Fed reduz taxa de juros em 50 pontos base e mercado precifica cortes maiores

Diretores do BC americano reduziram a taxa de referência para o intervalo de 4,75% a 5% ao ano; projeções indicam mais uma redução de meio ponto até o fim do ano nas duas reuniões restantes

Diretores do Fed avaliam que ganharam mais confiança de que a inflação está se movendo em direção à meta
18 de Setembro, 2024 | 03:19 PM

Bloomberg Línea — Os diretores do Federal Reserve (Fed) decidiram cortar a taxa de juros dos Estados Unidos em 0,50 ponto percentual para o intervalo de 4,75% a 5% ao ano, a primeira redução em mais de quatro anos.

O corte foi maior do que o esperado por parte dos economistas do mercado financeiro, que estimavam um alívio de 0,25 ponto.

A decisão acontece após as autoridades do Fed optarem pela manutenção das taxas em oito reuniões consecutivas, mantendo os juros no maior patamar em duas décadas. A última vez que o banco central americano havia cortado os juros foi em março de 2020.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira (18), o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), afirmou que ganhou “maior confiança” de que a inflação está se movendo “de forma sustentável” em direção à meta de 2% e que “os riscos para alcançar suas metas de emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados”.

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“A perspectiva econômica é incerta, e o Comitê está atento aos riscos em ambos os lados de seu duplo mandato”, destacou o Fed.

Após a decisão, os índices de Nova York, que operavam estáveis, passaram a operar em alta. Por volta das 15h22 (horário de Brasília), o S&P 500 subia 0,38%, o Nasdaq avançava 0,72% e o Dow Jones tinha ganhos de 0,44%.

O Ibovespa, que caía cerca de 0,4% antes da decisão, reduziu as perdas e recuava 0,07%.

Novas projeções dos diretores do Fed - divulgadas após a reunião - de corte mais meio ponto percentual até o fim de 2024 nas duas reuniões restantes em 2024 levaram traders a precificar taxas mais baixas.

Os rendimentos dos títulos do Tesouro de dois anos caíram quatro pontos base, para 3,56%. Os operadores contratos futuros de juros aumentaram suas apostas em mais flexibilizações por parte do Fed. O dólar recuou frente a outras moedas. O ouro atingiu um recorde histórico.

Os diretores do Fed também projetaram um corte adicional de 1 ponto percentual em 2025, de acordo com sua previsão mediana.

“Ao avaliar a orientação adequada da política monetária, o Comitê continuará a monitorizar as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas”, disse o Fomc em comunicado.

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A maioria dos analistas, segundo a Bloomberg News, apostava que o Fomc reduziria as taxas em um quarto de ponto percentual, para uma faixa entre 5% e 5,25%, embora economistas do JPMorgan Chase (JPM) esperassem um movimento maior, de meio ponto percentual.

A diretora Michelle Bowman votou contra o corte de 50 pontos-base e defendeu uma redução menor de 0,25 ponto percentual. É a primeira dissidência no Fomc desde 2022.

Previsões atualizadas

Os diretores do Fed atualizaram as previsões econômicas trimestrais, elevando sua projeção mediana para o desemprego no final de 2024 para 4,4%, em comparação com a previsão de 4% feita em junho.

Isso representaria uma pequena deterioração em relação ao nível atual de 4,2%. Powell disse no mês passado que um esfriamento adicional no mercado de trabalho seria “indesejável”.

A previsão mediana para a inflação no final de 2024 caiu para 2,3%, enquanto a projeção mediana para o crescimento econômico foi reduzida para 2%. Os formuladores de políticas ainda não veem a inflação retornando à meta de 2% até 2026.

Os funcionários novamente elevaram sua projeção para a taxa dos fundos federais de longo prazo para 2,9%, em comparação com 2,8% anteriormente.

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Cenário econômico dos EUA

Uma série de dados divulgados nos últimos dias reforçou o argumento para os diretores do Fed realizarem o corte nesta quarta.

As vendas no varejo dos EUA subiram inesperadamente em agosto, impulsionadas por compras online que mascararam resultados mais mistos em outros comerciantes, segundo números publicados na terça-feira (17).

O valor das compras no varejo, não ajustado pela inflação, aumentou 0,1% após um ganho revisado de 1,1% em julho. Excluindo automóveis e postos de gasolina, as vendas avançaram pelo quarto mês consecutivo.

O relatório de empregos (payroll) do mês, por sua vez, ficou abaixo das previsões em agosto, após revisões para baixo nos dois meses anteriores. As folhas de pagamento não-agrícolas aumentaram em 142.000 no mês passado, deixando a média de três meses no nível mais baixo desde meados de 2020, conforme dados do Bureau of Labor Statistics divulgados na semana retrasada. A taxa de desemprego caiu para 4,2%, a primeira queda em cinco meses, refletindo uma reversão nas demissões temporárias.

Mas o cenário fica mais complicado para os próximos meses. O caminho de corte de taxas começa pouco antes do ex-presidente Donald Trump e da vice-presidente Kamala Harris se enfrentarem na eleição de novembro.

Os candidatos estão apresentando agendas econômicas marcadamente diferentes, embora ambos tenham o potencial de agitar os mercados globais, dependendo do resultado das votações no Congresso.

“O pouso suave é o cenário mais provável”, disse Salman Ahmed, chefe global de macroeconomia e alocação estratégica de ativos da Fidelity International, à Bloomberg News. Ele rebaixou sua classificação de ações dos EUA de “acima do peso” para “neutra” em parte devido aos riscos eleitorais. “Mas as eleições vão importar. Provavelmente é um ciclo único.”

-- Com informações da Bloomberg News. Atualizada às 15h33 para incluir mais detalhes da decisão.

Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.