Bloomberg Línea — O grupo Azzas 2154 (AZZA3), controlador de marcas como Arezzo, Farm e Reserva, “descobriu” que possui uma força até então subestimada nos shoppings brasileiros: em média, 14 lojas espalhadas por centro comercial pelo país.
Esse número coloca a empresa na posição de “maior inquilina” da maioria dos shoppings em que atua e, de maneira prática, transforma seu poder de barganha na negociação de contratos com as respectivas administradoras, segundo o analista Rodrigo Gastim, da equipe de equity research do Itaú BBA, em novo relatório.
A estratégia ganhou ainda mais força com a criação da “BU Rio”, unidade de negócios com sede no Rio de Janeiro que agora reúne Farm, Reserva e outras marcas sob o comando do executivo Ruy Kameyama.
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A unificação vai além do organograma: a empresa tem padronizado processos, consolidado sistemas de gestão e centralizado serviços compartilhados, o que resulta na criação de uma máquina operacional mais eficiente e coordenada, segundo o analista em relatório divulgado nesta sexta-feira (19).
Na semana passada, o analista do banco acompanhou o CEO, Alexandre Birman, o CFO, Eric Alencar, e a Diretora de Relações com Investidores (RI), Bianca Faim, em um roadshow não vinculado a deals com investidores nos Estados Unidos.
O timing não poderia ser mais apropriado. Com diversos contratos de locação que chegam perto do vencimento, Birman vislumbra uma oportunidade única para renegociar em termos mais favoráveis, segundo Gastim.
A companhia planeja usar seu status de “super-inquilina” para pressionar por reduções significativas nos custos de ocupação, aproveitando o fato de que poucos varejistas conseguem oferecer a mesma densidade de lojas por shopping, escreveu o analista no relatório.
Os benefícios da integração já começaram a aparecer nas operações do dia a dia, segundo o analista no relatório.
Birman destacou ganhos imediatos na gestão de equipes, no compartilhamento de serviços básicos como limpeza e outros e na otimização de processos administrativos, citou o analista do BBA.
Essas economias aparentemente pequenas, multiplicadas por centenas de lojas, prometem impacto significativo no resultado final, avaliou o analista.
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Para Birman, essa nova abordagem representa apenas o começo de uma série de sinergias que a empresa planeja capturar, escreveu Gastim.
A transformação de dezenas de operações independentes em uma força unificada de negociação simbolizaria a maturidade operacional que o grupo busca após anos de aquisições e expansão acelerada no mercado de moda e lifestyle brasileiro, segundo o analista no relatório - algo justamente “cobrado” pelo mercado.
‘Prime brasileiro’
O analista do Itaú BBA também destacou que a house of brands está em fase de desenvolvimento de um programa de fidelidade que pretende funcionar como uma espécie de “Prime brasileiro”, que unificará o relacionamento com os 12 milhões de clientes das classes A e B que frequentam suas marcas.
O programa promete cashbacks, descontos exclusivos e frete grátis válidos em todas as bandeiras do grupo, desde Arezzo até Farm, com a criação de um ecossistema de benefícios cross-selling entre as diferentes marcas, segundo o relatório.
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Em paralelo, o Azzas 2154 implementa uma estratégia de “volta ao DNA” para suas marcas que se desviaram do caminho original, apontou o analista.
A Hering, por exemplo, tem abandonado produtos com características fast fashion que não se conectam com seu público tradicional e retornado para Blumenau, em Santa Catarina, reintegrando-se ao polo têxtil do Vale do Itajaí.
Já a Arezzo planeja reduzir o que seria uma “fashionização” excessiva de alguns produtos para reconquistar clientes de cidades menores, em que o mercado premium teve performance abaixo do esperado, segundo o profissional do Itaú BBA.
Chief Articulator Officer
Com todas essas mudanças estruturais, o Azzas 2154 projeta um salto significativo em seus resultados.
Segundo o relatório, o grupo de moda espera alcançar um lucro líquido de R$ 821 milhões em 2026, impulsionado pela otimização de 20% a 25% nos níveis de estoque e pela redução do ciclo de caixa para cerca de 100 dias.
O analista relatou que Birman, que se autointitulou durante os encontros de forma bem humorada como um “CAO” (Chief Articulator Officer), com foco em gerir e coordenar as lideranças executivas das BUs (Business Units), demonstrou confiança de que 2026 será o ano da virada definitiva, com crescimento da margem bruta mesmo que a receita cresça em ritmo mais moderado.
A ação da companhia registra alta de 10,71% no acumulado de 2025, cotada a R$ 32,65 no fechamento de quinta-feira (18).
O papel saiu de R$ 24,22 em abril e atingiu os níveis atuais após movimento de alta concentrado no segundo trimestre.
O Itaú BBA classifica a ação como outperform (desempenho acima do esperado em relação à média do mercado) e projeta preço-alvo de R$ 53 ao fim de 2026, indicando potencial de alta de 62% sobre a cotação da quinta-feira.
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