Ataque cibernético se tornou risco mais temido por empresas, diz Allianz Commercial

Pesquisa global e no Brasil revela preocupação à frente de perdas com eventos climáticos, dizem David Colmenares e Shanil Williams, que lideram LatAm e Américas, à Bloomberg Línea; ataque hacker à C&M Software evidencia riscos no país

Por

Bloomberg Línea — Ataques cibernéticos alcançaram o topo da lista das principais preocupações do mundo empresarial, o que impulsiona a demanda por seguros para cobrir potenciais perdas com crimes cometidos nessas condições.

Na Allianz Commercial, divisão do grupo segurador alemão voltada para clientes corporativos, a procura por seguros de riscos cibernéticos cresce no Brasil e no restante da América Latina, em linha com uma tendência global, de acordo com David Colmenares, diretor executivo para a América Latina, e Shanil Williams, Chief Regions Officer das Américas, em entrevista à Bloomberg Línea.

O tema ganhou visibilidade na última semana com o ataque hacker contra a C&M Software, prestadora de serviços financeiros que conecta bancos ao sistema de pagamentos do Banco Central, em um incidente cibernético tratado como um dos maiores da história do país.

A BMP perdeu R$ 541 milhões, segundo a Polícia de São Paulo. Pelo menos outras cinco instituições também registraram acesso indevido em seus registros.

Leia mais: Seguro contra catástrofe de pagamento rápido gera mercado pode chegar a US$ 34 bi

Em uma pesquisa global da Allianz Commercial com executivos sobre os riscos comerciais mais relevantes em 2025, os cibernéticos foram os mais citados (38%) em um universo de 3.778 entrevistados de 106 países e regiões.

Foram ouvidos consultores de risco, subscritores, gerentes seniores, especialistas em sinistros, bem como outros profissionais de gerenciamento de risco no segmento de seguros corporativos da Allianz Commercial e de outras entidades do grupo.

“Os ataques cibernéticos são hoje a preocupação número 1 em todo o mundo, incluindo os EUA e o restante das Américas. Nossa pesquisa anual Barômetro de Risco apontou o ciberespaço como o maior risco que enfrentamos hoje”, disse o diretor executivo da Allianz Commercial para a América Latina.

Para descrever essas ocorrências, a sondagem da Allianz cita crimes cibernéticos, interrupções na rede e nos serviços de TI, malware/ransomware (software malicioso que danifica ou rouba dados), violações de dados, multas e penalidades.

“O seguro de riscos cibernéticos não trata apenas de pagar a indenização. Pode ser também sobre notificar indivíduos afetados, acionar escritórios de advocacia para lidar com reguladores e gerenciar a interrupção de negócios”, disse Colmenares.

Leia mais: Ataque hacker à entidade que liga bancos ao BC expõe fragilidade no combate a fraudes

A cibersegurança superou a preocupação com catástrofes naturais em tempos de mudanças climáticas, como tempestade, inundação, terremoto, incêndio florestal, eventos extremos, entre outras, que figuraram em terceiro lugar com 29% das menções dos entrevistados no ranking mundial dos maiores riscos.

Em segundo lugar, com 31%, executivos apontaram o risco de interrupção dos negócios, como gargalos na cadeia de suprimentos.

No Brasil, medo de hacker também lidera

No Brasil, a preocupação com os ataques hackers foi citado por 41% das empresas entrevistadas, acima da média mundial (38%) e do resultado (31%) do levantamento do ano anterior.

“No ano passado, no Brasil, houve as enchentes no Rio Grande do Sul. Além dos incidentes cibernéticos, as catástrofes naturais e as mudanças climáticas são algo evidente e presente. As pessoas estão mais preocupadas hoje do que nunca com esses tipos de risco”, disse o executivo da Allianz Commercial.

No levantamento, as mudanças climáticas, descritas na pesquisa como “riscos físicos, operacionais e financeiros como resultado do aquecimento global”, apareceram em segundo lugar no Brasil, com 38% das menções.

Na América Latina, o receio com hackers liderou também na Argentina (42%), maior percentual nas Américas, e na Colômbia (34%). Nos Estados Unidos, também foi o principal risco apontado por 38% dos entrevistados.

O México, economia exposta em parte à rota de furacões no segundo semestre, destoou dessa tendência captada pela pesquisa da Allianz Commercial na região: incidentes cibernéticos apareceram em terceiro lugar (33%), depois dos riscos de interrupção de negócios (41%) e catástrofes naturais (36%).

Entre os setores, o medo de ataque hacker estava no topo dos riscos citados globalmente para diferentes áreas: telecomunicação (76%), tecnologia (55%), serviços financeiros (48%), serviços profissionais (48%), serviços como jurídicos e mídia (42%), aviação, aeroespacial e defesa (38%), produtos químicos, farmacêuticos e biofarmacêutica (47%).

Mudanças climáticas

Além da oferta crescente de apólices para clientes corporativos preocupados com a cibersegurança, a Allianz Commercial também se movimenta para responder aos maiores riscos das mudanças climáticas, que causam um impacto severo em economias em todo o mundo, com impacto sobre os negócios.

Em 2024, as perdas totais com catástrofes naturais relacionadas ao clima, como inundações, vendavais ou granizo, somaram US$ 327 bilhões, enquanto as perdas seguradas atingiram US$ 138 bilhões, segundo a companhia.

No início de julho, a divisão do grupo lançou a plataforma de dados denominada CAReS (Climate Adaptation & Resilience Services), desenvolvida em conjunto com os clientes.

O objetivo é permitir que eles identifiquem locais expostos aos maiores riscos climáticos e o potencial impacto desses perigos nos ativos das empresas.

Integração e sede regional em Miami

O foco da Allianz é a expansão nos próximos anos para certas regiões, como os países das Américas, onde a penetração do grupo não é tão grande quanto à Europa, que abriga sua sede, segundo Shanil Williams, que assumiu em janeiro como Chief Regions Officer (CRO) das Américas da Allianz Commercial.

“Há bastante investimento tanto para a América do Norte quanto na América Latina. Como fomos um pouco conservadores em nosso crescimento na América Latina no passado, a expectativa é registrar um crescimento de dois dígitos em quase todos os países”, disse o executivo.

Para o Brasil, a Allianz projeta uma taxa de crescimento entre 30% e 40%.

No início de julho, o grupo concluiu a integração dos negócios e das equipes brasileiras das suas duas divisões, a Commercial, que atende aos grandes clientes de seguros comerciais, e a AGCS (Allianz Global Corporate & Specialty), voltada para clientes de seguros especiais.

O projeto de união das marcas começou em 2023.

“No momento, estamos focados nos quatro mercados principais, que são Argentina, Brasil, Colômbia e México.Se somarmos os negócios de seguros desses mercados, representamos entre 65% e 70% do mercado de seguros na região”, estimou Colmenares.

O próximo passo é a abertura de um hub regional no escritório de Miami, na Flórida, para atender ao restante da América Latina, além das unidades dos quatro países citados. No Brasil, a sede fica em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.

Leia também

Startup uruguaia de cibersegurança recebe aporte de US$ 13,5 mi para crescer no Brasil

Maior fundo climático do mundo aprova alocação recorde de US$ 1 bi com saída dos EUA