Fundos no Brasil seguram apostas em ações no aguardo de Selic de um dígito

Nível de exposição de tais investidores a ações no país cai a 9%, perto das mínimas históricas de 8%, o que deixa a bolsa local mais dependente de estrangeiros

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Bloomberg — As taxas de juros ainda em níveis atraentes para a renda fixa empurram investidores locais para fora da bolsa e levam os fundos a níveis historicamente baixos de exposição a ações, o que deixa o Ibovespa à mercê do apetite estrangeiro - que dá sinais de diminuir.

Ainda que analistas de grandes bancos e casas de research apostem que o Ibovespa irá subir até 20% neste ano na esteira do corte de juros do Fed, os fundos locais reduziram a 9% a exposição em ações  – perto das mínimas históricas de 8% – de acordo com relatórios de janeiro do JPMorgan.

Embora o Banco Central venha cortando a Selic já há alguns meses, desde agosto de 2023, os estrategistas do JPMorgan e do Bank of America dizem que os investidores brasileiros só voltarão à bolsa quando o juro baixar a um dígito – algo que o mercado só vê acontecer na segunda metade do ano.

“Talvez quando o juro chegar em um dígito já podemos começar a ver um pouco de melhora”, disse Emy Shayo, estrategista de ações para Brasil e América Latina do JPMorgan, em entrevista à Bloomberg Línea.

Com os fundos locais à margem, o Ibovespa tem operado instável, ao sabor do humor externo, nos últimos meses.

O índice disparou 19% nos últimos dois meses de 2023, à medida que os estrangeiros compraram R$ 38,5 bilhões em ações. E caiu 4,8% em janeiro, em meio a uma saída de R$ 7,9 bilhões impulsionada por apostas de que o Fed manterá as taxas de juros elevadas durante mais tempo. Em fevereiro, até o último dia 21, a saída de estrangeiros já estava em R$ 10,1 bilhões.

David Beker, do Bank of America, disse apostar que a direção do mercado continuará a ser ditada no curto prazo pelos investidores estrangeiros. “O estrangeiro tende a ser um dos grandes drivers desse movimento, mas ele depende do sinal verde do Fed, e o problema do local é que depende do sinal verde da Selic em um dígito”, disse ele.

Os fundos brasileiros foram prejudicados por resgates líquidos que somaram R$ 128 bilhões no ano passado, segundo dados da Anbima, entidade que reúne empresas e entidades do mercado de capitais. Os fundos multimercado e os fundos de ações registraram, ao todo, saídas de R$ 134,3 bilhões e R$ 17 bilhões no ano passado, respectivamente.

A decepção contaminou também este ano e as ações brasileiras têm apresentado desempenho inferior ao de seus pares na América Latina.

Agora, até os investidores americanos passaram a retirar dinheiro do mercado de ações brasileiro. O maior dez anos. O iShares MSCI Brazil ETF, que totaliza US$ 5,5 bilhões, teve saídas de US$ 202 milhões na terça-feira (20), impulsionadas por grandes empresas como a Vale, devido a preocupações com a China.

E, embora os riscos persistam, o Santander – assim como outros 13 bancos e assets – mantêm as suas perspectivas inalteradas, apostando que 2024 trará ganhos de até 20% para o Ibovespa.

Em média, o grupo prevê um ganho próximo de 10% para o índice neste ano e espera retornos positivos em setores como bancos e utilities, que tendem a se beneficiar de cortes nos juros e estão entre as principais portas de entrada dos estrangeiros.

Aline Cardoso, chefe de estratégia de ações para Brasil do Santander, disse que os fundos multimercado estão focados em carteiras mais defensivas, focadas em setores como utilities, enquanto nomes mais cíclicos, ligados à economia doméstica, só deverão ver uma recuperação quando o apetite do investidor local retornar. Entre os mais otimistas, o Santander vê o índice Ibovespa atingindo 160.000 pontos, ante 134.185 pontos no final de 2023.

“Os fundos locais ainda estão vendo resgates e os globais já estão bastante cheios, então é difícil encontrar compradores marginais neste momento”, disse Greg Lesko, gestor de portfólio da Deltec Asset Management em Nova York. “Quando as taxas começarem a cair, os fluxos de fundos locais deverão reverter.”

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