tem 41% do total de investimentos no mercado.
Mas, para que o segmento ganhe protagonismo, o mercado aguarda mudanças no ambiente regulatório que tornem o investimento no país mais competitivo.
O grande foco é a esperada medida provisória (MP) dos data centers, que deve ser apresentada pelo governo ainda neste mês.
A expectativa é que a MP conceda benefícios fiscais e isente equipamentos para data centers de impostos, com estímulo à criação e ao desenvolvimento de centros.
Embora o boom global de data centers esteja associado à “explosão” de demanda que envolve soluções com inteligência artificial, a sua vocação vai além e engloba de e-commerce a serviços de nuvem.
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A expectativa da Cushman é usar o relacionamento que já possui com grandes players no exterior – como Odata e Digital Realty – para prepará-los para aproveitar o aquecimento do mercado de data centers no Brasil.
“A ideia é conectar esses players e prepará-los para esse movimento tributário que, se for aprovado, vai trazer grandes vantagens”, disse.
A Cushman pretende aproveitar a expansão da demanda por data centers com a oferta de uma gama completa de serviços, que passa pela escolha de terreno, gestão de obras de facilities – ponto forte da empresa.
“É um mercado com grande potencial. Não na quantidade de data centers a serem estabelecidos, mas nos bilhões que serão movimentados.”
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