Ibovespa cai com risco geopolítico e meta fiscal menor; dólar sobe a R$ 5,19

Ministro Fernando Haddad confirmou que governo trabalha com meta de déficit zero em 2025, em vez de superávit; no exterior, investidores temem retaliação de Israel

After Hours
15 de Abril, 2024 | 06:18 PM

Bloomberg Línea — O receio em relação a um conflito mais amplo no Oriente Médio depois dos ataques do Irã a Israel no fim de semana deu o tom dos mercados nesta segunda-feira (15), o que levou a uma queda dos principais índices mundo afora.

O Ibovespa (IBOV) fechou em queda de 0,49%, aos 125.334 pontos, e o dólar (USDBRL) subia 1,36% e era negociado a R$ 5,19 no fechamento.

No Brasil, os investidores também repercutiram a confirmação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o governo deve propor uma meta fiscal de déficit zero para 2025 no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO). No ano passado, quando o arcabouço fiscal foi aprovado, o governo havia dito que trabalhava com a meta de superávit primário de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

A decisão, se confirmada no PLDO, implica despesas públicas maiores no ano que vem e um esforço menor do governo para atingir o equilíbrio fiscal, para evitar que a dívida pública bruta siga em trajetória de expansão em relação ao PIB. Mais despesas do governo significam que investidores podem exigir o pagamento de juros maiores para financiar a dívida, o que mantém os custos de empréstimos elevados no país.

PUBLICIDADE

Leia também: Ataque do Irã a Israel desencadeia corrida diplomática para evitar guerra

As perdas do dia foram lideradas por ações de setores sensíveis aos juros e ao dólar. A agência de viagens CVC (CVCB3) ficou entre as maiores quedas, junto de Magazine Luiza (MGLU3), Vamos (VAMO3), Cyrela (CYRE3) e Minerva (BEEF3). Além disso, Soma (SOMA3), Totvs (TOTS3) e São Martinho (SMTO3) também recuaram e ficaram entre as ações com maior contribuição negativa para o desempenho do índice.

Por outro lado, os papéis da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR3; PETR4) tiveram ganhos, ajudando a reduzir as perdas, refletindo o avanço do dólar, o que contribui para os resultados de exportação. BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3), JBS (JBSS3), Gerdau (GGBR4) e a holding Gerdau Metalúrgica (GOAU4) ficaram entre as maiores altas do dia.

PUBLICIDADE

Exterior

No cenário global, a instabilidade geopolítica contribui para um aumento dos preços de commodities, especialmente o petróleo, com reflexos para a inflação. Com isso, bancos centrais podem ter mais dificuldade para seguir os planos de cortes de juros, diante dos custos mais elevados. A pressão inflacionária ocorre no momento em que investidores postergam as perspectivas de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) para o terceiro ou o quarto trimestre.

Na agenda do dia, as vendas no varejo nos Estados Unidos subiram 0,7% em março na comparação mensal, acima da alta de 0,4% esperada por economistas do mercado. O dado sugere que o consumo continua forte, podendo impulsionar a economia americana no primeiro trimestre.

Nos EUA, as ações de grandes empresas de tecnologia arrastaram as ações para baixo enquanto os rendimentos dos títulos subiram após vendas no varejo mais fortes do que o esperado.

“As ações começaram a violar as tendências de alta e recuar”, disse Craig Johnson, da Piper Sandler. “Espera-se que as taxas de juros permaneçam mais altas por mais tempo. Uma abordagem mais cautelosa e tática é favorecida à medida que a temporada de balanços começa.”

O S&P 500 caiu abaixo de 5.100, atingindo o menor nível em quase dois meses. O Nasdaq 100, com foco em tecnologia, recuou mais de 1,5%. Ambos os índices romperam suas médias móveis de 50 dias - considerado um sinal de baixa por vários analistas técnicos. Os bancos se destacaram com um lucro surpresa do Goldman Sachs.

Os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos dispararam nove pontos-base para 4,62%, enquanto os dos títulos de dois anos se aproximaram de 5%.

O petróleo West Texas Intermediate (WTI) recuperou sua marca de US$ 85 - após cair brevemente abaixo dela - e o ouro subiu com receios de tensões crescentes no Oriente Médio. Altos oficiais militares israelenses reiteraram que o país não tem escolha senão responder ao ataque do Irã no fim de semana.

PUBLICIDADE

As vendas no varejo dos EUA aumentaram mais do que o previsto em março e o mês anterior foi revisado para cima, mostrando uma demanda do consumidor resiliente que continua impulsionando uma economia surpreendentemente forte. Enquanto um mercado de trabalho robusto sustentar a demanda doméstica, há o risco de que a inflação se torne arraigada.

“Se o S&P 500 vai evitar sua primeira sequência de três semanas de perdas desde setembro passado, os investidores precisarão superar as preocupações de que os cortes de taxas serão adiados por causa da inflação persistente”, disse Chris Larkin, da E*Trade, do Morgan Stanley. “No curto prazo, isso pode depender do tom estabelecido pela primeira semana completa da temporada de resultados, mas as tensões geopolíticas no Oriente Médio permanecem uma carta na manga.”

- Com informações da Bloomberg News.