Complexidade regulatória e fiscal limita competitividade do Brasil, diz CEO da JBS

Em painel do Bloomberg Línea Summit, Gilberto Tomazoni apontou gargalos que limitam a produtividade do país vs outros mercados onde a empresa opera e defendeu a simplificação tributária para atrair investimentos de longo prazo

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Bloomberg Línea — O CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, identificou gargalos regulatórios e fiscais como fatores que limitam a competitividade do Brasil em relação a outros países onde a empresa opera.

Durante o Bloomberg Línea Summit 2025, em conversa com Marcelo Sakate, editor-chefe da Bloomberg Línea, o executivo comparou a estrutura operacional da companhia em diferentes mercados.

A JBS possui unidades produtivas em 16 países e cinco continentes, com 53% do faturamento concentrado nos Estados Unidos.

Mas é no Brasil que a JBS enfrenta seus maiores desafios do ponto de vista de complexidade tributária. Segundo Tomazoni, isso faz com que a empresa precise de uma grande equipe dedicada à área fiscal no Brasil.

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“A equipe que nós temos de advogados nos Estados Unidos é muito menor do que nós temos aqui no Brasil”, afirmou.

O executivo mencionou também diferenças no processo de inspeção sanitária.

Segundo ele, o Brasil emprega um número significativamente maior de pessoas no controle de sanidade dos produtos em comparação com outros países, sem que isso signifique necessariamente melhor qualidade. “Quer dizer que no Brasil a inspeção acontece de maneira diferente”, explicou.

Tomazoni destacou iniciativas do Ministério da Agricultura em andamento, como a autogestão, que podem acelerar ganhos de eficiência.

Sobre a reforma tributária, o CEO afirmou que a simplificação aumenta a competitividade e proporciona mais segurança para investimentos de longo prazo.

O executivo abordou o desafio da mão de obra qualificada, relatado por empresários de diversos setores.

A JBS mantém fábricas em municípios pequenos onde a disponibilidade de trabalhadores são limitadas e investe por conta própria em qualificação.

“Não dá para construir um futuro sem educação”, disse.

A empresa desenvolve parcerias com o meio universitário e o governo, incluindo acesso ao Cadastro Único para oferecer vagas a beneficiários do Bolsa Família.

O Instituto JBS atende 1.100 crianças a partir de 11 anos em período integral, combinando conteúdo obrigatório do MEC com formação técnica da companhia.

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Tomazoni observou que o Brasil tem mais advogados que engenheiros, situação que considera inadequada para um país que precisa aumentar a competitividade.

O executivo citou o ranking global de competitividade do IMD (International Institute for Management Development) e da Fundação Dom Cabral, que coloca o Brasil na 58ª posição entre 69 países, com avanço de quatro posições.

Por outro lado, há oportunidades de avanço e geração de riqueza não exploradas, segundo ele. A pecuária brasileira foi citada como exemplo.

“O Brasil nos últimos 30 anos aumentou a produção em 120% e usou 20% a menos de área. Porém, quando você olha os Estados Unidos, o país tem a metade do rebanho brasileiro e produz mais carne”, comparou.

Segundo ele, a estratégia de negócios da empresa está centrada em produzir mais com menos, aumentando a produtividade de fornecedores, clientes e operações internas. “Produtividade e sustentabilidade não são antagônicas”, disse.

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