Cliente de alta renda aumenta engajamento e eleva lucro do C6 no 1º semestre, diz CFO

Philippe Katz, CFO, e Igor Rongel, head de private banking e investimentos, falaram à Bloomberg Línea sobre as perspectivas até o final do ano após o banco digital registrar lucro de R$ 1 bilhão no primeiro semestre

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Bloomberg Línea — O crescimento da base de clientes de alta renda tem ajudado a impulsionar os resultados financeiros do C6 Bank, liderado pelo CEO Marcelo Kalim e que tem o JPMorgan Chase como sócio.

O banco registrou um lucro de R$ 1,049 bilhão no primeiro semestre, uma alta de 8% na comparação com igual período do ano passado (R$ 969 milhões), de acordo com os resultados divulgados nesta quarta-feira (20).

O avanço foi impulsionado pelas maiores captações, especialmente de clientes de maior patrimônio, pela melhoria da eficiência e pelo controle da inadimplência, segundo executivos do banco que falaram à Bloomberg Línea.

A instituição financeira planeja expandir no consignado privado durante o segundo semestre e lançar produtos nas áreas de investimento onshore e offshore, com novidades em cartão VIP e investimento internacional.

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Philippe Katz, CFO do banco digital, e Igor Rongel, head de private banking e investimentos, destacaram à Bloomberg Línea o que classificaram como acertos da estratégia de buscar resolver eventuais problemas operacionais de investidores de maior patrimônio em outras instituições e projetaram continuidade do momento positivo.

“Ao longo de 2025, vamos passar de R$ 80 bilhões de carteira e vamos com certeza bater o ano de 2024 em termos de lucro total”, afirmou Katz em entrevista.

No primeiro semestre, a carteira de crédito expandida cresceu 49% em 12 meses, atingindo R$ 72,4 bilhões.

A composição dela era de 46% de crédito consignado, seguido por financiamentos de veículos (26%) e créditos para pessoa física (16%). Já crédito para pessoa jurídica e home equity responderam por 11% e 1% da carteira.

A criação de soluções específicas para o segmento de alta renda resultou no crescimento anual de 64% nas captações, totalizando R$ 93,5 bilhões em junho. Os depósitos à vista aumentaram cerca de 25% no mesmo período, enquanto as captações a prazo tiveram incremento de 70%.

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Para 2025, o banco projeta manter o ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) em torno de 40%. No primeiro semestre, o indicador de rentabilidade ficou em 43%. Já a receita líquida atingiu R$ 4,238 bilhões no período, incremento de 3% em 12 meses.

Confira a íntegra da entrevista com Katz e Rongel, editada para fins de clareza.

A carteira cresceu 49% em 12 meses. Qual o limite de crescimento sustentável para os próximos trimestres?

Philippe Katz: A carteira vem crescendo de maneira consistente ao longo dos últimos anos. Em junho de 2023, estava em R$ 38 bilhões e agora fechou em R$ 72 bilhões.

Mais importante do que isso é o perfil da carteira e da maneira como está crescendo. Nesses últimos dois anos ela tinha 68% de garantia e agora está com praticamente 80% dessa carteira com algum perfil de colateral, de garantia. Em 2025, a carteira de crédito deve passar dos R$ 80 bilhões.

O crédito consignado representa 46% da carteira. Há planos para diversificar ainda mais o mix de produtos?

Philippe Katz: Sim, continuamos diversificando o mix de produto, mantendo esse perfil de risco que consideramos adequado. Vamos crescer no segundo semestre, por exemplo, no consignado privado, que é um mercado que conhecemos e gostamos. Veremos o crescimento da carteira, que tem bastante espaço ainda no nosso entendimento, mantendo esse perfil de risco.

As captações cresceram 64%. Como é que o banco planeja financiar o crescimento futuro da carteira?

Philippe Katz: A captação é o reflexo de aspectos importantes. Ela também tem um perfil de crescimento relevante, demonstra bastante o engajamento dos nossos clientes, que estão cada vez mais confortáveis em trazer o investimento para cá.

Igor Rongel: Colocamos bastante energia nessa área de investimento e temos nos diferenciado pelo relacionamento com o cliente. Esse cliente de mais alta renda, via de regra, investidor, está insatisfeito com um serviço bancário comum - quer fazer um Pix de valor mais alto e é travado, ele perde o cartão, demora para chegar o cartão na casa dele.

É um cliente que tem dores no dia a dia nesses serviços e temos investido bastante nessa esteira de resolutividade para o cliente de alta renda. Isso reflete no aumento de captação.

