Tarifas e inflação mantêm incerteza e limitam otimismo no mercado, diz Deutsche Bank

O banco alemão observa que os riscos permanecem e estão refletidos no preço do ouro, associado ao medo, mas diz que há espaço para que os preços se beneficiem, se tensão for resolvida de forma favorável

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Bloomberg Línea — O Deutsche Bank alertou que, apesar do recente avanço dos ativos de risco, é errado argumentar que os mercados acionários estão “precificados para a perfeição”.

O banco argumenta que persistem vários fatores de incerteza que limitam essa ideia e, de fato, deixam espaço para que os preços, se beneficiem se os riscos forem resolvidos de forma favorável.

Um dos pontos centrais é o ouro. O metal atingiu um recorde histórico em termos reais em setembro, e ultrapassou o pico ajustado pela inflação de janeiro de 1980.

Para o banco, esses preços altos não estão associados ao otimismo desenfreado, mas ao medo. Em contrapartida, durante a bolha das empresas pontocom, o ouro estava sendo negociado em mínimos de várias décadas.

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Inflação nos Estados Unidos

Outro elemento é a inflação dos EUA.

O swap de 2 anos fechou na sexta-feira em 2,92%, o que significa que se espera que ela permaneça acima da meta do Fed no curto prazo. Isso limita, explica o Deutsche Bank, o espaço do Fed para cortar as taxas.

Além disso, as tarifas continuam a ser um fator de pressão. Há revisões pendentes em setores como o farmacêutico e o de semicondutores, e a relação comercial com a China continua tensa, com medidas temporárias que devem expirar em novembro.

O relatório também aponta para a fraqueza no mercado de trabalho dos EUA. A média semestral de criação de empregos caiu para 64.000, a mais baixa deste ciclo, enquanto a taxa de desemprego subiu para 4,3%, a mais alta desde 2021.

De acordo com o Deutsche Bank, os investidores reagiram a essa deterioração, e não se pode mais presumir que as notícias ruins sobre emprego sejam sempre vistas como positivas porque implicam em mais cortes nas taxas.

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Cortes de taxas

Por fim, os cortes nas taxas já estão amplamente incorporados aos preços.

Os futuros descontam mais de 100 pontos-base de cortes adicionais nas taxas do Fed até 2026, enquanto na Europa o mercado também espera reduções, apesar da recente pausa do Banco Central Europeu.

O banco alemão adverte que essas expectativas são sustentadas por temores sobre o crescimento, diferentemente do que ocorreu no final da década de 1990, quando a força da economia impulsionou o aumento das taxas.

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O Deutsche Bank conclui que ainda há sinais claros de risco em ouro, inflação, tarifas e emprego, portanto não é correto dizer que os mercados já estão precificados para a perfeição.

Se algum desses riscos acabar sendo resolvido melhor do que os preços estão descontando atualmente, haverá espaço para os ativos subirem, de acordo com essa visão.

Esse comentário ocorre em um cenário em que o S&P 500 continua a romper teto após teto e está a caminho de romper a barreira dos 6.700.