Como esta empresa do Paraná prevê faturar R$ 1 bilhão com imóveis em steel frame

Espaço Smart, de Ponta Grossa, cresce 40% ao ano e espera chegar a 65 lojas em todo o país para atender à demanda por casas residenciais de luxo e comerciais com estrutura de aço, diz sócio fundador Fernando Scheffer à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — O que começou como uma aposta para diversificar os negócios em uma empresa familiar do Paraná tem se tornado rapidamente uma operação no setor de casas de alto padrão em steel frame que deve faturar cerca de R$ 700 milhões em 2025, com presença nas cinco regiões do Brasil.

O método de construção civil, que dispensa o uso de tijolos e cimento, utiliza estruturas de aço galvanizado para formar o esqueleto de sustentação de casas e comércios, e as paredes são fechadas com placas de drywall e outros materiais.

Foi esse modelo que atraiu Fernando Scheffer e sua família, que é dona do Grupo Águia Sistemas, de Ponta Grossa, no interior do estado da região Sul.

“Nós temos hoje a maior indústria de steel framing da América Latina, com uma capacidade de aproximadamente 40.000 toneladas por ano”, disse Fernando Scheffer em entrevista à Bloomberg Línea. Segundo ele, a empresa trabalha atualmente com 60% da capacidade.

A empresa de mais de 50 anos já atuava no fornecimento de estruturas metálicas e sistemas de logística interna para galpões, incluindo centros de distribuição da Amazon e do Mercado Livre no Brasil, e seus executivos enxergaram no steel frame uma forma de expandir sua operação.

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O negócio começou a ser explorado no início dos anos 2010, inicialmente com o fornecimento das estruturas metálicas de aço leve.

Em 2015, o grupo decidiu abrir a Espaço Smart, um negócio que atua no varejo, para fornecer não apenas os esqueletos de aço mas também os demais materiais necessários para as obras.

A empresa conta hoje com 44 lojas em 20 estados e disponibiliza ainda uma equipe de engenheiros e arquitetos para fazer projetos próprios em steel frame.

O plano é se tornar uma espécie de one-stop-shop para clientes que desejam executar obras com esse método de construção, segundo Scheffer, sócio fundador e diretor de marketing da Espaço Smart.

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O negócio tem se expandido em ritmo acelerado nos últimos anos.

Até julho de 2025, a empresa registrava um crescimento de 42% no faturamento em relação ao ano passado, segundo o executivo.

A projeção é chegar a R$ 1 bilhão em receita anual até 2027, se igualando ao faturamento do grupo Águia Sistemas, que deu origem ao negócio.

A estratégia está baseada principalmente na expansão do número de lojas nos próximos anos. A empresa espera atingir 65 unidades no Brasil até 2027, cobrindo todos os estados do país.

O número foi definido após um estudo de geolocalização encomendado pela empresa, no qual ela identificou 73 cidades no Brasil que teriam demanda para uma loja da companhia, levando em conta dados de tamanho de população, números de obras, solicitações de alvarás e quantidade de engenheiros e arquitetos, entre outros indicadores.

Dessas 73 cidades, a empresa escolheu 65 locais para instalar lojas.

As mais recentes foram abertas neste ano nas capitais São Luís, Fortaleza, Teresina, João Pessoa e Rio de Janeiro. Até dezembro, estão previstas ainda as inaugurações de uma unidade em Belém, outra em Manaus e uma segunda unidade tanto na capital paulista como no estado do Rio de Janeiro.

Para viabilizar a expansão, a empresa investiu R$ 60 milhões no ano passado, sendo R$ 20 milhões nas lojas e R$ 40 milhões em seu parque fabril.

O grupo tem quatro fábricas, cada uma dedicada à produção de um tipo de produto: perfis de steel frame, perfis de drywall, esquadrias para PVC e outras linhas de suporte. Além disso, ela opera 10 centros de treinamento no país, para ajudar a formar a mão de obra especializada para a instalação.

