Bloomberg — A temporada de resultados do segundo trimestre começou de forma animadora nos Estados Unidos, com impulso da força do consumidor sobre lucros corporativos resilientes.
No mercado de ações, no entanto, a reação tem sido relativamente tímida, um sinal preocupante de que grande parte das boas notícias já está precificada nas cotações, o que causa uma decepção no mercado.
O setor financeiro, que reportou números excepcionais nesta semana, falhou em impulsionar suas ações.
“O setor financeiro superou as expectativas de lucros do segundo trimestre com um beat rate de 94,4% até agora. Ainda assim, as ações tiveram reações moderadas, já que os investidores em grande parte anteciparam os resultados”, escreveram os estrategistas da Bloomberg Intelligence Gina Martin Adams e Michael Casper em nota na sexta-feira (18).
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O S&P 500 acumula alta de 7% neste ano e de 26% em relação ao momento mais baixo no começo de abril, logo após o anúncio das tarifas de Donald Trump. O Nasdaq Composite avançou cerca de 8% e 37% nas mesmas comparações.
Da mesma forma, a plataforma de streaming Netflix (NFLX) superou as projeções em todos os principais indicadores, e a United Airlines (UAL) se mostrou otimista sobre o aumento da demanda por viagens.
No entanto os investidores reagiram a esses números com indiferença.
A Netflix fechou a sexta-feira em queda de mais de 5%, apesar de seu desempenho sólido no trimestre.
“Com os valuations das ações nos níveis atuais, todas as boas notícias já estão refletidas nos preços de mercado”, disse Greg Taylor, diretor de investimentos da PenderFund Capital Management.
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Além disso, o mercado está penalizando resultados que não alcançam as expectativas — e na maior intensidade em quase três anos, segundo dados compilados pela Bloomberg Intelligence.
“A margem de erro é pequena aqui”, disse Michael Arone, estrategista-chefe de investimentos da State Street Investment Management. “Com os valuations elevados, se você erra, a punição é mais severa.”
Por outro lado, as superações conjuntas de lucro e receita recebem a maior recompensa em um ano.
“No nível do índice, bons lucros provavelmente não são o catalisador amplo de mercado que os investidores estão esperando”, disse Julian Emanuel, estrategista-chefe de ações e quantitativo da Evercore ISI.
O S&P 500 fechou próximo de máxima histórica na sexta-feira (18), após registrar sete novos recordes em apenas 15 sessões.
O índice referência de ações tem sido negociado a 22 vezes os lucros previstos para os próximos 12 meses, aproximando-se rapidamente do nível atingido em fevereiro, ou seja, antes de 2 de abril, quando Trump anunciou a rodada de tarifas globais que pesaram sobre o mercado.
Na próxima semana, os investidores receberão os resultados de gigantes de tecnologia como Alphabet (GOOG), dona do Google, e Tesla (TSLA); a gigante industrial Honeywell International (HON); a fabricante de produtos químicos Dow (DOW); as fornecedoras de defesa Lockheed Martin (LMT) e Northrop Grumman (NOC); e a montadora General Motors (GM), entre muitas outras.
Bancos têm ganhos
Os grandes bancos apresentaram resultados impressionantes com receitas recordes de trading, impulsionadas pela volatilidade gerada pela ofensiva tarifária de Trump, que aumentou a atividade do mercado nas maiores empresas de Wall Street. Ainda assim, os movimentos das ações foram decepcionantes.
Os traders de ações do Goldman Sachs (GS) registraram a maior receita da história de Wall Street, mas as ações da empresa subiram menos de 1% no dia em que divulgaram os lucros.
A receita líquida da Morgan Stanley (MS) superou as expectativas, mas as ações fecharam em queda de 1,3%.
Já os traders de ações da JPMorgan Chase (JPM) tiveram seu melhor segundo trimestre de todos os tempos, enquanto as operações de renda fixa superaram as perspectivas, mas as ações caíram 0,7%.
Ainda assim, especialistas do mercado notaram que os fortes lucros dos bancos são um encorajador indicativo da saúde econômica geral.
“Os bancos só podem estar saudáveis quando a economia está forte”, disse Mark Malek, diretor de investimentos da Siebert. “Portanto, seus lucros, juntamente com seus comentários, servem como um indicador mais amplo da saúde econômica.”
Consumidor continua resiliente
A resiliência do consumidor americano tem sido uma questão central para investidores e economistas, especialmente diante da inflação ainda alta, das taxas de juros elevadas e da contínua incerteza sobre o novo regime comercial dos Estados Unidos.
Os sinais iniciais são encorajadores, com os lucros de empresas como PepsiCo (PEP), Netflix e a fabricante de jeans Levi Strauss (LEVI) em destaque.
“O consumidor continua forte”, afirmou Malek. “Isso é essencial.”
As viagens nos Estados Unidos estão se recuperando com a aprovação do pacote de cortes de impostos e gastos de Trump, e os negociadores parecem alcançar progresso nas discussões tarifárias, disse Ed Bastian, CEO da Delta Air Lines (DAL).
O negócio norte-americano da PepsiCo mostrou melhorias significativas e houve um forte crescimento em mercados internacionais.
A Netflix elevou sua previsão de lucros para o ano, e a Levi Strauss afirmou que espera que o crescimento das vendas compense o impacto das tarifas de Trump.
Os números das vendas no varejo em junho, divulgados na quinta-feira (17), ofereceram provas dessa força contínua.
Os dados do Departamento de Comércio mostraram que o valor das compras no varejo, ajustado pela inflação, aumentou 0,6% após quedas nos dois meses anteriores, superando quase todas as estimativas em uma pesquisa da Bloomberg com economistas - o consenso apontava para alta de 0,2%.
“Até agora, os lucros têm recebido um sinal positivo”, disse Malek. “Embora uma grande ruptura impulsionada por tarifas ainda possa aparecer, isso ainda não aconteceu.”
As ações da PepsiCo e da Delta foram os grandes destaques positivos neste trimestre, trazendo ganhos significativos após resultados sólidos.
Ambas estavam perdendo para o mercado mais amplo significativamente neste ano antes da divulgação dos números.
Olhos no futuro
Com tantas incertezas que ainda pairam — especialmente em relação às tarifas, ao crescimento econômico, à inflação e ao plano de cortes de juros do Federal Reserve —, as perspectivas corporativas desempenharão um papel importante na modelagem da confiança dos investidores daqui para frente.
“A maior questão para os lucros do S&P 500 é sobre quem arcará com os custos das tarifas”, disse Dec Mullarkey, managing director da Sun Life Investment Management.
As expectativas de lucros do segundo trimestre para o S&P 500 foram drasticamente reduzidas neste ano, com analistas projetando um aumento de 3,3% em relação ao ano anterior no fechamento de sexta-feira (18), em comparação com o crescimento de 9,5% esperado no início do ano.
“A barra está baixa”, disse Irene Tunkel, estrategista-chefe de ações para os Estados Unidos da BCA Research.
“As empresas provavelmente superarão esse patamar, mas isso não é mais suficiente. Com os valuations esticados, os investidores querem guidances fortes, e os resultados abaixo do esperado serão punidos rapidamente.”
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