Queda da inflação favorece títulos de países emergentes como o Brasil, dizem gestoras

Morgan Stanley Investment Management e Ninety One estão entre as gestoras de fundos que se posicionam para ganhos com títulos da dívida em moeda local, com a visão de que os banco centrais terão mais espaço para cortes de juros

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Bloomberg — Uma rara inversão nas tendências da inflação global deverá injetar novo ímpeto no rali dos títulos de mercados emergentes neste ano.

O Morgan Stanley Investment Management e a Ninety One estão entre as gestoras de fundos que se posicionam para novos ganhos em dívida de mercados emergentes em moeda local, na visão de que os bancos centrais terão espaço para cortar os juros mais rapidamente do que nos países desenvolvidos.

Isso acrescentaria mais uma dimensão a um período excepcional para os investidores, que já desfrutam dos melhores ganhos em anos em diversas classes de ativos, de ações a títulos em dólares.

O que anima os investidores é uma forte desaceleração da inflação. Por dois trimestres consecutivos, os preços ao consumidor nos mercados emergentes cresceram mais lentamente do que nos países desenvolvidos, de acordo com índices da Bloomberg.

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Essa inversão não era vista há pelo menos três décadas e meia — exceto por um episódio durante os anos voláteis da pandemia — e pode representar uma bonança para o mercado de títulos.

“A implicação é que a política monetária pode ser mais favorável nos mercados emergentes”, disse Jitania Kandhari, vice-diretora de investimentos da MSIM.

Taxas reais

Investidores em títulos locais obtiveram retornos médios de 7% neste ano, acima dos Treasuries dos Estados Unidos, enquanto os ganhos em alguns mercados, incluindo Hungria, Brasil e Egito, estão acima de 20%.

O rali foi alimentado pelas expectativas de cortes expressivos nas taxas de juros, e os últimos indicadores de preços podem corroborar a necessidade de um afrouxamento monetário ainda mais profundo e acelerado.

A inflação média anual nos mercados emergentes caiu pelo quinto trimestre consecutivo, para 2,47% no trimestre de julho a setembro — o menor nível desde o início de 2021, segundo os índices da Bloomberg. Em contraste, a inflação nas economias desenvolvidas subiu para 3,32%.

Muitos países já estão em processo de redução dos juros — México e Polônia foram os mais recentes a flexibilizar a política monetária, enquanto a Tailândia, Coreia do Sul, Turquia e Índia estão entre os que devem reduzir os juros até o final do ano.

No entanto, a maioria dos bancos centrais tem adotado cautela em relação à flexibilização monetária, e manteve os juros bem acima da inflação.

No Brasil, por exemplo, os dirigentes do Banco Central mantiveram a taxa básica de juros estável na semana passada, pelo terceiro mês consecutivo, mesmo com a taxa ajustada pela inflação, ou a “real”, em torno de 10%.

Da mesma forma, a inflação ajustada da Turquia é de cerca de 7%, enquanto a Índia, a África do Sul e a Colômbia apresentam taxas superiores a 3,5%.

Grant Webster, co-chefe de mercados emergentes soberanos e câmbio da Ninety One, estima que, em média, as taxas de juros reais nos mercados emergentes estão próximas dos níveis mais altos em mais de 20 anos.

Embora isso atraia investidores em busca de rendimento, também garante suporte às moedas, observa Webster.

O real brasileiro e o florim húngaro estavam entre as moedas que registraram ganhos de dois dígitos no acumulado do ano em relação ao dólar.

Um indicador de moedas de mercados emergentes subiu nesta segunda-feira, e registrou a maior alta desde 20 de outubro, com base no preço de fechamento.

“Os mercados de maior rendimento têm espaço para valorizar: África do Sul e grande parte da América Latina, onde as preocupações com a inflação se dissiparam, mas a política monetária permanece elevada”, disse.

Oscilações do dólar

É claro que a vantagem de rendimento não pode proteger totalmente os mercados emergentes das oscilações do dólar.

Uma recuperação da moeda americana desde julho impôs perdas modestas às moedas, bem como aos índices de dívida locais. Mas qualquer fortalecimento do dólar a partir de agora pode ser limitado, visto que se espera amplamente que o Federal Reserve continue a reduzir os juros.

Mesmo os investidores que esperam que o dólar se mantenha firme dizem que a dívida de mercados emergentes com rendimentos mais elevados ainda tem espaço para se valorizar.

O estrategista do BBVA, Alejandro Cuadrado, é um eles. Ele reduziu a exposição a moedas emergentes, mas mantém uma visão positiva sobre a dívida, antecipando retornos da duração dos títulos à medida que as taxas de juros caem.

Da mesma forma, estrategistas do Amundi Investment Institute descrevem os títulos de mercados emergentes em moeda local como uma negociação de “forte convicção”. Eles favorecem a América Latina, especialmente o Brasil e o México, devido à “melhora da dinâmica da inflação”.

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