Ambev inaugura fábrica de vidro de R$ 1 bi no Paraná com foco em cerveja premium

Planta em Carambeí produzirá até 600 milhões de garrafas verdes por ano para as marcas Spaten e Stella e elevará a autossuficiência da empresa em vidro de 44% para 60%; vendas de marcas premium têm sido destaque nos últimos trimestres

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Bloomberg Línea — A Ambev inaugurou nesta segunda-feira (15) sua segunda fábrica de garrafas de vidro no Brasil, em Carambeí, município a cerca de 140 km de Curitiba.

O investimento de R$ 1 bilhão responde ao crescimento do segmento premium de cerveja, em que a companhia retomou a liderança no terceiro trimestre após dez anos em segundo lugar, atrás da Heineken, segundo dados da Nielsen IQ.

A nova planta tem capacidade para produzir 600 milhões de garrafas verdes por ano, focadas em marcas como Spaten e Stella Artois.

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O segmento premium, segundo a empresa, cresce em dois dígitos percentuais na base anual e está majoritariamente concentrado em long necks.

“Essa fábrica é importante para suportar a demanda de todo o crescimento do segmento premium, seja do que já vem crescendo há dois, três anos, seja do que nós projetamos para frente”, afirmou Valdecir Duarte, vice-presidente de Supply da Ambev, a jornalistas nesta segunda.

A nova planta abastecerá principalmente os mercados de Santa Catarina, onde fica a cervejaria premium da região Sul, além de São Paulo e Rio de Janeiro. O Norte e Nordeste continuam sendo atendidos pelos fornecedores locais.

A principal razão, segundo os executivos, é que 98% dos ingredientes de cerveja no Brasil são locais, o que torna a proximidade um fator determinante para a qualidade e o frescor do produto.

A exceção é o lúpulo, importado em 90% a 95% da Europa e EUA. A Ambev conta com uma uma fazenda de lúpulo na Argentina, mas a produção é dedicada ao mercado do país vizinho.

Ao mesmo tempo, a empresa manteve os contratos com os fornecedores externos Verallia e O-I Glass (ex-Owens-Illinois).

“Não descontinuamos [os contratos]. Existe uma curva de crescimento de demanda de vidro, principalmente do high-end e do premium, e essa fábrica é para expansão”, afirmou Duarte.

Com a operação, a Ambev passa a verticalizar 60% de sua demanda de vidro no país. Os 40% restantes continuam sendo supridos pelos fornecedores tradicionais. Antes de Carambeí, a proporção era de 44% de produção própria.

A decisão de investir no Paraná ocorreu em 2021, durante o período de escassez de vidro no mercado brasileiro, atribuída à pandemia.

O projeto inicial, anunciado em R$ 870 milhões, chegou ao patamar de R$ 1 bilhão devido à variação cambial. O valor faz parte dos R$ 10 bilhões que a companhia investiu no Brasil nos últimos três anos.

“Quando definimos o projeto, ele estava em dólar. Sempre fazemos o business case em dólar”, explicou Duarte.

O forno, importado da Europa, deve permanecer aceso de 15 a 20 anos de forma ininterrupta. Por essa razão, a disponibilidade de gás natural foi um dos critérios técnicos principais na escolha do local.

“A operação funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, com três linhas de produção trabalhando simultaneamente”, afirmou Ana Carla Lima, gerente da fábrica.

Cada uma das três linhas de produção trabalha a uma velocidade equivalente à 450 garrafas por minuto. Um sistema eletrônico automatizado inspeciona boca, parede e fundo de cada garrafa, rejeitando peças com defeito que retornam automaticamente ao processo produtivo.

A operação gerou 400 postos de trabalho entre funcionários próprios e parceiros. A produção começou neste mês de dezembro com 30% da capacidade e deve atingir 85% até o final de 2026.

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A Ambev avaliou três terrenos na região dos Campos Gerais: dois em Ponta Grossa e um em Carambeí. Todos atendiam aos requisitos de energia elétrica e gás natural.

A definição pelo município menor foi influenciada pela atuação do governo municipal, que, segundo os executivos, demonstrou mais agilidade na concessão de licenças ambientais e na oferta de apoio logístico.

A empresa já opera uma fábrica de vidro no Rio de Janeiro desde 2008, que produz de 1,2 bilhão a 1,3 bilhão de garrafas por ano em dois fornos.

A estratégia é dedicar cada forno a uma cor específica da garrafa, evitando o processo de troca, que leva até 30 dias e gera perda de produção.

O Rio de Janeiro mantém um forno para âmbar e outro para flint (transparente), enquanto Carambeí fica dedicada ao verde pelos próximos dois anos.

Reciclagem com cacos

A produção utiliza cacos de vidro reciclado (atualmente 40% do total, com meta de 80% em 2026), obtidos de cooperativas e recicladoras regionais, além de garrafas rejeitadas na linha que retornam automaticamente ao processo.

A proximidade geográfica também favorece a reciclagem. Segundo Carla Crippa, vice-presidente de Impacto e Relações Corporativas, levar cacos de vidro de regiões distantes é inviável pelo custo de frete.

“Quando você começa a ter recicladoras em diferentes estados, passa a diminuir o raio de distância do caco e aí ele se torna mais vantajoso quando se compara com material virgem”, afirmou a executiva.

A produção inicial será de garrafas long neck de 330 ml e, após a estabilização do forno, a fábrica passará a produzir também garrafas de 600 ml.

Além das duas unidades para produção de garrafas de vidro (no Rio de Janeiro e no Paraná), a Ambev possui uma fábrica de latas de alumínio em Sete Lagoas, em Minas Gerais.

As latas representam cerca de 50% do mix de embalagens da companhia. E atendem o portfólio premium - com marcas como Stella Artois, Corona, Spaten e Original -, o core plus com Budweiser, as mainstream como Skol e Brahma, e as versões zero álcool como Corona Cero, Budweiser Zero e Brahma 0,0%.

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