Powell ganha apoio para cortes de juros dos EUA neste ano, mas futuro ainda é incerto

O Federal Reserve está pronto para cortar as taxas de juros por conta do enfraquecimento do mercado de trabalho, mas um grupo considerável no banco central que pede cautela e aponta para os preços que estão acima da meta há anos e ainda enfrentam pressões de alta

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Bloomberg — O Federal Reserve está pronto para cortar a taxa de juros novamente neste mês, porque, neste momento, o mercado de trabalho enfraquecido supera os temores de inflação. Mas esse equilíbrio pode não durar por muito tempo.

Há um grupo considerável no Fed que pede cautela – e aponta para os preços que estão acima da meta há anos e ainda enfrentam pressões de alta. Mesmo alguns dirigentes do banco central abertos a mais dois cortes de juros este ano não estão confiantes em projetar essa trajetória no futuro.

Tudo isso significa que o caminho para os juros até 2026 é muito menos claro do que a trajetória de queda constante na qual os mercados financeiros apostam atualmente.

Os dados econômicos não ajudam, pois apontam para direções diferentes – o crescimento e os gastos do consumidor estão resilientes, enquanto as contratações desaceleraram. A paralisação do governo, que congelou uma série de divulgações importantes, só piora a situação. E os comentários semanais das autoridades do Fed se transformam em um debate cada vez mais conturbado.

Alerta de Powell

A tarefa de conduzir estas posições divergentes para a política monetária cabe ao presidente do Fed, Jerome Powell, que diz existir perigos em adiar um movimento para lidar com os riscos de emprego – sinalizando que um corte ocorrerá em 29 de outubro, próxima decisão do Fed.

Os ganhos anêmicos no emprego nos últimos meses, somados a fortes revisões para baixo de números anteriores, derrubaram a visão generalizada de que o mercado de trabalho dos EUA estava com saúde robusta. O novo rótulo é de uma economia com poucas contratações e poucas demissões, e com poucos sinais de cortes em larga escala. Powell afirma que este equilíbrio pode se mostrar frágil.

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“Estamos num ponto em que novas quedas nas vagas de emprego podem muito bem se refletir no desemprego”, disse durante uma conferência econômica em 14 de outubro.

Os comentários de Powell foram interpretadas como uma confirmação de um corte de 0,25 ponto percentual neste mês. Os operadores em mercados futuros já esperavam por isso e estão convencidos de que haverá outro corte em dezembro. Se estiverem certos, isso corresponderia à mediana das projeções feitas no mês passado pelas autoridades do Fed.

As coisas provavelmente ficarão mais complicadas depois disso – ou talvez até mais cedo, de acordo com o ex-presidente do Fed de St. Louis, James Bullard.

“Outubro vai acontecer”, disse Bullard. Mas, embora um novo corte permaneça provável, “o fato de a inflação continuar alta e o crescimento parecer bastante forte colocam dezembro em risco”.

A postura hawkish foi forte o suficiente para persuadir oito dos 19 membros do Fed a projetarem que não haverá mais cortes dos juros no próximo ano. Muitos veem uma ameaça persistente das tarifas aos preços ao consumidor, novamente evidenciada pela recente escalada das tensões entre os EUA e a China.

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“Já faz 54 meses que a inflação não está na meta ou abaixo dela”, disse Tim Mahedy, ex-assessor sênior do Federal Reserve Bank de São Francisco. “Sem dúvida, há riscos para o mercado de trabalho, mas, como o governo provou na semana passada com o anúncio de possíveis novas tarifas, também há riscos para o lado inflacionário do mandato, especialmente se a economia continuar avançando.”

Dentro do Fed, a pressão por cortes dos juros foi liderada – pelo menos até recentemente – pelos diretores Christopher Waller e Michelle Bowman, que citam os empregos como a principal preocupação.

Agora, há uma nova voz no debate interno do banco central: Stephen Miran, que foi indicado diretor do Fed por Donald Trump e assumiu o cargo no mês passado, durante uma licença não remunerada de seu posto como um dos principais assessores econômicos do presidente americano. Miran defendeu uma série rápida de cortes de 0,5 ponto percentual, mas, por enquanto, continua sendo uma exceção.

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