Bloomberg — Os investidores apostam alto que o Federal Reserve irá cortar a taxa de juros mais uma vez em dezembro. Isso dissipa as dúvidas que, até a semana passada, apontavam contra o movimento e abrem o caminho para ganhos nos títulos de dívida americana.
O montante de novas posições assumidas por operadores em contratos futuros atrelados à taxa básica de juros do banco central americano aumentou consideravelmente nas últimas três sessões de negociação, com volumes diários recordes consecutivos registrados no contrato de janeiro, na semana passada.
Os preços de mercado agora sinalizam uma probabilidade de cerca de 80% de um corte de 0,25 ponto percentual na reunião do Fed em dezembro, em comparação com os 30% de chances de poucos dias atrás.
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A mudança no sentimento em relação aos juros começou após a divulgação, na semana passada, dos dados de emprego de setembro nos Estados Unidos, que mostraram um cenário misto.
Essa mudança ganhou força na sexta-feira, após o presidente do Fed de Nova York, John Williams, ter sinalizado que vê espaço para uma redução “no curto prazo” em meio à fraqueza do mercado de trabalho.
“O Fed está muito dividido”, mas parece que “os doves superaram em número os hawks”, disse Tracy Chen, gestora de carteiras na Brandywine Global Investment Management.
Nesta semana, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, apoiou a redução dos juros na próxima reunião, enquanto o diretor Stephen Miran reiterou seu argumento a favor de grandes cortes, na terça-feira, mesmo com a inflação teimosamente acima do nível preferido pelo banco central.
O presidente do Fed, Jerome Powell, e seus aliados no comitê de política monetária estão “de acordo com um corte”, apesar da resistência de outras autoridades que estão mais preocupadas com a inflação, disse Subadra Rajappa, estrategista do Société Générale.
Com os recentes dados econômicos mais fracos, incluindo os do mercado de trabalho, “Powell conseguirá convencer o restante do comitê”.
O tom dovish nos contratos futuros se reflete no mercado de Treasuries à vista, setor no qual a pesquisa semanal com clientes do JPMorgan mostrou que as posições compradas líquidas subiram para o maior nível em cerca de 15 anos.
Na terça-feira, o rendimento dos títulos dos EUA com vencimento em 10 anos caiu abaixo de 4% pela primeira vez em um mês, após o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, surgir como o favorito para ocupar a presidência do Fed, o que elevou as expectativas de redução dos juros no próximo ano. O rendimento permaneceu praticamente inalterado em 4% nesta quarta-feira.
‘A bordo’
É normal que os dirigentes do Fed orientem Wall Street para sua decisão final antes das reuniões, a fim de evitar surpresas.
Apenas três vezes em mais de dois anos — em um total de 20 reuniões do Fed — operadores não precificaram totalmente um resultado tão próximo da decisão de política monetária.
O volume total de novas posições adicionadas nos contratos futuros de fundos federais para janeiro se aproximou de 275.000 contratos desde a última quinta-feira.
Isso equivale a aproximadamente US$ 11,5 milhões por ponto-base de risco, ou 37% do total de posições em aberto no prazo, no fechamento de terça-feira.
O contrato subiu de uma mínima de 96,18 na quinta-feira para uma máxima de 96,35 na segunda-feira, o que sinaliza a adição de novas posições compradas.
“O mercado, em grande parte, interpretou os comentários de Williams como uma espécie de jogada de Powell, por assim dizer”, afirmou Blake Gwinn, chefe de estratégia de juros dos EUA do RBC Capital Markets. “Os dados desta semana também apontam nessa direção.”
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