Como a adequação da JBS às regras do mercado americano impacta seu negócio

Adequação da empresa a normas do mercado de capitais americano tem ajudado a elevar rating dos bonds e reduzir prêmio de risco para investidores

JBS também está no processo de substituir seus ‘bonds’ em dólares existentes por novos e está buscando aprovação dos acionistas para negociar suas ações, que atualmente estão listadas em São Paulo, na cidade de Nova York
Por Gerson Freitas Jr - Esteban Duarte
21 de Agosto, 2023 | 03:00 PM

Bloomberg — A decisão da JBS (JBSS3) de submeter seus negócios a mais inspeções nos Estados Unidos parece estar dando resultados positivos aos investidores de seus bonds, já que os títulos da maior processadora de carne do mundo estão superando em grande parte os de seus pares.

A empresa brasileira se tornou no mês passado uma empresa com relatórios públicos nos Estados Unidos, conforme exigências da Lei de Bolsas de Valores dos EUA de 1934, depois de receber a aprovação do órgão regulador.

A JBS também está no processo de substituir seus bonds em dólares existentes por novos e busca aprovação dos acionistas para negociar suas ações, que atualmente estão listadas em São Paulo, na Bolsa de Nova York.

As decisões estão ajudando a elevar as notas da JBS. Os US$ 10,7 bilhões em dívidas pendentes da empresa tiveram um retorno médio de 3,7% desde 19 de maio, quando submeteu o registro à SEC, equivalente nos EUA à Comissão de Valores Mobiliários brasileira.

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Esse é o melhor desempenho em comparação com os pares em um índice da Bloomberg de títulos de alimentos e bebidas classificados como grau de investimento, que perdeu 1,7% durante o período.

O prêmio que os detentores de títulos exigem para manter os US$2 bilhões em notas com vencimento em 2033 da empresa em relação aos títulos do Tesouro que vencem na mesma época diminuiu mais de 1 ponto percentual desde o pico em maio.

Ao se submeter a uma inspeção mais rigorosa, a JBS deseja acessar um grupo mais amplo de investidores, obter mais cobertura de analistas, melhorar sua reputação e ser vista mais como uma empresa dos EUA do que uma brasileira.

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A empresa já gera aproximadamente metade de sua receita anual de US$ 72 bilhões a partir de suas operações de carne bovina, suína e de frango nos Estados Unidos, enquanto o Brasil representa apenas 12%.

“Teremos um melhor compliance”, disse o diretor financeiro (CFO) Guilherme Cavalcanti em uma entrevista, referindo-se ao novo status da empresa como uma empresa registrada nos EUA. A partir deste trimestre, a empresa reportará seus ganhos integralmente em dólares americanos e seguirá os padrões estabelecidos pelo Public Company Accounting Oversight Board, disse ele.

A JBS teve que lidar com juros mais altos do que a Tyson Foods e outros concorrentes dos EUA desde que começou a buscar investidores de dívida internacionais há quase duas décadas. Isso se deve em parte aos riscos e custos associados à sua sede no Brasil.

As classificações de crédito do produtor de carne também são limitadas por preocupações de governança, já que a empresa continua sob controle rigoroso da família Batista, disse a Fitch Ratings Inc. em uma nota no início deste mês.

Em 2017, a JBS esteve no centro de um enorme escândalo de suborno envolvendo os irmãos bilionários Wesley e Joesley Batista, que administravam a empresa na época. A J&F Investimentos, a holding familiar que controla a JBS, se recusou a comentar.

“Ficar sob a supervisão da SEC tem o potencial de dar aos investidores mais segurança ao investir no nome, especialmente porque é uma empresa com sede no Brasil”, disse Ashley Allen, analista de crédito da Franklin Templeton Cos. As ações recentes da empresa, incluindo o plano de listagem nos EUA, “deveriam levar a um custo de capital mais baixo para a JBS”.

“Com base nos problemas passados de governança corporativa da empresa, a maior supervisão regulatória adicional proporcionará grande apoio aos detentores de títulos”, disse Cesar Fernandez, diretor de Investimentos da Alpha Credit Advisors.

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A medida também é esperada para fornecer liquidez adicional, reduzir riscos e “auxiliar no processo da empresa de se converter em uma empresa verdadeiramente global”, acrescentou.

Segundo Cavalcanti, a grande maioria dos detentores de títulos da JBS deverá ter concordado em substituir seus papéis por aqueles registrados na SEC até segunda-feira, quando o período de troca se encerra. Isso significa que a dívida da empresa não enfrentará mais restrições de negociação nos EUA. “Os detentores de títulos sempre pediram o registro”, afirmou o executivo.

Assim como a maioria dos títulos emitidos por empresas latino-americanas, os títulos existentes da JBS são negociados sob regras de isenção e só podem ser adquiridos por investidores qualificados. Em agosto de 2022, a JBS concordou com os detentores de títulos em buscar o registro de seus títulos na SEC.

Os rendimentos de seus títulos aumentariam em 0,25% ao ano se a empresa não cumprisse sua promessa dentro de 12 meses.

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O compromisso, conhecido como “direitos de registro”, tornou possível incluir os títulos da JBS no índice de referência da Bloomberg para emissores de grau de investimento nos EUA. A empresa é a quinta maior emissora de dívida entre as empresas de alimentos e bebidas no índice.

Outras empresas brasileiras de commodities que possuem títulos registrados na SEC incluem a produtora de celulose Suzano, a gigante de minério de ferro Vale e a Petrobras.

A listagem das ações nos EUA “aumentaria substancialmente” a capacidade da empresa de usar o patrimônio líquido para financiar o crescimento, disse o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, em entrevista no mês passado. Isso, por sua vez, poderia ser uma boa notícia para os detentores de títulos, pois poderia reduzir a dependência da empresa do financiamento por dívida.

No entanto, o plano da empresa de um dividendo extraordinário de até $500 milhões, caso a listagem seja aprovada, poderia sinalizar uma política financeira mais agressiva e levantar questões sobre o compromisso da processadora de carne em manter a alavancagem sob controle, afirmou a S&P Global Ratings em uma nota no mês passado.

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