Morgan Stanley vê real e peso mexicano caros e recomenda rotação para renda fixa

“Nossos modelos de avaliação sugerem que o real e o peso mexicano são, no cômputo geral, as moedas mais caras da região“, escreveram as analistas Ioana Zamfir e Sofia Palacios, do Morgan Stanley

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O Morgan Stanley(MS) disse que tanto o peso mexicano(USDMXN) quanto o real brasileiro(USDBRL) estão em níveis elevados de avaliação, o que reduz sua atratividade para novas apostas direcionais.

Com base nessa leitura, a Morgan Stanley propõe uma rotação estratégica em suas posições de dívida local, em uma aposta em movimentos de taxas que não dependam de apreciações adicionais da taxa de câmbio.

“Nossos modelos de avaliação sugerem que o real e o peso mexicano são, no cômputo geral, as moedas mais caras da região“, explicaram as analistas Ioana Zamfir e Sofia Palacios.

O real ainda tem um prêmio de transporte que o mantém atraente para alguns investidores, mas a valorização acumulada limita o escopo dos ganhos.

No caso do peso mexicano, a situação é ainda mais acentuada.

“O peso mexicano não incorpora nenhum prêmio de risco”, acrescentaram os analistas. Ambos ressaltaram que sua força foi impulsionada quase que exclusivamente por fatores externos.

Nesse ambiente de moedas sobrevalorizadas e sensibilidade a choques externos, a equipe de estratégia do Morgan Stanley propõe concentrar as posições em instrumentos de renda fixa, com uma diferenciação tática entre o México e o Brasil.

Exposição à taxa, não à moeda

No caso mexicano, a recomendação é estender a duração em instrumentos nominais e manter a exposição a títulos vinculados à inflação, mas evitar apostar na ponta curta da curva.

“Vemos os receptores no México como uma jogada ligada a taxas mais baixas nos Estados Unidos, e não como uma expressão da força local”, segundo o relatório.

Essa estratégia é implementada, por exemplo, por meio de posições de receptores em TIIE de cinco anos, o que envolve o recebimento de uma taxa fixa e o pagamento de uma taxa flutuante em contratos de derivativos, apostando assim que as taxas cairão e a posição ganhará valor.

Com uma taxa terminal já descontada em torno de 7%, o Morgan Stanley considera viável uma convergência para níveis mais neutros de 6,50%, embora alerte que esse processo pode ser acidentado.

O Morgan Stanley recomenda a compra de MBonos com vencimento em 2034, com uma meta de rendimento de 8,30%.

Optar por esses instrumentos de longo prazo implica estender a duração, ou seja, aumentar a sensibilidade do investimento aos movimentos das taxas, o que é lucrativo se houver previsão de um ciclo de redução das taxas.

Também detém posições em Udibonos 2031, instrumentos vinculados à inflação.

“Os pontos de equilíbrio registraram a maior compressão na parte intermediária da curva", observaram os analistas, o que justifica a preferência por esse setor. No ambiente atual, os rendimentos reais no México continuam altos, o que oferece um amortecimento atraente, mesmo que a inflação permaneça estável.

No caso do Brasil, o diagnóstico é mais cauteloso. Embora as taxas reais ainda pareçam mais atraentes do que no México, o ambiente político e a incerteza sobre o início efetivo do ciclo de redução gradual deterioraram o comportamento dos preços.

“Preferimos ficar na parcela nominal, em vez de títulos indexados”, segundo o documento.

O Morgan Stanley mantém sua posição em contratos DI com vencimento em janeiro de 2029, com meta de 12,75%. Esses contratos refletem as expectativas do mercado em relação à taxa Selic (a taxa de referência do Banco Central do Brasil) e funcionam como futuros de taxas de juros. Ser um “receptor” nesses contratos significa se beneficiar se as taxas esperadas caírem, o que aumentaria o valor do contrato.

O Morgan Stanley também começou a ver atratividade nos contratos com vencimento em janeiro de 2028, dado seu menor risco e correlação positiva com vencimentos mais longos.

“A probabilidade de os cortes serem antecipados aumentou à medida que as surpresas econômicas negativas se acumulam”, explicaram.

Embora o mercado ainda não tenha descontado cortes de 50 pontos-base, o Morgan Stanley acredita que tais medidas podem se tornar a norma se a deterioração econômica persistir.

Ambos os mercados têm taxas reais em níveis historicamente altos, o que reforça a atratividade de manter a exposição à renda fixa local, desde que sejam evitadas posições que dependam de uma maior valorização da taxa de câmbio.

“Capturar essas recuperações exige paciência, especialmente devido ao baixo nível de participação estrangeira”, reconheceram Zamfir e Palacios.