Novo Nordisk perdeu disputa de US$ 10 bi pela startup Metsera. Mas vai buscar outro M&A

CEO da empresa, Mike Doustdar, prometeu se concentrar no pipeline da Novo ao mesmo tempo em que continua a buscar acordos complementares de desenvolvimento de negócios em diabetes e obesidade

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Bloomberg — O CEO da Novo Nordisk, Mike Doustdar, pode ter perdido para a Pfizer em uma batalha de aquisição de US$ 10 bilhões da desenvolvedora de medicamentos para obesidade Metsera, mas não se espera que ele desista de fazer negócios tão cedo. A empresa dinamarquesa busca recuperar o terreno perdido no mercado em expansão de perda de peso.

A Novo, proprietária das marcas Wegovy e da Ozempic, continuará a procurar oportunidades em obesidade, diabetes e suas comorbidades associadas, de acordo com pessoas familiarizadas com a situação. A empresa considerava a Metsera como uma possível transação complementar, em vez de uma aquisição transformadora, disseram as pessoas.

No final, a farmacêutica dinamarquesa decidiu sair da disputa na manhã de sábado (8), depois que a Pfizer igualou sua última oferta em uma guerra de lances que levou o preço a níveis altíssimos. Além dos obstáculos da Novo, a Metsera disse que recebeu um telefonema da Comissão Federal de Comércio dos EUA sinalizando possíveis riscos regulatórios com a estrutura do negócio que havia proposto.

Para a Pfizer, a transação era algo que o CEO Albert Bourla não podia se dar ao luxo de perder, já que a gigante farmacêutica americana luta para se firmar no mercado. O vencedor final foi a Metsera, já que a concorrência por seus espólios - ainda não comprovados - inflacionou a sua avaliação.

“Retornaremos ao trabalho e nos concentraremos em nosso próprio pipeline promissor, acelerando tudo ao mesmo tempo em que continuamos a buscar quaisquer acordos complementares de desenvolvimento de negócios em diabetes e obesidade que consideremos adequados”, disse Doustdar no sábado em um e-mail para sua equipe executiva que foi visto pela Bloomberg News.

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É o primeiro grande revés para o executivo, que assumiu o cargo de CEO em agosto, substituindo Lars Fruergaard Jorgensen, demitido depois de não ter conseguido aproveitar o domínio inicial da Novo no mercado de obesidade. Doustdar imediatamente acelerou a marcha com planos de cortar 11% da força de trabalho e infundir na Novo o que ele chamou de “cultura de desempenho”.

As ações caíram 53% neste ano, depois que a empresa, pioneira na onda revolucionária de medicamentos para perda de peso, perdeu sua posição de liderança para a Eli Lilly. Uma série de outros fabricantes de medicamentos - inclusive a Pfizer, que já teve problemas com seu próprio esforço para desenvolver um medicamento contra a obesidade - estão agora entrando no mercado.

Portfólio da Novo

A busca agressiva de Doustdar pelo Metsera levantou questões sobre a força do portfólio da Novo. Ainda assim, essas preocupações podem ser atenuadas pelo alívio de não estar desembolsando US$ 10 bilhões por uma startup que ainda não lançou um produto no mercado.

A Novo insistiu que a estrutura de sua proposta estava “em conformidade com as leis antitruste”, mas disse que a decisão de se retirar estava enraizada em um desejo de manter a disciplina financeira e o valor para os acionistas.

No futuro, a Novo “avaliará oportunidades de desenvolvimento de negócios e aquisições que atendam a seus critérios de retorno e alocação de capital e que promovam seus objetivos estratégicos”, disse em um comunicado.

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Mesmo antes de o resultado da Metsera ser conhecido, Doustdar já tinha sinalizado que a Novo manteria a sua busca por negócios. A empresa “analisará todos os ativos, independentemente de onde tenham sido criados e de quem os esteja criando”, disse ele em uma entrevista após os resultados da empresa nesta semana.

“Não começo pensando no tamanho do negócio. Começo pensando se podemos nos beneficiar desses ativos em combinação com o que nós mesmos estamos fazendo”, disse ele.

A empresa pretende agora lançar uma ampla rede de alvos potenciais ao moldar sua futura estratégia de fusões e aquisições, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. Ela não se limitará apenas aos desenvolvedores de medicamentos para perda de peso, mas também oportunidades para tratar doenças associadas à obesidade, ou as chamadas comorbidades, disse a pessoa.

A Novo já deu um passo nessa direção no mês passado com um acordo de US$ 5,2 bilhões para a Akero Therapeutics, desenvolvedora de um tratamento experimental para a MASH, uma doença hepática ligada à obesidade.

Corte na orientação

À medida que o Wegovy da Novo perde participação de mercado para o Zepbound da Lilly, a empresa dinamarquesa cortou esta semana sua orientação financeira pela quarta vez este ano. Um acordo com o governo Trump para reduzir os preços dos medicamentos para perda de peso nos EUA também pesou sobre suas ações.

Isso aumenta os riscos para os produtos de próxima geração da Novo. A empresa tem vários novos tratamentos em andamento, incluindo uma versão de alta dose da injeção Wegovy, que, segundo a Novo, oferece o mesmo potencial de perda de peso que o Zepbound da Lilly. Mas seu tratamento injetável de próxima geração contra a obesidade, o CagriSema, decepcionou até agora, com menos perda de peso do que o esperado.

A Novo submeteu uma versão em pílula da semaglutida - o principal ingrediente do Ozempic e do Wegovy - à Food and Drug Administration dos EUA para análise, equivalente à Anvisa no Brasil.

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A empresa também tem outro medicamento experimental para obesidade em desenvolvimento, chamado amicretina, que poderia ser formulado como injeção ou pílula.

Apesar dos recentes contratempos com relação à Lilly, a Novo tem um potencial de mudança de jogo, mesmo que seja um tiro no escuro: um par de ensaios que testam uma versão em pílula da semaglutida como um tratamento potencial para a doença de Alzheimer leve. Os resultados desses estudos são esperados para o final do ano.

E, embora a Novo tenha perdido a Metsera, Doustdar pode ter conseguido mudar a percepção da empresa como conservadora e lenta, de acordo com os analistas. A sua abordagem, incluindo os cortes de empregos, irritou algumas pessoas na Dinamarca.

Nova era

“É uma nova era na Novo, e eles precisam agir de acordo com os mercados em que estão inseridos”, disse Frederik Aakard, consultor da consultoria dinamarquesa Dema Partners, especializada em aquisições farmacêuticas. “É um jogo diferente que eles estão jogando agora. Estão jogando de forma muito mais americana, com uma abordagem cultural diferente da que tinham antes.”

A disciplina financeira também pode ser um ponto positivo. Alguns investidores temiam que Doustdar pagasse a mais em seus esforços para recuperar a iniciativa na batalha contra a obesidade.

“A rapidez deve ser acompanhada de precisão, já que simplesmente quebrar as coisas é uma receita para o desastre”, disse Evan David Seigerman, analista da BMO Capital Markets, em uma nota antes da decisão da Metsera. “A Novo não pode se dar ao luxo de ser imprudente e deve agir estrategicamente para endireitar o navio que está tão fora de curso.”

-- Com a colaboração de Sanne Wass.

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