Agro pesa, BB fica abaixo das projeções no 1º tri e coloca guidance em revisão

Banco do Brasil irá rever projeções para o ano de 2025 após novo aumento da inadimplência no agronegócio e impacto de normas do CMN sobre o provisionamento; lucro líquido ajustado ficou 18,6% abaixo do consenso da Bloomberg

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Bloomberg Línea — A pressão da inadimplência do agronegócio continua a penalizar o Banco do Brasil (BBAS3), que registrou lucro líquido ajustado de R$ 7,37 bilhões no primeiro trimestre de 2025, segundo resultado divulgado na noite desta quinta-feira (15).

O resultado representa uma queda de 20,7% na comparação ano a ano e de 23% contra o trimestre anterior. O número ficou 18,6% abaixo do consenso de analistas pela Bloomberg, que estimava lucro de R$ 9,06 bilhões no período.

Entre os itens que pesaram sobre o balanço esteve o custo de crédito, que aumentou 18,9% em 12 meses, para R$ 10,15 bilhões. A pressão veio em particular do aumento da inadimplência na carteira de crédito agronegócio, que representa um terço do portfólio do BB.

A inadimplência da carteira do agro subiu 1,85 ponto percentual (p.p.) frente ao primeiro trimestre de 2024, para 3,04%.

Na carteira de crédito total, também houve avanço na base anual, de 2,90% para 3,86%.

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“Apesar do cenário positivo para a safra no Brasil em 2025, com uma colheita recorde, e do elevado percentual de garantias nesta carteira, há um estoque de operações que vem sendo tratado da safra 2023/2024, inclusive, por conta das recuperações judiciais no setor – que exigem maior provisionamento sob a nova regulação CMN 4.966”, afirmou o Banco do Brasil em nota.

A nova regulação passou a valer em 2025 e tem como objetivo alinhar as práticas contábeis e de gestão de riscos das instituições financeiras brasileiras aos padrões internacionais.

O desempenho da margem financeira bruta também foi um fator que prejudicou o resultado. O indicador caiu 7,2% em 12 meses, para R$ 23,88 bilhões.

“A margem foi impactada pelo descasamento entre ativos majoritariamente pré fixados enquanto as captações, em grande parte pós fixadas, refletem mais diretamente os efeitos da elevação da Selic”, informou o banco liderado pela CEO Tarciana Medeiros.

Também pesaram negativamente sobre a margem o impacto da CMN 4.966 e um resultado sazonal de tesouraria com menor liquidez no início do ano.

Revisão no guidance

Após apresentar resultados abaixo do esperado nos três primeiros meses do ano, o BB indicou revisão em suas principais métricas do guidance divulgado para o ano de 2025. O banco estatal colocou em revisão as linhas de margem financeira bruta, custo de crédito e lucro líquido.

“O agravamento da inadimplência de parte da carteira de agronegócios acima do esperado ao longo de 2025 e sua característica de amortizações concentrada no fim da safra, combinado com a vigência das novas regras estabelecidas pela Resolução 4.966/21, implicou em um cenário de maior incerteza sobre as projeções de margem financeira bruta e o custo do crédito, que, por sua vez, afetam diretamente o lucro líquido ajustado”, informou o banco.

“Diante disso, o Banco do Brasil decidiu adotar o status ‘em revisão’ para as linhas mencionadas até que o cenário permita uma avaliação mais consistente da magnitude dos impactos a serem incorporados nas projeções”.

O banco estatal esperava reportar um lucro líquido ajustado entre R$ 37 bilhões e R$ 41 bilhões este ano. A estimativa para a margem financeira bruta estava entre R$ 111 bilhões e R$ 115 bilhões para 2025, enquanto o custo de crédito estava estimado entre R$ 38 bilhões e R$ 42 bilhões.

As ações do Banco do Brasil acumulam alta de 23% no ano. Entre os 17 analistas que cobrem a ação, 10 recomendam a compra. Seis tem recomendação neutra e um recomenda a venda do papel.

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