Vendas da Tesla na Alemanha caem 59% após ‘entrada’ de Musk na política local

CEO da montadora declarou apoio ao partido de extrema direita às vésperas de eleições e tem feito comentários que são reprovados pela população, segundo pesquisa; mercado de elétricos cresceu 54%

Fabricante de veículos elétricos registrou apenas 1.277 carros novos na Alemanha em janeiro, seu menor total mensal desde julho de 2021
Por Marilen Martin - William Wilkes
05 de Fevereiro, 2025 | 03:15 PM

Bloomberg — As vendas da Tesla caíram 59% em janeiro na Alemanha, em novas evidências de que as atividades políticas do CEO Elon Musk têm prejudicado os negócios da montadora nos principais mercados de veículos elétricos do mundo. A Tesla perdeu terreno em um mercado de veículos elétricos que cresceu 54% no mês.

A fabricante norte-americana registrou 1.277 carros novos no maior mercado europeu em janeiro, seu menor total mensal desde julho de 2021, de acordo com a Autoridade Federal de Transporte Motorizado da Alemanha.

PUBLICIDADE

Segundo analistas do mercado, as declarações de Musk sobre as próximas eleições federais da Alemanha provavelmente influenciaram as vendas - uma pesquisa realizada em meados de janeiro apontou que o CEO era visto de forma desfavorável e que suas intervenções políticas não eram bem-vindas.

Leia também: Após apoio de Musk a eleição de Trump, vendas da Tesla caem 12% na Califórnia

(Fonte:  Autoridade Federal de Transporte Motorizado da Alemanha)

A Tesla também registrou queda nas vendas na França e no Reino Unido no mês passado, o que significa que houve retração no seu desempenho nos três maiores mercados de veículos elétricos da Europa.

PUBLICIDADE

Além de apoiar o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e enfrentar o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, Musk passou o mês consolidando sua posição na nova administração do presidente dos EUA, Donald Trump, que ameaçou atingir a União Europeia com tarifas.

Leia também: Ativismo de Musk acirra polarização antes de eleição-chave na Alemanha

As vendas da empresa despencaram 63% no mês passado na França - o segundo maior mercado de veículos elétricos da UE, depois da Alemanha - e caíram 12% no Reino Unido. As ações da Tesla foram negociadas em queda de até 3,1% a partir das 12h15 de quarta-feira em Nova York.

PUBLICIDADE
Vendas da Tesla em janeiro caíram na França ao menor patamar em dois anos e meio

Musk, 53 anos, organizou uma discussão ao vivo com a líder do AfD, Alice Weidel, na rede social X, em 9 de janeiro, dando uma plataforma ao copresidente de um partido que se opõe à construção de uma fábrica da Tesla nos arredores de Berlim e tem uma visão negativa sobre energia renovável.

Durante uma aparição virtual em um comício do AfD no final de janeiro, o CEO da Tesla pediu aos alemães que se orgulhassem de sua cultura e, em uma aparente referência às atrocidades cometidas durante a guerra pelos nazistas, desencorajou "o foco excessivo na culpa do passado".

As observações - feitas pouco antes do 80º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, um dos símbolos do nazismo - provocaram ampla indignação em um país em que o reconhecimento do passado é fundamental para sua identidade pós-guerra.

PUBLICIDADE
Pesquisa mostrou que cerca de 80% dos alemães têm uma opinião negativa sobre Elon Musk e sobre suas tentativas de influenciar as eleições locais

É provável que outros fatores fora da política estejam envolvidos no lento início de ano da Tesla. A empresa está promovendo mudanças nas fábricas de montagem para produzir um Model Y redesenhado, seu veículo mais vendido, o que custará ao fabricante várias semanas de produção perdida.

A Tesla também pode enfrentar escassez de estoque em alguns mercados devido ao esforço total que a empresa fez para aumentar as vendas no final do ano passado.

Embora a montadora tenha entregado mais veículos do que nunca no quarto trimestre, ela ficou aquém da previsão de um leve crescimento para o ano inteiro. Em vez disso, a empresa registrou seu primeiro declínio anual em mais de uma década.

Leia também: Escritório na ‘Casa Branca’ e discurso na posse: a ascensão de Musk ao poder

Impacto na Califórnia

Fora da Europa, também houve mais sinais de que a carreira política de Musk afeta a montadora que ele comanda. A Tesla registrou menos carros na Califórnia em todos os quatro trimestres de 2024, e as vendas de seu segundo veículo mais importante - o Model 3 - caíram 36% no ano.

Na eleição em novembro, o estado da Califórnia votou em sua maioria para a oponente de Trump, Kamala Harris, por uma ampla margem, e Musk brigou com o governador Gavin Newsom durante todo o ano passado.

Na Alemanha e em toda a União Europeia, os concorrentes da Tesla, incluindo a Volkswagen, a Stellantis e a Renault, estão sob pressão para vender mais veículos elétricos a fim de atender aos padrões de poluição mais rígidos que entrarão em vigor neste ano.

A VW e a BMW estavam entre os fabricantes que ganharam participação no mercado de veículos elétricos da Alemanha no ano passado, enquanto a Tesla perdeu terreno.

Além de ter que lidar com esses esforços mais concentrados dos fabricantes de carros a combustão, Musk enfrentará marcas rivais de veículos elétricos que buscam aproveitar sua política de explorar divisões políticas.

“Muitas pessoas escrevem dizendo que não gostam de tudo isso”, disse o CEO da Polestar, Michael Lohscheller, à Bloomberg News em uma entrevista no mês passado.

O executivo alemão chamou o endosso de Musk ao AfD de “totalmente inaceitável” e disse que pediu aos vendedores que visassem os proprietários insatisfeitos da Tesla para possíveis negócios.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Discurso vs realidade: Tesla vende mais, mas lucra menos e vê margem encolher