Excluindo o impacto da resolução 4966 [provisões de perdas esperadas], o NPL 90+ [clientes com mais de 90 dias de atraso] melhorou para 2,1% em junho. Essa tendência vai se sustentar no segundo semestre?

Philippe Katz: Sim, vai se sustentar muito pelo perfil de originação e perfil de risco que temos no nosso balanço. Prezamos muito pela qualidade e a forma como a carteira vem crescendo de maneira saudável.

Vou voltar naquele indicador de percentual de carteira com garantia, que é um reflexo importante de como estamos originando e crescendo. Então, a tendência é manter os indicadores de inadimplência nesse patamar.

O custo de crédito/carteira chegou a 0,3%. Quais os fatores que explicam essa melhoria, ela é estrutural?

Philippe Katz: É estrutural do apetite e do perfil de carteira. Essa métrica é a despesa de PDD [Provisão para Devedores Duvidosos] pela carteira total. Como estamos crescendo nessa carteira com mais garantias, ela tem um provisionamento diferente da carteira sem algum perfil de garantia.

Então, é uma tendência andar nessa direção do custo de crédito sair de 0,6% para 0,3% ao longo dos últimos dois anos. E vai se manter nesse patamar, oscilar dentro dessa margem que estamos acompanhando agora.

O índice de eficiência melhorou 9 pontos percentuais para 46%. Há margem para melhora nos próximos trimestres?

Philippe Katz: Isso é muito reflexo do nosso modelo de negócio, que é um modelo que tem bastante alavancagem operacional. Então, conseguimos manter os custos estáveis, crescer as receitas e manter a despesa de PDD controlada.

Gosto do exemplo da área de veículo. Quando começamos há cerca de três anos nesse segmento, tínhamos em torno de 350 pessoas dedicadas à área. Hoje temos praticamente R$ 20 bilhões de carteira de crédito e tem mais ou menos a mesma quantidade de pessoas. Então, a base de custos já está contratada e pronta para sustentar o crescimento do banco.

É normal ver esse indicador de eficiência nessa tendência de queda. Vai ser um indicador sempre muito positivo em nossa visão.

Outro reflexo disso é o ROE. Então, chegamos em 43% de ROE nesse primeiro semestre. Também é um reflexo das receitas, despesas e da PDD com essa alavancagem operacional. O ROE vai continuar nessa magnitude de onde ele está em torno de 40%

As despesas operacionais tiveram queda de quase R$ 300 milhões. Quais foram as alavancas dessa redução?

Philippe Katz: Há um pouquinho de sazonalidade nisso. Controlamos as despesas mantendo elas relativamente estáveis. Vamos ver elas oscilarem um pouquinho, ano contra ano, dentro dessa magnitude. Estamos confortáveis no patamar de despesa como um todo, quando olhamos a base anual.

O índice de Basileia de 13,7% é um nível ideal para suportar o crescimento que o C6 está planejando?

Philippe Katz: Hoje temos mais lucro. O lucro já sustenta o crescimento da carteira. Então, vemos essa base de Basileia crescente ao longo do tempo. Vamos continuar a ver o lucro mais do que sustentando o crescimento da carteira de crédito e o crescimento do balanço como um todo e sem nenhuma necessidade de capital adicional.

O que podemos esperar do C6 para o segundo semestre em termos de apostas? Haverá lançamento de novo produto?

Igor Rongel: Sim. Até o final do ano, haverá um produto novo em investimento tanto na parte onshore quanto na parte offshore. Vamos continuar apostando mais fichas na diferenciação através do nosso atendimento e relacionamento.

Recentemente, lançamos, por exemplo, assessoria de investimento para pessoa jurídica. Então, agora, a PF que tem uma PJ pode ser atendida por uma pessoa só. Ela não precisa falar com uma pessoa de PF, depois de uma pessoa de PJ, aí fica com relacionamento dobrado ali no banco.

Temos os escritórios de relacionamento que têm avançado pelo Brasil. Lançamos quatro escritórios de relacionamento em quatro capitais.

Em relação ao produto cartão, há alguma novidade?

Igor Rongel: Teremos novidade nessas camadas de cima de cartões ao longo do ano. O nosso cartão hoje, o Graphene, do segmento private, já é bem diferenciado, com vários serviços.

Temos um concierge super elaborado, com banqueiros próximos ao cliente, atendendo 24 por 7. Também teremos novidade nessa frente no segundo semestre, que é relacionada a investimento internacional.

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