Uma casa de 250 metros quadrados, de acordo com o executivo, utiliza cerca de 7 toneladas de perfis de steel frame. Com a atual capacidade de produção, a empresa estaria preparada para atender a demanda até pelo menos a metade de 2026. E um novo investimento já está em estudo, segundo ele.

No ano passado, a empresa vendeu materiais para um total de 826 casas. Segundo Scheffer, a expectativa é chegar à marca de 1.000 empreendimentos neste ano.

As residências unifamiliares de alto e médio padrão são o principal nicho de mercado da companhia, segundo o executivo, especialmente em condomínios em cidades de médio porte no interior do país.

Mercado além de casas de luxo

Mas ele disse que tem visto o crescimento da demanda por outros tipos de obras em steel frame, nas quais a empresa já trabalha.

Entre elas estão comércios em geral, como farmácias; empreendimentos no setor de hospitalidade, como hotéis, resorts e chalés para aluguel por temporada no Airbnb; fachadas em steel frame para prédios de apartamentos construídos em alvenaria; e também obras públicas, para a construção de escolas, creches, unidades básica de saúde (UBS) e unidades de pronto atendimento (UPA).

A Espaço Smart também tem trabalhado para atender grandes incorporadoras no fornecimento de materiais de steel frame, entre elas a MRV e a Alpha Casas, do grupo Alphaville, segundo o executivo.

O mercado de construção civil no Brasil é dominado tradicionalmente por obras de alvenaria tradicionais há décadas. Mas o método construtivo por steel frame, comum em países como o Japão, tem ganhado espaço como uma alternativa no país e atraído investimentos de empresas. Além da Espaço Smart, uma delas é o Grupo Steel Corp, que tem o empresário Roberto Justus como CEO e investidor.

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Segundo Scheffer, a demanda por segunda moradia e casas em condomínio aumentou depois da pandemia. “As pessoas tinham bastante urgência para se mudar e passaram a buscar formas de construções industrializadas.”

Esse é um dos fatores que fatores têm contribuído para o crescimento do steel frame no país, na visão do executivo.

Além disso, a falta de mão de obra em meio a um mercado de trabalho aquecido também tem levado à maior procura por steel frame, em razão da menor necessidade de pessoas para realizar o serviço.

O executivo da Espaço Smart disse que uma casa de 250 metros quadrados requer quatro montadores para finalizar a obra em seis meses, enquanto uma de alvenaria precisaria de cerca de oito pedreiros para ser construída em um ano e meio.

De acordo com o executivo, o tempo mais curto é especialmente vantajoso para o comércio ou para obras públicas.

O custo da obra, segundo ele, é equivalente. Tanto uma casa de alto padrão em steel frame quanto uma em alvenaria tem um custo estimado entre R$ 4.000 a R$ 6.500 por metro quadrado, segundo ele.

Mas a vantagem, de acordo com o executivo, é a previsibilidade. Enquanto em uma casa de alvenaria é comum o proprietário ter um custo final consideravelmente maior do que esperado no início da obra, no steel frame essa “surpresa orçamentária” chega a 5% do valor total, segundo ele.

O mercado de steel frame é incipiente, e os números do setor ainda são escassos.

Mas, com base em dados de fornecimento de aço específico para o segmento por empresas como ArcelorMittal e Usiminas, além de números de importação, Scheffer estima que o método construtivo já responde por cerca de 1% do mercado de construção de casas de alto padrão em condomínios.

O crescimento, no entanto, tem sido acelerado. “Dá para dizer que de 2023 para 2024 o mercado do steel frame para residências de alto padrão unifamiliar praticamente dobrou”, afirma.

O que a experiência da Espaço Smart e de outras empresas do setor mostra é que o segmento oferece uma oportunidade vasta para crescer no país, onde a construção industrializada é pouco difundida.

“Eu brinco que, até cinco anos atrás, eu sabia de todas as obras de steel frame que estavam acontecendo no Brasil. Hoje não tem a menor chance de eu saber”, afirmou o sócio fundador da Espaço Smart. “Mas ainda tem um ‘oceano azul’ para desbravar nesse mercado.”

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