Como o Grupo Wine consolidou sua liderança nacional com novo foco em rentabilidade

Empresa alcança o melhor Ebitda de sua história e dobra o lucro no segundo trimestre com mudança de estratégia, segundo conta o CEO Alexandre Magno à Bloomberg Línea; expansão da operação no México é uma das prioridades nos planos

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Bloomberg Línea — Quando Alexandre Magno assumiu o comando do Grupo Wine, em novembro de 2024, a empresa já tinha uma posição de liderança do mercado nacional.

Mas o cenário macroeconômico marcado por juros altos, câmbio volátil e consumo pressionado no mundo indicava que a próxima fase não passaria mais por ampliar a liderança a qualquer custo no mercado de vendas de vinhos. O resultado que registrava prejuízo em dados períodos era um ponto de atenção.

A prioridade, segundo o executivo, ficou clara desde a primeira reunião com o conselho: “O foco deveria ser a rentabilidade, para preservar a geração de caixa e as margens e fazer a empresa mais saudável financeiramente”, disse Magno em entrevista à Bloomberg Línea.

O novo plano bianual (2025–2026) sob sua direção tem como norte, portanto, a rentabilidade, e não o crescimento acelerado da operação de vendas online, em lojas físicas e no B2B. Isso exigiu, segundo ele, “quase que transformar a cultura da empresa”, que nos últimos cinco anos priorizava a expansão.

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A nova estratégia começou a se refletir nos números financeiros, segundo os resultados do segundo trimestre divulgados na noite de quinta-feira (14).

O Grupo Wine registrou seu melhor Ebitda da história, de R$ 45,5 milhões, e viu seu lucro líquido mais que dobrar para R$ 15,9 milhões (crescimento de 107,8%).

Essa melhoria aconteceu com um faturamento que continuou em linha com o realizado no mesmo período do ano passado, com receita líquida de R$ 362 milhões (alta de 0,1% na base anual).

O segundo trimestre registrou ainda um ganho de 1,8 ponto percentual na margem bruta, que passou de 46,1% para 47,9%.

No acumulado do ano, a companhia reverteu o prejuízo de R$ 12,8 milhões em 2024 para um lucro de R$ 14,3 milhões.

A margem Ebitda atingiu 21,7% no segundo trimestre, alta de 3,2 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2024.

“Os resultados por si só mostram que estamos na direção certa”, disse Magno. “O que não dá é para acharmos que o trabalho está feito e acabar desvirtuando”.

Mudança de mentalidade

Os números do segundo trimestre refletem a mudança estratégica implementada por Magno desde que assumiu como CEO do grupo.

O executivo, que está na companhia desde março de 2018, atuava então como COO (Chief Operations Officer) e chefe de RI. Já havia sido diretor de E-Commerce e de Novos Negócios no grupo, depois de uma carreira no setor de telecom.

Os resultados foram impulsionados por ajustes na política comercial e de precificação, além de rigor maior em custos operacionais, com redução de 14,9% nas despesas com vendas.

A transição envolveu alinhar toda a equipe a um novo “mindset de rentabilidade” e reduzir a dispersão de iniciativas, segundo o CEO.

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“Sabemos exatamente o que temos que fazer e, principalmente, o que não vamos fazer e o que não queremos fazer”, disse.

Entre os pontos descartados estão novas linhas de negócio e diversificação para outras categorias. “Vamos continuar focando no vinho”, disse.

A mudança cultural veio acompanhada de medidas práticas para elevar a margem. A primeira foi a disciplina de preços: evitar grandes pedidos com margens reduzidas e não conceder descontos que possam “corroer” o lucro. “Tem que haver uma disciplina de gestão de preço muito grande na empresa”, disse Magno.

Outro ajuste foi otimizar o investimento em marketing, priorizando ações com retorno mais rápido e cortando gastos de baixa eficiência.

Na logística, que custa à empresa cerca de R$ 100 milhões por ano, houve consolidação de cargas e negociações mais vantajosas com transportadores.

“Ainda temos algumas coisas para fazer, principalmente do ponto de vista de logística, para podermos apresentar resultados ainda melhores”, disse.

IPO fora dos planos imediatos

Apesar da mudança de foco para priorizar rentabilidade e melhorar a situação financeira da empresa, Magno disse que a divulgação dos resultados neste momento não está alinhada a uma nova tentativa de IPO do Grupo Wine.

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A empresa chegou a anunciar que buscaria abrir o capital em 2020, mas acabou desistindo de avançar naquele momento. Mais recentemente, diretores mencionaram um novo movimento em 2024. Agora, Magno descartou uma oferta pública inicial no médio prazo.

“Não vemos uma janela de IPO viável para os próximos dois anos, principalmente pelo contexto de mercado”, disse. Segundo o executivo, quando uma janela se abrir, o foco dos bancos estará em “empresas maiores do que a Wine”.

Mesmo assim, a estratégia de rentabilidade visa preparar a companhia para uma eventual oportunidade.

“Já passou a época em que as empresas que conseguiam fazer IPO eram as que apresentavam muito crescimento e zero rentabilidade”, observou. Segundo ele, hoje “o investidor está muito mais focado em geração de caixa e resultados”.

Crescimento além do Brasil

Os resultados apresentados pela Wine vão contra o movimento global do mercado de vinhos. Em países e regiões que têm o consumo mais consolidado da bebida, como os EUA ou a Europa, há uma pressão constante causada pela redução do consumo de álcool e pela guerra comercial iniciada por Donald Trump.

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O contexto negativo para europeus pode beneficiar o Brasil como destino alternativo, segundo Magno.

“Muitos produtores [europeus] já buscam a Wine, querendo desenvolver e fazer planos mais agressivos conosco”, disse Magno, que apontou que a esperada concretização do acordo comercial entre Brasil e União Europeia pode ampliar essas possibilidades.

Isso não significa que haja planos de expandir as atividades no país, dado que o Grupo Wine se coloca de forma confortável com a liderança. Ainda assim, Magno disse que a empresa vê no exterior a possibilidade de continuar a crescer e monitora o cenário global em busca de oportunidades.

A prioridade nesse plano de expansão é o México, mercado em que a Wine iniciou as operações em 2021 e pretende acelerar o crescimento.

“Estamos muito animados com o que estamos fazendo no México. É um país muito parecido com o Brasil”, afirmou. Hoje responsável por cerca de 3% do faturamento do grupo, a operação mexicana pode chegar a 25% em cinco anos, segundo as projeções internas.

A estratégia no país é aproveitar a escala global da companhia. “Os produtos que temos no México são os mesmos que existem aqui, então a empresa se vale muito da escala para conseguir levar os produtos para lá”, explicou.

O país é visto como um estudo de caso para uma expansão ainda maior. Caso a aposta se mostre realmente positiva, a empresa planeja entrar em outros mercados da América Latina, do Leste Europeu e até do Sudeste Asiático - que ainda estão sendo estudados para determinar os próximos passos, disse Magno.

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