Bloomberg — Em dia em que a bolsa brasileira ficou fechada por causa do Carnaval, Wall Street iniciou a semana com pequenas movimentações nas ações, títulos e dólar, antes da divulgação números de inflação que serão essenciais para determinar a amplitude e o momento dos cortes nas taxas do Federal Reserve. O S&P 500 e o Nasdaq caíram 0,09% e 0,30% respectivamente, enquanto o índice Dow Jones subiu 0,33%.
A menos de 24 horas do índice de preços ao consumidor, o S&P 500 teve dificuldades para ganhar tração. Embora os dados devam destacar uma maior desinflação, os investidores continuaram relutantes em se comprometer com apostas significativas.
Essa sensação de cautela prevaleceu após cinco semanas consecutivas de ganhos que impulsionaram as ações a níveis recordes.
“Mantendo em mente o antigo ditado de que ‘as árvores não crescem até o céu’, achamos importante manter os chapéus de festa guardados por enquanto”, disse John Stoltzfus, da Oppenheimer Asset Management. “Permanecemos otimistas com as ações, vemos os títulos como complementares às ações para uma diversificação prudente e esperamos uma ampliação adicional do rali das ações que surgiu a partir das mínimas do final de outubro.”
O S&P 500 perdeu força após se aproximar de 5.050. O Nasdaq 100 teve desempenho inferior, liderado por perdas em Microsoft (MSFT), Apple (AAPL) e Tesla (TSLA).
A designer de chips Arm (ARM) disparou 29%. Os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos ficaram pouco alterados em 4,17%. O bitcoin flutuava perto de US$ 50.000.
“A maioria das pessoas estará focada nos números de inflação desta semana, mas também há uma potencial disputa sobre quão estendido pode estar o atual rali do mercado versus o burburinho em torno do S&P 500 ultrapassando os 5.000″, disse Chris Larkin, da E*Trade, do Morgan Stanley.
O S&P 500 se aproxima de um obstáculo técnico após ultrapassar 5.000 pela primeira vez - desencadeando um sinal de venda para ações, segundo Craig Johnson, da Piper Sandler.
O rápido avanço do índice até 5.000 já deixou para trás a meta consensual de Wall Street para 2024, rastreada pela Bloomberg - 4.819,40 até sexta-feira.
Atualmente, o S&P 500 está sendo negociado em torno de 20 vezes os ganhos futuros - um nível que atingiu apenas em outros dois períodos nos últimos 25 anos: a bolha das empresas ponto-com e a alta após a pandemia, disse Nicholas Colas, da DataTrek Research.
Para Rob Swanke, da Commonwealth Financial Network, alguma cautela é justificada nos níveis de valuation atuais.
“Não diria que estamos em território de bolha, mas o mercado está precificando mais próximo da perfeição agora, e as empresas terão que continuar atingindo altas metas de lucro em 2024, algo que não precisavam fazer em 2023″, acrescentou.
As notícias e dados da semana passada reforçaram os quatro impulsionadores deste mercado de alta: cortes nas taxas do Fed até maio, crescimento econômico sólido, desinflação contínua e ganhos fortes, segundo Tom Essaye, do Sevens Report.
“É importante reconhecer que este rali foi impulsionado por boas notícias reais e expectativas otimistas reforçadas por dados reais”, disse Essaye. “Ao mesmo tempo, os riscos que mantiveram os investidores preocupados em outubro (e até mesmo ao longo de 2023) não foram vencidos - simplesmente ainda não apareceram.”
Previsão para o CPI
A previsão para o CPI anual é que tenha caído para 2,9% em janeiro, ante 3,4% no mês anterior, segundo estimativas consensuais de economistas consultados pela Bloomberg. Essa seria a primeira leitura abaixo de 3% desde março de 2021.
Uma pesquisa conduzida pela 22V Research mostrou que 51% dos investidores entrevistados acham que a reação do mercado ao CPI na terça-feira será “positiva para o risco” - e apenas 19% disseram “negativa para o risco”.
As expectativas dos consumidores dos EUA para a inflação no médio prazo caíram para o nível mais baixo desde pelo menos 2013, mostrou uma pesquisa do Federal Reserve Bank de Nova York na segunda-feira.
A diretora do Fed, Michelle Bowman, reiterou que a taxa de juros de referência do banco central está em um bom patamar para manter a pressão descendente sobre a inflação, e ela não vê a necessidade de aliviar a política em breve.
O presidente do Federal Reserve Bank de Richmond, Thomas Barkin, disse que, embora estejamos nos aproximando da meta de inflação, ainda não a atingimos.
Os investidores começaram a precificar que o Fed realizará apenas quatro - ou no máximo cinco - cortes de 0,25 ponto percentual em 2024, apenas um pouco mais do que os três previstos pelos formuladores de políticas. Isso representa uma forte mudança em relação ao final do ano passado, quando os traders de futuros estavam apostando em sete movimentos desse tipo.
“É importante não perder de vista o quadro geral, que é que a contínua desinflação deverá permitir que o banco central comece a afrouxar neste ano”, disse Mark Haefele, da UBS Global Wealth Management. “Esta é uma mudança significativa no cenário de investimento, então achamos que é menos importante se o Fed corta três, quatro ou cinco vezes este ano.”
Mesmo que o Fed não reduza as taxas de juros, o S&P 500 ainda pode estender sua ascensão este ano, segundo Savita Subramanian, do Bank of America.
“Lembre-se de que nossa visão construtiva sobre as ações não se deve ao que o Fed fará, mas ao que o Fed já fez”, ela acrescentou, referindo-se ao banco central controlando a inflação sem uma recessão.
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