Crise no Master ameaça deixar empresas com títulos do banco no ‘limbo’, dizem fontes

Oncoclínicas, Metalfrio e fundo de pensão Rioprevidência estão entre as empresas que têm em seus balanços instrumentos de dívida emitidos pelo banco em dificuldades financeiras, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg News

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Bloomberg — As dificuldades do Banco Master ameaçam se espalhar para empresas e fundos de pensão que ajudaram a instituição a crescer em ritmo acelerado nos últimos anos.

O banco liderado por Daniel Vorcaro tem buscado novo capital após se expor demais a ativos arriscados.

Quando reguladores rejeitaram neste mês seus planos de fusão com o Banco de Brasília (BRB), o Master ficou com poucas opções — e os detentores de sua dívida, à espera de um desfecho.

A Oncoclínicas e a fabricante de equipamentos de refrigeração comercial Metalfrio estão entre as empresas que têm instrumentos de dívida emitidos pelo banco em seus balanços, segundo pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela Bloomberg News.

Fundos de pensão como a Rioprevidência, que atende o estado do Rio de Janeiro, também estão expostos, disse uma delas.

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Ainda não está claro quantas outras empresas estão expostas.

Companhias brasileiras precisam registrar em seus balanços as suas aplicações em instrumentos de dívida, mas não são obrigadas a detalhar valores por emissor ou tipo de papel.

Qualquer repercussão das dificuldades do Master também pode afetar o aquecido mercado local de dívida corporativa do Brasil — o que remete a 2023, quando a crise na Americanas, em particular no primeiro semestre, destacou a rapidez com que o sentimento do investidor pode mudar diante de choques inesperados.

“Há um precedente com eventos disruptivos, como o caso da Americanas, que foi pontual, mas na ocasião o mercado reagiu de forma adversa”, disse Saverio Minervini, chefe de ratings corporativos para a América Latina da Fitch Ratings. “Isso pode afetar o acesso ao crédito corporativo.”

Representantes do Master, da Metalfrio e da Rioprevidência não responderam a pedidos de comentário. A Oncoclínicas preferiu não se manifestar.

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O Master atraiu atenção do Banco Central nos últimos anos ao emitir dívidas - principalmente CDBs - com garantia do Fundo Garantidor de Créditos, o FGC.

Depois, uma mudança de regra — que passou a exigir relatórios mais transparentes sobre precatórios e maior alocação de capital para cobrir perdas potenciais — expôs fragilidades em suas finanças.

Banco Central

Embora a rejeição da fusão com o BRB tenha levantado preocupações de que o banco pudesse ser liquidado caso não encontre alternativas, há diversos critérios que precisam ser atendidos antes de uma intervenção do BC.

O mais importante é o acesso à liquidez. No caso do Master, sua linha com o FGC funciona como uma forma de liquidez, afastando uma intervenção por ora.

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O fundo garantidor, no entanto, oferece algumas proteções para investidores expostos a bancos que quebrem, incluindo a cobertura de até R$ 250 mil por CDB.

Mas algumas empresas têm até R$ 350 milhões em CDBs do Master em carteira, muito acima desse limite, segundo pessoas próximas ao tema.

O fundo, no entanto, não cobre outro tipo de dívida, as chamadas letras financeiras.

Fundos de pensão detêm mais de R$ 1,5 bilhão nesses papéis do Master, segundo uma fonte. Só a Rioprevidência teria quase R$ 1 bilhão exposto.

“Para os depósitos segurados, o pagamento é feito em até uma semana”, disse Rafael Schiozer, professor de finanças da FGV em São Paulo. “Para valores acima de R$ 250 mil, isso pode levar anos.”

Em caso de insolvência, qualquer valor acima do limite de R$ 250 mil passa a integrar a massa falida do banco, em que o pagamento segue uma ordem de prioridade, que privilegia obrigações como compensações trabalhistas e créditos tributários.

“Haveria necessidade de alguma forma de recapitalização do fundo, seja aumentando a taxa de recomposição ou por outro mecanismo, como o Tesouro entrar em cena, o que considero improvável”, disse Schiozer.

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Prêmio de risco

Um efeito mais amplo das dificuldades do Master pode ser um golpe para empresas que já sofrem com juros no maior nível em quase duas décadas — com a Selic em 15% ao ano.

Os prêmios de risco sobre títulos locais emitidos por companhias supostamente expostas ao Master se ampliaram no mercado secundário.

Por exemplo, as notas locais da Oncoclínicas com vencimento em 2029 rendem cerca de 16% e são negociadas a cerca de 70% do valor de face, segundo dados compilados pela Bloomberg News.

A Oncoclínicas, que presta serviços médicos ambulatoriais em áreas como oncologia, tem enfrentado pressões de caixa e alto endividamento.

A empresa havia contratado assessores para uma potencial capitalização e recebeu uma proposta de recapitalização de resgate por parte de uma gestora especializada em situações especiais.

Em uma carta vista pela Bloomberg News, a firma citou o fato de que parte dos títulos e investimentos da Oncoclínicas pode estar alocada em CDBs do Master, afirmando que a recuperação integral desses recursos é “improvável”.

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